XIII.tempestade

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Allan acordou, mas não estava no porão e sim num quarto, apenas com um dos braços algemados em uma cama.

— Mas que porra... — Allan reclamou, tentando retirar o braço da algema, mas falhando miseravelmente.

A porta abriu lentamente e Izack entrou no quarto com uma pilha de roupas.

— Bom dia, querido — disse Izack enquanto guardava as roupas no guarda-roupa. Ele percebeu o olhar confuso de Allan e explicou — Que foi? Decidi colocar você preso no meu quarto.

— Oxi, porra, do nada? Achei que tava no motel — reclamou Allan novamente.

— Tá reclamando muito. Tá querendo voltar pro porão?

— Sei lá, achei bem aleatório você do nada me libertar — confessou Allan.

Izack deu um meio sorriso e olhou para fora da janela. A previsão do tempo havia anunciado uma tempestade para aquela noite, e Izack não conseguia esconder completamente sua apreensão. Mas ele não confessaria seu medo para ninguém, muito menos para Allan.

A noite caiu e, como previsto, a tempestade começou a se formar. Allan estava dormindo quando ouviu a porta abrir novamente. Ele abriu os olhos lentamente e viu Izack entrando no quarto, a expressão no rosto do moreno era um misto de preocupação e algo que Allan não conseguia decifrar. Sem dizer uma palavra, Izack deitou ao lado de Allan, se aninhando junto a ele.

Allan ficou confuso, tentando entender o que estava acontecendo.

— Que porra é essa, Izack? — começou Allan, mas foi rapidamente interrompido.

— Cala a boca e fica quieto — ordenou Izack, a voz mais trêmula do que ele gostaria de admitir.

Allan ficou em silêncio, sentindo a proximidade de Izack e percebendo a tensão no corpo do outro. A tempestade lá fora começou a aumentar, trovões ecoando pelo quarto. Allan finalmente entendeu – Izack estava com medo.

— Ah, então é isso... — murmurou Allan para si mesmo, um sorriso irônico surgindo em seus lábios. — Tu tá com medo da tempestade.

Izack não respondeu, mas seu corpo se apertou ainda mais contra Allan. Sentindo a vulnerabilidade do outro, Allan decidiu não pressionar mais. Ele soltou um suspiro resignado e, mesmo com um braço algemado, conseguiu colocar a outra mão no ombro de Izack, oferecendo algum conforto.

— Tá bom, cara. Vou ficar quieto. Mas isso não muda o fato de que tu é um filho da puta — disse Allan, sua voz suavizando no final.

Izack não respondeu, mas relaxou um pouco ao sentir o toque de Allan. Eles ficaram assim, em silêncio, enquanto a tempestade rugia lá fora. Allan se pegou pensando em como a situação havia mudado – de inimigos mortais a algo que ele ainda não conseguia definir.

— Sabe, Izack, você poderia simplesmente ter dito que estava com medo — murmurou Allan, sua voz baixa o suficiente para que Izack quase não ouvisse.

— Cala a boca, Allan — respondeu Izack, mas havia um toque de gratidão em sua voz.

E assim, com a tempestade batendo contra a casa, Allan e Izack ficaram juntos, ambos encontrando um estranho consolo na presença um do outro.

Meu vizinho estranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora