III.Nina Carmezim

16 3 5
                                    

 Nos dias que seguiram, Allan permaneceu em alerta constante. A presença de Izack em sua vida tornara-se uma sombra opressiva, e ele não sabia mais em quem confiar. Foi nesse contexto de tensão crescente que uma nova figura entrou em cena: Nina Carmezim.

Era uma manhã fria quando Allan a viu pela primeira vez. Ele estava no parque, tentando escapar das constantes investidas de Izack, quando notou uma garota de cabelos castanhos intensos sentada em um banco, lendo um livro. Ela usava um casaco preto que contrastava vividamente com sua cabeleira, e seus olhos, de um marrom profundo, observavam o mundo com uma calma que intrigava Allan.

Allan se aproximou lentamente, atraído pela figura enigmática.

— Oi — ele disse, hesitante.

Nina levantou os olhos do livro e sorriu, um sorriso caloroso que o fez se sentir mais à vontade.

— Oi — respondeu ela, fechando o livro. — Você deve ser Allan, certo?

Allan ficou surpreso, sem saber como ela sabia seu nome.

— Sim, sou eu. Mas... como você sabe?

— Ah, eu conheço Izack — explicou Nina, colocando o livro de lado. — Nós nos conhecemos há algum tempo, antes de ele se mudar para cá.

Allan sentiu um misto de alívio e desconfiança. Se ela conhecia Izack, talvez pudesse ajudá-lo a entender o que estava acontecendo. Sentou-se ao lado dela, decidido a saber mais.

— Você também é nova na cidade? — perguntou Allan, tentando iniciar a conversa.

— Mais ou menos. Vim para cá recentemente, mas por razões diferentes das de Izack. Eu estava procurando por um lugar tranquilo para... pensar. — Ela fez uma pausa, observando Allan com um olhar penetrante. — Izack pode ser... intenso. Espero que ele não esteja te incomodando.

Allan hesitou, mas acabou decidindo confiar em Nina. Contou-lhe sobre os comportamentos estranhos de Izack, os desaparecimentos de objetos e a invasão assustadora em seu quarto.

Nina ouviu atentamente, sem interromper, e quando Allan terminou, seu rosto estava sério.

— Allan, você precisa ter cuidado com Izack. Ele... tem uma obsessão por controle. Já vi isso acontecer antes. Mas não se preocupe, eu posso ajudar.

— Como? — perguntou Allan, esperançoso.

— Primeiro, precisamos estabelecer algumas regras. Izack não pode saber que estamos conversando sobre ele. Vou te ensinar algumas técnicas para lidar com ele, e vou ficar de olho. — Ela sorriu de novo, um sorriso confiante que confortou Allan. — Juntos, podemos resolver isso.

Nos dias seguintes, Allan seguiu os conselhos de Nina. Ela o ensinou a ser mais assertivo e a estabelecer limites claros com Izack. Aos poucos, Allan começou a recuperar o controle sobre sua vida. Izack ainda aparecia, mas agora Allan estava preparado.

Uma noite, Nina apareceu na casa de Allan. Estava mais séria do que de costume, e Allan percebeu que algo estava diferente.

— O que houve? — perguntou ele, preocupado.

— Precisamos agir rápido — disse Nina, com firmeza. — Izack está planejando algo perigoso. Encontrei algumas coisas no quarto dele que me preocuparam. Ele está mais instável do que pensei.

Allan sentiu um calafrio. — O que devemos fazer?

— Vamos até a casa dele esta noite. Precisamos pegar essas evidências e, se possível, confrontá-lo juntos. Mas tem que ser cuidadoso. Ele é imprevisível.

A adrenalina tomou conta de Allan, mas ele sabia que não tinha escolha. Naquela noite, acompanhado por Nina, ele enfrentaria seus medos e a verdadeira natureza de Izack.

Quando chegaram à casa de Izack, Allan sentiu o coração acelerar. A casa estava silenciosa e sombria. Nina, com uma habilidade surpreendente, conseguiu abrir a porta sem fazer barulho.

Enquanto vasculhavam o quarto de Izack, encontraram uma série de cadernos e fotos que confirmavam os piores medos de Allan. Mas antes que pudessem sair, Izack apareceu na porta, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e desespero.

— Vocês não deviam estar aqui — disse ele, a voz baixa e ameaçadora.

Nina se posicionou entre Allan e Izack, pronta para protegê-lo. — Izack, isso precisa parar. Você está machucando as pessoas que diz se importar.

Izack deu um passo adiante, mas Allan, finalmente encontrando sua voz, falou com firmeza. — Não vou mais viver com medo, Izack. Isso termina agora.

Por um momento, pareceu que Izack ia atacar, mas Nina, com uma calma surpreendente, colocou a mão no ombro dele.

— Izack, você precisa de ajuda. Deixe-nos ajudar você.

O conflito naquele quarto era palpável, mas, surpreendentemente, Izack começou a recuar, lágrimas escorrendo por seu rosto. Talvez, finalmente, ele tivesse percebido o preço de sua obsessão...ou apenas sabia mentir muito bem.

Meu vizinho estranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora