Luxombras

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Sombras de Ébano: A Lenda das Luxombras

A lua cheia brilhava intensamente sobre o vilarejo de Sombra Dourada, iluminando a praça central onde as crianças se reuniam em torno de uma grande fogueira. Havia um ar de expectativa e mistério, pois o Velho Narrador estava entre eles, pronto para compartilhar outra de suas histórias sombrias e cativantes. Sua presença, ao mesmo tempo reconfortante e assustadora, trazia um misto de fascínio e medo.

Com um olhar profundo e enigmático, o Velho Narrador iniciou sua história, a chama da fogueira refletindo em seus olhos, dando-lhes um brilho quase sobrenatural.

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“Há muito tempo,” começou ele, “em uma época que poucos se lembram, vivia em uma cidade antiga uma jovem chamada Lucia. Ela era conhecida por sua curiosidade insaciável e coragem inabalável. Um dia, enquanto explorava os becos estreitos e sombrios da cidade, ela ouviu murmúrios estranhos vindos das sombras.”

As crianças ao redor da fogueira se aproximaram mais, como se o calor do fogo pudesse protegê-las do frio da noite e das palavras do Velho Narrador.

“Lucia decidiu seguir os murmúrios," continuou ele, "embora soubesse que isso poderia ser perigoso. Os sussurros pareciam chamar por ela, prometendo segredos e revelações. Conforme avançava, as sombras ao seu redor pareciam ganhar vida, movendo-se de maneira antinatural.”

“Foi então que ela os viu,” disse o Narrador, sua voz diminuindo até quase um sussurro. “Os Luxombras. Criaturas feitas de pura escuridão, com formas que mudavam constantemente. Elas podiam assumir a aparência de qualquer pessoa que observassem por mais de um minuto, tornando-se quase indistinguíveis de seus modelos humanos. Mas ao contrário dos humanos, elas eram invisíveis sob a luz direta, revelando sua verdadeira forma apenas através das sombras que projetavam.”

“Lucia, determinada a entender mais sobre essas criaturas, decidiu ficar e observar. Escondeu-se na penumbra, sua respiração leve e seus olhos atentos. Ela viu uma Luxombra seguir um homem pela rua, seus movimentos perfeitamente sincronizados com os dele. Após um minuto, a criatura assumiu a aparência do homem e o arrastou para a escuridão, desaparecendo com ele.”

As crianças prenderam a respiração, imaginando a cena. O Velho Narrador fez uma pausa, deixando o suspense pairar no ar antes de continuar.

“Lucia sabia que estava diante de algo muito perigoso, mas sua curiosidade a impelia a aprender mais. Ela começou a investigar, falando com anciãos e estudando antigos textos. Descobriu que os Luxombras não eram apenas sombras vivas, mas parasitas que se alimentavam da energia vital dos humanos, substituindo-os e vivendo entre nós para satisfazer sua fome insaciável.”

“Uma noite,” prosseguiu o Narrador, “Lucia decidiu confrontar uma Luxombra. Armou-se com uma lâmpada a óleo e esperou no beco onde vira a criatura pela primeira vez. Quando a Luxombra apareceu, Lucia acendeu a lâmpada, lançando uma luz brilhante sobre a criatura. A Luxombra tentou fugir, mas a luz revelava sua verdadeira forma grotesca – uma figura amorfa e escura, com olhos vazios e mãos longas e esqueléticas.”

As crianças se apertaram mais, aterrorizadas, mas incapazes de desviar os olhos do Velho Narrador.

“Lucia, com coragem e determinação, enfrentou a criatura,” continuou ele. “Ela sabia que as Luxombras não podiam sobreviver sob a luz constante. A luta foi intensa, mas Lucia conseguiu manter a lâmpada acesa, forçando a Luxombra a recuar até se dissolver na sombra mais profunda, desaparecendo para sempre.”

“Mas a história não termina aqui,” disse o Velho Narrador, sua voz grave. “Embora Lucia tenha derrotado uma Luxombra, ela sabia que muitas outras ainda espreitavam nas sombras, aguardando a oportunidade de atacar. Ela dedicou sua vida a caçá-las, tornando-se uma guardiã contra as trevas. Mas as Luxombras são astutas e pacientes, e a batalha contra elas continua até hoje.”

O Velho Narrador olhou ao redor, observando os rostos fascinados das crianças. “Então, lembrem-se sempre, crianças,” disse ele, “se virem uma sombra que parece se mover de forma estranha, ou se alguém que conhecem começar a agir de maneira diferente, pode ser que uma Luxombra esteja por perto. Nunca se esqueçam de manter uma luz por perto, pois nas sombras, os Luxombras aguardam sua próxima vítima.”

As crianças ficaram em silêncio, absorvendo a história. A fogueira crepitava suavemente, lançando sombras dançantes nas faces ansiosas. O Velho Narrador se levantou, seu semblante se tornando mais sombrio à medida que a luz diminuía.

“Agora, é hora de descansar,” disse ele suavemente, ”mas lembrem-se sempre das Luxombras e das sombras traiçoeiras que podem estar ao seu redor. Pois nas sombras de ébano, os Luxombras espreitam, prontos para substituir os incautos e saciar sua fome insaciável.”

Enquanto as crianças se dispersavam, indo para suas casas, o Velho Narrador observou, satisfeito.

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Assim, a lenda das Luxombras e do Velho Narrador se entrelaçava com a vida das crianças de Sombra Dourada, perpetuando o ciclo de medo e mistério nas sombras de ébano.

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Sombras de ÉbanoOnde histórias criam vida. Descubra agora