Estiquei os braços acima da cabeça para reduzir a tensão nos ombros. Já tinha escurecido, mas precisava resolver as demandas da equipe 02 ainda hoje. Olhei ao redor em busca de inspiração. A sala, tão prometida por César, era um cubículo de 2,5 por 2,0 metros. Apesar disso, gostei logo de cara. Era toda branca, vedava bem o som da fábrica e a grande janela ao fundo tinha vista para a mata. Uma pena eu trabalhar de costas para ela.
Havia uma única mesa de madeira em bom estado, uma cadeira confortável para mim e outras duas desgastadas no lado oposto. Um arquivo vazio no canto esquerdo da porta era antigo, mas funcional. Eu usava a gaveta do meio para guardar minha bolsa. Sobre ele, um vaso muito bonito, num tom vinho escuro com formatos geométricos riscados em branco. A planta tinha uma folhagem verde, com folhas compridas parecendo corações esticados. Copo de leite? Fosse o que fosse, era para lá que meus olhos iam quando eu precisava pensar.
Quando estava quase finalizando o e-mail para a líder de equipe, ouvi uma batida na porta já aberta. Surpresa, vi um João de braços cruzados, apoiado no batente. Não querendo reparar em como ele conseguia ocupar quase todo o espaço da moldura, mandei meus olhos de volta para a tela murmurando um "entre".
― Está tarde. ― Disse com uma voz baixa e grave. Como continuou no mesmo lugar, olhei para ele e inclinei a cabeça. O que quer dizer com isso? Ah!
― Já está fechando? ― Comecei a arrumar os papéis enquanto falava ― Posso terminar na pou...
― Não. Pode ficar, o Sebastião está por aqui.
Pela forma como falou, deduzi ser o vigia noturno e acenei com a cabeça. Então, o quê? Veio anunciar como ficou até tarde? Se bobear, é a primeira hora extra da sua vida, não?
― Quer um café?
Levantei-me mais rápido do que gostaria, fechando o notebook no processo. Me perdoe, Dr.ᵃ Bárbara, mas este não é o momento para controlar a cafeína!
João seguiu direto para uma saleta entre os escritórios e a sala de reuniões. Da entrada, via-se apenas uma bancada da largura da parede. Ela sustentava um filtro de água, uma cafeteira Dolce Gusto, uma cesta com as cápsulas de café e três potes de vidro com petiscos. Feitos pela Cidinha, certeza. Abaixo, um frigobar e duas banquetas.
Ao constatar tudo vazio e silencioso, entrei na copa, mas parei ao lado da porta para manter certa distância. Na parede lateral, tinha uma pia pequena, um escorredor de louças e um armário logo acima, provavelmente com utensílios de cozinha. Esfreguei as mãos para evitar o impulso de lavá-las.
Talvez tenha percebido meu incômodo, ou não. Mas, puxou uma das banquetas e a posicionou onde eu estava, próxima à porta. Rapidamente a máquina começou a funcionar. Nossa, nem me perguntou qual quero... No mesmo instante, João se virou com uma cápsula "café intenso" na mão esquerda e duas na direita. "Café com avelã" e "Café com caramelo". Apontei para a mão esquerda. Ele retirou sua xícara e colocou a escolhida na máquina. Se é para chutar o pau da barraca, vamos com gosto, não é verdade?
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Um amor de Cliche
Roman d'amourTudo ia bem na vida de Carolina Campos de Oliveira. Como única gestora de uma empresa de consultoria internacional, estava desfrutando do que sempre sonhou: independência financeira, liberdade pessoal e reconhecimento profissional. Ia tudo muito, mu...