Dilemas

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          Fantasmas não sentem o toque da mesma forma que pessoas vivas. Eles não podem sentir cheiros, não têm sensações de calor ou frio e não conseguem sentir o toque de outra pessoa...

         Mas entre os dois detetives mortos, essas regras implícitas simplesmente não se aplicavam.

          Eles sentiam uma sensação de calor queimando dentro de si quando estavam próximos um do outro, mais do que o necessário. A interação entre eles parecia inflamar ainda mais esse fogo, especialmente depois do momento que compartilharam no quarto. Certamente, não estavam nada felizes com a interrupção de Niko.

          E Charles, com certeza, não estava nada feliz em ver seu melhor amigo saindo com outro. Ele estava consumido pelo ciúme, fixando-se intensamente na janela com uma expressão de raiva cravada em seu rosto. Seu olhar era penetrante, refletindo toda a fúria que queimava dentro dele. As sobrancelhas franzidas denunciavam sua irritação, enquanto seu olhar ameaçador parecia perfurar o próprio vidro, incapaz de passar despercebido.

          — Vai ficar aí como um psicopata esperando o Edwin voltar? – Crystal pergunta enquanto se espreguiça na cama, observando o amigo fantasma.

          — Eu não estou agindo assim. – Ele responde seco, e a garota revira os olhos com desdém.

          — Vem cá, senta aqui. – Ela suavemente bate duas vezes em um lugar ao seu lado na cama, e ele aceita, sentando-se ao seu lado. — Olha, não adianta ficar com ciúmes assim. Você sabe que o Edwin gosta de você.

          — O-o quê?

          Rowland quase falha na voz. “O que Crystal quer dizer com isso? Será que ela sabe sobre os sentimentos de nós dois?”, pensou.

          — Vocês são melhores amigos, mano! Você não vai ser trocado assim!

          Ele solta um suspiro aliviado, sentindo como se um peso tivesse sido retirado de seus ombros. Não era o que ele estava temendo, e ele sabia que era melhor Crystal pensar que era apenas ciúmes de amizade. Afinal, é algo tão novo para ele que seria difícil admitir para a garota que ele achava que gostava, e com quem até beijou, que está apaixonado pelo melhor amigo.

          Esse sentimento é novidade para o fantasma. Ele só consegue perceber isso após os encontros de Edwin e Monty e após ficar junto de Crystal. O tempo que passaram juntos apenas serviu para jogar luz sobre seus sentimentos, revelando que estava, sim, apaixonado pelo seu melhor amigo. Era como se, desde o começo, seu coração estivesse clamando por Edwin, mas só agora ele estava consciente disso.

          Ele olha para a garota, um sorriso tímido se formando em seus lábios, espelhando o dela.

          — Como você está esses dias? Seu ex babaca ainda está sendo um babaca?

          Ela assente, desviando o olhar pela cama.

          — Sim, mas eu tenho você, uma distração fofa. – Ela sorri e entrelaça as mãos de ambos, mas o sorriso do garoto diminui consideravelmente.

          — Eu... Falando nisso...

          Charles não sabia como abordar esse assunto delicado. Eles já haviam estabelecido limites, escolhido dar um tempo, e foi exatamente nesse período que Charles se deu conta de seus verdadeiros sentimentos. E embora Crystal o surpreendesse às vezes com beijos inesperados e uma proximidade calorosa, agora Rowland não estava mais confortável com isso. Afinal, ele já aceitara que estava apaixonado por outro.

          — Eu quero acabar com isso, Crystal.

          Ele diz com seriedade, evitando completamente o olhar da garota.

𝙎𝙚𝙣𝙨𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨「Garotos Detetives Mortos」Onde histórias criam vida. Descubra agora