Averonias

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Sombras de Ébano: A Lenda das Averonias

A noite caía sobre o pequeno vilarejo de Alvorada, trazendo consigo um ar de mistério e expectativa. As crianças se reuniam ao redor da fogueira, olhos brilhando de curiosidade e um toque de medo. Era uma noite especial, pois o Velho Narrador havia chegado. Seu semblante era sereno, mas seus olhos guardavam um segredo sombrio, um conhecimento profundo das sombras e dos seres que nelas habitavam.

Com um sorriso enigmático, o Velho Narrador começou sua história. Sua voz era suave, mas carregava um peso antigo, como se cada palavra fosse esculpida com cuidado em um tempo imemorial.

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“Há muito tempo,” começou ele, “nos confins de uma floresta tão antiga quanto o mundo, viviam criaturas que poucos ousavam mencionar: as Averonias. Dizem que esses seres são as almas das crianças desaparecidas, transformadas em guardiãs das florestas, mas a verdade é muito mais sinistra.”

As crianças ao redor da fogueira se aproximaram mais, como se pudessem se proteger da escuridão apenas ficando mais perto umas das outras.

“Era uma vez,” continuou o Velho Narrador, “uma menina chamada Elvira. Ela era curiosa e valente, sempre em busca de aventuras nas profundezas da floresta. Seus pais a avisavam sobre os perigos que se escondiam entre as árvores, mas Elvira, teimosa e intrépida, não acreditava nas histórias que lhe contavam.”

“Uma noite,” ele prosseguiu, sua voz abaixando como o sussurro do vento, “Elvira decidiu seguir um caminho nunca antes explorado. A lua estava cheia e brilhante, iluminando seu caminho entre as árvores altas e sombrias. Ela caminhou até chegar a uma clareira, onde ouviu um som estranho, um sussurro suave que parecia vir do próprio vento.”

“Curiosa, Elvira seguiu o som até encontrar uma árvore antiga e retorcida. No tronco da árvore, algo brilhava – eram penas negras como a noite, tão escuras que absorviam a luz da lua. E então, ela os viu: dois olhos humanos brilhantes e inteligentes a observavam.”

As crianças prenderam a respiração, imaginando a cena. O Velho Narrador fez uma pausa, observando os rostos fascinados à sua volta.

“Esses olhos pertenciam a uma Averonia,” continuou ele, “uma criatura majestosa e terrível, com o corpo de uma coruja gigantesca e olhos que pareciam enxergar a alma de Elvira. A Averonia desceu suavemente do galho, suas garras afiadas refletindo a luz da lua. Elvira, hipnotizada pelo olhar da criatura, não conseguia se mover.”

“Então, a Averonia falou,” disse o Narrador, sua voz assumindo um tom sobrenatural. ‘Você invadiu o nosso domínio, pequena humana. Agora, deve provar que é digna de continuar sua jornada.’ Elvira, ainda que assustada, perguntou o que deveria fazer. A Averonia explicou que, para provar sua coragem e pureza, ela deveria encontrar o Coração da Floresta, um artefato lendário que garantiria proteção à floresta e a seus habitantes.”

“As crianças, presas ao suspense, ouviam atentamente enquanto o Velho Narrador descrevia a busca de Elvira. Ela enfrentou inúmeras provações: criaturas que sibilavam na escuridão, caminhos traiçoeiros que mudavam de direção e visões que testavam sua sanidade. Mas, guiada por sua determinação e um senso inato de justiça, Elvira finalmente encontrou o Coração da Floresta – uma pedra verdejante que pulsava com uma energia viva.”

“Com o artefato em mãos, Elvira retornou à clareira, onde a Averonia aguardava. Ao entregar o Coração da Floresta à criatura, algo extraordinário aconteceu. As penas da Averonia brilharam intensamente, e uma transformação ocorreu. A coruja se ergueu, revelando sua verdadeira forma – uma bela mulher de cabelos negros e olhos brilhantes, vestida em mantos feitos de folhas e flores.”

“A mulher sorriu para Elvira e disse: ‘Você provou ser digna, corajosa e pura de coração. De hoje em diante, você será a guardiã da floresta, assim como eu fui. As Averonias são as protetoras das almas perdidas, e agora, você faz parte de nossa história.’”

O Velho Narrador olhou ao redor, observando os rostos fascinados das crianças. “Elvira aceitou seu destino e viveu na floresta, protegendo-a e guiando os perdidos. Mas lembrem-se, crianças, a floresta guarda muitos segredos, e as Averonias estão sempre observando. Se algum dia vocês se encontrarem com um desses olhos brilhantes, saibam que devem provar seu valor, pois nem todos são destinados a retornar.”

As crianças ficaram em silêncio, absorvendo a história. A fogueira crepitava suavemente, lançando sombras dançantes nas faces ansiosas. O Velho Narrador se levantou, seu semblante se tornando mais sombrio à medida que a luz diminuía.

“Agora, é hora de descansar,” disse ele suavemente, “mas lembrem-se sempre das Averonias e dos segredos que a floresta esconde. Pois as sombras de ébano estão sempre à espreita, prontas para testar os corajosos e punir os imprudentes.”

Enquanto as crianças se dispersavam, indo para suas casas, o Velho Narrador observou, satisfeito.

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Assim, a lenda das Averonias e do Velho Narrador se entrelaçava com a vida das crianças de Alvorada, perpetuando o ciclo de medo e mistério nas sombras de ébano.

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Sombras de ÉbanoOnde histórias criam vida. Descubra agora