Sentado na cadeira "presidente" de couro puído, João olhava fixamente para as coleções premiadas do seu avô. Não havia mexido em nada ao assumir seu escritório. Amava cada detalhe ali, ou seria a sensação de tê-lo prestes a chegar?
Na mesa, pastas jogadas sobre pilhas de papéis e xícaras de café revelavam seu caos interior.
― Até que enfim! ― Camilo entrou tirando seu sobretudo e despencando no sofá com uma expiração pesada.
Dividido entre xingar ou voltar para casa, João esfregou o rosto para tentar focar no trabalho. Não estava com humor para aguentar ninguém, muito menos um sujeito pedante e controlador. Só queria a loura do seu lado, mas ainda não sabia o que falar ou como agir quando a encontrasse.
― Bom dia para você também.
― Corta essa de bom dia. Não saio daqui sem esses documentos assinados.
― Qual deles? ― João pegou as pastas e leu cada nota adesiva ― "Urgente", "Trabalhamos com prazo, sabia?", ou "Assina logo, porra!"?
― Todos. Te mandei por e-mail, mas eu morreria antes de você perceber. Vai, faça meu dia feliz. É só ler e assinar.
Vendo João abrir a primeira pasta, Camilo reparou nas olheiras profundas. Mas, tinha algo de diferente...
― Você fez a barba.
― Hmhum.
― Desembucha. Depois das suas crises espirituais, ou seja lá o que faz naquele muquifo, você sempre volta parecendo um trapo. Uma carcaça desnutrida e fodi...
― Já entendi.
― Também demorou menos. Pra ser sincero, esperava te ver só na próxima semana.
― Eu... ― João limpou a garganta, tentando não soar brega. ― Tive uma inspiração.
Após testemunhar um momento tão íntimo de Carolina na sexta-feira, João só queria abraçá-la forte e mimá-la durante todo o fim de semana. Mas, desistiu ao se lembrar de como odiava a possibilidade de ser pego chorando.
Não posso contar que a vi. Ela é forte e orgulhosa, não vai querer parecer fraca na frente de ninguém. Além disso, ainda não confia em mim. Nem quer assumir que estamos juntos. Porra de mulher complicada!
Lembrou-se da boca entreaberta, das bochechas rosadas e olhos cerrados. De como seus dedos deslizaram pelas curvas suaves daquela pele clara e macia. Do quanto lambeu e beijou cada uma das 16 pintas do seu corpo. A bunda pequena perfeitamente encaixada nas suas mãos. Sua boca quente e sedenta o levando ao céu...
Inferno. Sequer podia pensar naquela peste sem ter uma ereção. E isso o frustrava ainda mais. De que adiantava ter tanta sintonia entre seus corpos, se havia um abismo entre suas almas?
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Um amor de Cliche
Lãng mạnTudo ia bem na vida de Carolina Campos de Oliveira. Como única gestora de uma empresa de consultoria internacional, estava desfrutando do que sempre sonhou: independência financeira, liberdade pessoal e reconhecimento profissional. Ia tudo muito, mu...