Tudo ia bem na vida de Carolina Campos de Oliveira. Como única gestora de uma empresa de consultoria internacional, estava desfrutando do que sempre sonhou: independência financeira, liberdade pessoal e reconhecimento profissional. Ia tudo muito, mu...
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Terminei de ferver a água, peguei o pote de café e despejei quatro colheres. Você se acostuma, disse a Dra. Bárbara. Após mexer e provar, acrescentei outras duas. Ainda horrível. Leite em pó! Só assim para tomar essa porcaria descafeinada. Pousei a colher no pires e fiquei na ponta dos pés para alcançar a lata. Onde estava com a cabeça quando concordei com um armário em cima da pia? Como se os meus 1,65 de altura fossem fazer um bom uso do espaço, pensei.
Ao baixar a lata, bati na borda da xícara. Droga! A mancha escura correndo pela roupa, a poça se formando aos meus pés. Poderia ter alcançado rapidamente o pano ao meu lado e feito uma barreira para o líquido parar de escorrer; ou ter afastado a camisa antes que a pele começasse a arder. Apenas continuei piscando. Os olhos fixos na sujeira do chão aprisionando todo o ar...
O toque insistente do celular me trouxe para a realidade. Ligação do escritório a essa hora? Com certeza não era bom sinal. Apoiei o aparelho no ombro enquanto jogava o pano no chão e voltava para o quarto.
― Oi! Pode falar. Tá bom, pode alterar o horário. Sem problema, eu dou um jeito. Tenta transferir a reunião das 11:00 para a tarde. Se concordarem, pode liberar esse horário para ele. OK. Meia hora e estarei aí. Até!
O trabalho nem começou e eu já estava pegando birra do cliente. Era a terceira ou a quarta vez que pediam uma mudança de agenda? E ainda nem assinaram o contrato! Isso não era um bom sinal. Não mesmo. No auge da minha maturidade imitei a voz da Amanda:
― Ai, Carolinaaa. Quebra essa, vai? O coitadinho vem de tãaao longe. Você bem que podia ter um pouco de consideração, né? ― Sei. Ela quer é ver o bonitão de novo, isso sim!
Amanda era uma excelente funcionária, mas não podia ver um homem bonito que saía distribuindo exceções e... outras coisinhas mais.
Estava rezando para esse cliente, o tal de César, ser mais do que um rostinho bonito. Mas... pelo visto, me enganei. Alertei sobre o 'timing' para começarmos o serviço. Mas, me ouviu? Claro que não. Ficou usando o irmão como desculpa para enrolar a gente. Quer apostar que agora vai querer fechar o contrato com o valor do ano passado? Ah, mas não vai mesmo!
Terminando de me limpar com a toalha de mão, encarei meu corpo no espelho. Puxei as alças do sutiã para ver se levantava um pouco mais os seios. Não que estivessem muito caídos. Ainda não. Mas, não são mais aquela Brastemp dos 20 e poucos anos...
― E nem fiz muito uso deles. Que desperdício...
As mudanças gritantes estavam por toda a parte. Linhas de expressão, pochete onde era barriga lisa, curvas não tão mais sensuais. Merda! Apaguei a luz rápido para bloquear o ritual de autocomiseração, saí do banheiro e abri o armário. Escolhi uma camisa de seda creme com gola esvoaçante.
― Calça... preta, preta ou preta? Bom, vai esta preta mesmo. Sapatos nude, batom marrom e... Pronta para pisar em alguns ovos.