VII.Laços de Escuridão

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Allan estava dividido entre o horror e a curiosidade enquanto observava Izack. Apesar da brutalidade de seus atos, havia algo na vulnerabilidade momentânea de Izack que mexia com ele. No entanto, a memória de Karen e a obsessão evidente de Izack pesavam mais.

— Izack, você precisa entender que o que fez é imperdoável. — Allan disse, tentando manter a calma, embora sua voz estivesse trêmula.

Izack levantou a cabeça, os olhos heterocromáticos fixos em Allan. — Você nunca entenderá, Allan. Tudo que fiz foi por nós. Karen não podia ficar entre nós.

Allan recuou, sentindo a raiva subir novamente. — Isso não é amor, Izack. É uma loucura doentia.

Izack riu, um som amargo que ecoou pela sala. — Você acha que pode me julgar? Acha que pode simplesmente se afastar e fingir que nada disso aconteceu? Estamos ligados, Allan, de uma forma que você nunca vai conseguir quebrar.

Allan sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — Eu vou embora. E vou chamar a polícia. Você precisa pagar pelo que fez.

Izack deu um passo à frente, mas Allan levantou a faca novamente, a lâmina brilhando sob a luz fraca da cozinha. — Não se aproxime, Izack. Eu não vou hesitar.

— Você não tem coragem de me matar, Allan. — Izack provocou, um sorriso perverso nos lábios. — Não depois de tudo que compartilhamos.

Allan se sentiu enojado. A percepção de que Izack via suas ações como um laço entre eles era insuportável. — Eu nunca vou ser como você, Izack. Nunca.

Com um movimento rápido, Allan empurrou Izack, que tropeçou e caiu no chão, gemendo de dor. Allan correu para a porta, seu coração batendo descontroladamente. Ele sabia que precisava sair dali antes que Izack pudesse se levantar e atacar novamente.

Ao chegar do lado de fora, o ar frio da noite bateu em seu rosto, trazendo uma momentânea sensação de alívio. Ele não olhou para trás,apenas sintiu a visão escurecer e cair no chão.
    Amorim acordou com a visão ainda turva amarrado numa cadeira,sua boca estava colada com uma fita preta possibilitando apenas murmurar,ele estava preso num lugar escuro e aparentemente isolado.
    A escuridão ao seu redor parecia opressiva, e o silêncio era quebrado apenas pelo som de gotas de água caindo em algum lugar distante. Allan tentou se lembrar do que havia acontecido, mas sua cabeça latejava e a memória estava confusa.

De repente, um rangido de porta ecoou pelo ambiente, e passos se aproximaram. Allan tentou mover-se, mas as amarras eram firmes. Uma luz fraca apareceu, revelando a silhueta de Izack.

— Vejo que acordou,docinho. — A voz de Izack era fria, desprovida de qualquer emoção.

Allan murmurou algo, mas a fita em sua boca abafava suas palavras. Izack se aproximou e retirou a fita com um movimento brusco, fazendo Allan gemer de dor.

— Viado,aonde eu tô? — Allan perguntou, sua voz rouca.

Izack se abaixou, ficando cara a cara com Allan. — Um lugar onde ninguém vai nos encontrar. Aqui, você não tem escapatória. E agora, vamos ter bastante tempo para conversar.

Allan sentiu um pânico crescente. — Izack, isso precisa parar. Você está doente. Precisa de ajuda.

Izack riu, mas desta vez, o som era mais contido, quase sussurrado. — Eu não estou doente, Allan. Estou lúcido. Mais lúcido do que jamais estive. Tudo que fiz foi para garantir que ficássemos juntos. Você vai entender, com o tempo.

— Eu nunca vou entender. — Allan disse, a voz firme apesar do medo. — O que você fez com Karen... e agora comigo... isso não é amor. É controle. É obsessão.

Izack se levantou e começou a andar pela sala, suas mãos gesticulando de maneira exagerada. — Você ainda não vê, mas verá. — Ele se virou abruptamente, os olhos heterocromáticos brilhando na penumbra. — Vai ver que tudo isso foi necessário.

Allan fechou os olhos, tentando controlar a respiração. Ele precisava pensar em uma maneira de sair dali. — Izack, me deixe ir. Podemos resolver isso de outra maneira.

Izack balançou a cabeça lentamente. — Não, Allan. Agora é tarde demais. Estamos ligados para sempre. E você vai aprender a aceitar isso.

A porta se abriu novamente, e outra figura entrou na sala. Era uma mulher, alta e magra, com olhos frios e avaliadores. Izack se aproximou dela e sussurrou algo em seu ouvido.

— Quem diabo é ela? — Allan perguntou, tentando manter a calma.

A mulher se aproximou, seus olhos fixos em Allan. — Eu sou alguém que entende Izack. Alguém que também acredita em seus ideais.

Allan olhou melhor a mulher e se assustou,era Nina.

Nina sorriu, um sorriso sem calor. — Oh Allan,você realmente achou que eu estava no seu lado?Ou você acha mesmo que eu trairia a confiança do meu melhor amigo?—Nina e Izack se olharam rindo sadicamente

Allan sentiu um nó se formar em seu estômago. Ele nunca desconfiou de Nina, sempre a considerou uma aliada confiável, alguém que compartilhava de sua aversão pelas ações de Izack. A traição era um golpe cruel.

— tonhona, por quê? — Allan perguntou, a voz embargada pela incredulidade e dor. — Como você pode estar do lado dele depois de tudo que ele fez?

Nina cruzou os braços e o encarou com um olhar frio. — Allan, você nunca entendeu a verdadeira profundidade dos sentimentos de Izack. Ele está disposto a tudo pelo que acredita, e eu respeito isso. Karen era um obstáculo, assim como você se tornou.

— Um obstáculo? — Allan repetiu, a raiva começando a se sobrepor ao medo. — Somos seres humanos, Nina. Isso não é um jogo. Vocês mataram uma pessoa inocente.

Izack se aproximou novamente, a expressão grave. — Allan, você ainda pensa de forma simplista. Karen era um sacrifício necessário para o nosso amor. E agora você também precisa entender o sacrifício.

— Eu nunca vou entender, — Allan disse com firmeza. — Vocês são monstros. Isso não é amor, é insanidade.

Nina deu um passo à frente, a expressão sombria. — Insanidade ou não, Allan, você está aqui agora. E vai aprender a viver sob nossas regras. Não há mais escapatória para você.

—Nossas regras?-Disse Izack indignado-Minhas regras!

—Tá viado,suas regras-Nina revirou os olhos.

—Assim eu espero-Murmurou Valadares.

  Allan sentiu o desespero aumentar, mas tentou manter a cabeça fria. Ele precisava pensar em uma maneira de sair dali, de alertar alguém sobre o que estava acontecendo. — Não importa o que vocês façam, — disse, sua voz tremendo de raiva, — a verdade sempre vem à tona. E vocês vão pagar por isso.

Izack sorriu de maneira perturbadora. — Talvez, mas até lá, teremos todo o tempo do mundo para nos entender melhor.

A porta se fechou novamente, trancando Allan na escuridão com um de seus captores,Izack. O peso da situação era esmagador, mas ele sabia que não podia desistir.

Meu vizinho estranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora