Sombras de Ébano

Olhos da Morte

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Sombras de Ébano: A Lenda dos Olhos da Morte

O crepúsculo envolvia o vilarejo de Vale das Sombras em uma manta de penumbra, enquanto o Velho Narrador, com sua presença sinistra e olhos brilhantes, se acomodava junto à fogueira crepitante. As crianças se agrupavam ao seu redor, ansiosas por mais uma de suas histórias assombrosas. Ele tossiu levemente, limpando a garganta, e começou a falar com sua voz rouca e hipnótica.

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“Há muito, muito tempo,” começou o Velho Narrador, “num vilarejo não muito diferente deste, existia uma lenda sobre um par de olhos amarelos, conhecidos como os Olhos da Morte. Esses olhos não eram comuns; eram amaldiçoados, dotados de poderes terríveis e um destino ainda mais cruel.”

As crianças se entreolhavam, já sentindo um arrepio correr por suas espinhas. O Velho Narrador continuou, observando atentamente suas reações.

“Os Olhos da Morte apareciam uma vez a cada cem anos, escolhendo um portador de forma aleatória. Ninguém sabia como ou por que eram escolhidos. Um dia, um jovem chamado Elias, que vivia em um vilarejo à beira de uma floresta sombria, se tornou o infeliz portador.”

“Elias era um rapaz comum, até o dia em que acordou com uma dor lancinante nos olhos. Quando se olhou no espelho, viu que seus olhos haviam se transformado em um amarelo brilhante, quase sobrenatural. A partir daquele momento, sua vida nunca mais seria a mesma.”

“Elias começou a sofrer de terríveis visões e pesadelos, sempre à beira da loucura. Via coisas que ninguém mais podia ver: sombras rastejantes, figuras espectrais e monstros invisíveis ao olhar comum. As dores de cabeça eram constantes, o sangue escorria de seus olhos sem aviso, e ele sentia uma presença maligna sempre ao seu redor.”

O Velho Narrador fez uma pausa, observando as crianças com um olhar profundo e intenso. Elas estavam presas à narrativa, assustadas mas incapazes de desviar o olhar.

“Mas a verdadeira maldição dos Olhos da Morte se revelava a cada lua cheia, precisamente às três da manhã. Nessa hora fatídica, Elias era tomado por uma força incontrolável, uma sede de sangue que o fazia cometer atos indescritíveis. Na primeira lua cheia após sua transformação, ele matou sua família inteira, sem memória do ato depois.”

“As notícias de sua maldição se espalharam pelo vilarejo, e os aldeões, temendo por suas vidas, o baniram para a floresta. Lá, ele viveu sozinho, isolado, cada vez mais consumido pela loucura e pelo terror dos atos que cometia sem querer. A cada lua cheia, às três da manhã, o massacre continuava, espalhando pavor pela região.”

“Elias tentou de todas as formas se livrar da maldição. Buscou ajuda de curandeiros, feiticeiros e até mesmo de entidades místicas da floresta, mas nada funcionou. Os Olhos da Morte eram implacáveis, uma sentença sem escapatória.”

“A história de Elias se tornou uma advertência. Dizem que até hoje, a cada cem anos, os Olhos da Morte escolhem um novo portador, repetindo o ciclo de terror e destruição. Ninguém sabe quem será o próximo, mas todos vivem com medo de acordar um dia com os olhos brilhando em um amarelo mortal.”

O Velho Narrador olhou ao redor, seus olhos penetrantes capturando o olhar de cada criança. “Então, lembrem-se, crianças,” disse ele em um sussurro rouco, “quando a lua cheia subir ao céu e o relógio marcar três da manhã, rezem para que os Olhos da Morte nunca escolham vocês.”

Ele se levantou lentamente, a fogueira lançando sombras dançantes em seu rosto. As crianças, agora pálidas e trêmulas, sentiam o peso do terror em seus corações. O Velho Narrador sorriu levemente, um sorriso que não trouxe conforto, mas sim um presságio de algo sombrio e inevitável.

“E assim,” concluiu ele, “a história dos Olhos da Morte continua, um eco do passado e um aviso para o futuro. Boa noite, crianças. Durmam bem.”

Enquanto ele se afastava, as chamas da fogueira crepitavam mais intensamente por um momento, lançando uma última rajada de luz antes de se aquietarem, deixando o vilarejo mergulhado em uma escuridão inquietante.

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Assim, a lenda dos Olhos da Morte e do Velho Narrador se entrelaçava com a vida das crianças de Vale das Sombras, perpetuando o ciclo de medo e mistério nas sombras de ébano.

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