― Fazer xixi. Preciso fazer xixi.
João conteve a risada, não queria deixá-la mais nervosa.
― É sério!
Pelo visto, não se esforçou o suficiente. Então, procurou entre as fileiras de produtos empoeirados e voltou com uma tigela de cerâmica.
― Isso deve resolver seu problema. ― Ao invés de um agradecimento aliviado, João recebeu um olhar medonho. ― Ué, você disse que precisava fazer xixi.
― Para você se mexer e dar um jeito de tirar a gente daqui! ― A voz de Carolina era uma zona cinza entre o falar enfático e o grito histérico. Inquieta, o salto ecoava suas passadas enquanto esfregava as mãos.
Não fazia ideia de como acalmá-la, então, ia ajudar como pudesse.
― Olha, por mais que eu queira, não tem como. ― Colocou a tigela nas mãos dela e foi vasculhar as caixas. Viu uma manta por ali. Se achasse, eles poderiam descansar até alguém resolver procurá-los.
João jamais admitiria ter ouvido de seu médico, mas resolveu explicar sua preocupação. ― Li em algum lugar que, após certa idade, se você segurar o xixi, pode ter uma...
Por sorte, desviou em tempo. A tigela passou voando por sua cabeça, estilhaçando na parede atrás dele.
― Você tá louca? ― Gritou, olhando entre os cacos e a mulher descontrolada. Carolina o encarava como se pudesse pulverizá-lo só com o pensamento.
Ao vê-la tateando a prateleira e pegando a xícara da nova coleção, voou em sua direção e segurou a mão ainda no ar.
― Primeiro, velha. Agora, louca. O que mais, hein?
Soltando um dedo por vez, ele tentou resgatar a peça premiada sem machucar a mão da gata raivosa. Colocou a xícara no topo da prateleira com a mão direita, enquanto a esquerda segurava o pulso trêmulo e delicado.
Ao olhar para baixo, um mar verde o encarava, brilhando de raiva e... algo mais. Mar, não. Fitou as três pintas do olho esquerdo. Uma campina exuberante. Isolada do mundo...
Carolina abaixou a cabeça. Com os ombros caídos, disse em um quase sussurro:
― Eu não sou louca. E ter trinta e oito anos não me torna uma velha.
A fragilidade em sua voz era evidente. O suficiente para ele lembrar de seu tamanho, soltá-la lentamente e dar um passo para trás. Mesmo com seu corpo implorando pelo contrário...
― Eu não quis te ofender. Sério. Foi automático, você quase me... Espera aí! Quem te chamou de velha?
Com uma risada debochada, a loira alisou a calça e umedeceu os lábios.
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Um amor de Cliche
RomanceTudo ia bem na vida de Carolina Campos de Oliveira. Como única gestora de uma empresa de consultoria internacional, estava desfrutando do que sempre sonhou: independência financeira, liberdade pessoal e reconhecimento profissional. Ia tudo muito, mu...