Quando tinha quinze anos, Enid teve a sensação de que estava ficando para trás. Todos da turma estavam saindo com alguém ou já tinham saído; falavam sobre beijos e, às vezes, sobre outras coisas mais. Parecia que todos eles estavam crescendo, menos ela.
Nunca havia sido beijada, e a verdade é que nunca se sentiu atraída o suficiente por alguém para desejar que suas bocas se enroscassem. Mas se fosse esperar até desejar alguém para fazer isso, talvez nunca o fizesse.
Foi esse o motivo que fez com que Enid permitisse que o seu primeiro beijo fosse com um estranho na varanda da casa de Yoko.
Ela ainda lembrava de manter os olhos fechados apenas desejando que aquilo acabasse logo.
Imaginou que aquela sensação não se repetiria. As amigas lhe prometeram que apenas o primeiro beijo era ruim. Mas sempre que beijava um cara, Enid mantia os olhos fechados, sempre desejando que aquilo não durasse muito.
Foram várias tentativas falhas, até que a garota conheceu Ajax.
Em todo tempo de amizade dos dois, ele nunca olhou para ela com segundas intenções, nunca tocou seduzi-la, nunca tentou beijá-la.
Enid gostava disso. Gostava da sensação de passar horas com ele sem se preocupar com nada a não ser aproveitar o momento. Gostava de sair com ele durante a noite, de seus abraços apertados, da sensação de segurança que ele lhe causava.
Gostava dele.
De todos os garotos com quem Enid se relacionou durante todo esse tempo, Ajax era o único com quem ela havia cogitado ter algo a mais que amizade.
Ela nunca tomou coragem de declarar seus sentimentos. Nunca havia precisado contar nada disso.
Pelo menos, não até vê-lo entregando um bilhete para Wednesday justo no mês de outubro.
Só então que percebeu que iria perdê-lo. Iria perder Ajax por ser covarde. E foi por isso que chegou em casa tão frustrada naquele dia.
Seu plano era simples: ela se jogaria na cama, enterraria a cabeça no travesseiro e gritaria de frustração até que alguma divindade ou ser do além sentisse pena dela e lhe desse coragem para se declarar para Ajax.
Mas a garota mal teve tempo de chegar em casa quando a senhora de cabelos brancos cruzou o seu caminho com um sorriso animado no rosto, os óculos no topo da cabeça.
— Nid! Que bom que você chegou, filha. Aconteceu algo terrível! — Pelo alívio que ela tinha no rosto com a chegada da neta, Enid presumiu que não era nada terrível o suficiente para que ela não conseguisse resolver. — Você viu minhas mensagens?
Mensagens?
Enid lembrava de ter visto alguns caracteres incoerentes e ter deduzido que a avó tinha dormido com o celular no rosto.
[10:04] Vovó Mary:
PÉ CIZO.A JU DÁ[10:05] Vovó Mary:
VS SBE. C DÊ MEU CU LO?[10:05] Vovó Mary:
MAN.DÁ DIO— Eu… não entendi — confessou, pisando na parte de trás de um dos tênis para tirá-lo.
— Eu perdi o meu óculos — a senhora lamentou. — Até pedi pra você mandar áudio.
Ah!
Então era isso que ela queria dizer com a última mensagem!
— Tá. Você lembra se usou eles ho… — Enid terminou de tirar os tênis e levantou o olhar para a avó, a ponto de começar uma sequência de perguntas investigativas para encontrar os óculos perdidos. Se deu conta de que não precisava de esforço algum quando viu a armação no topo da cabeça da senhora. Sentiu vontade de rir. — Acho que eles não foram muito longe.
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WRONG PERSON ⋆. wenclair
FanfictionEm sua última tentativa de conquistar o amor de Ajax, Enid recorre ao livro de feitiços de sua avó. No entanto, a garota perde o controle da situação quando percebe que é Wednesday Addams quem está aos seus pés; definitivamente a pessoa errada. Agor...