A cada passo que dava, Juliana sentia que as suas pernas não a iam suportar, tremiam demais e tinha medo de pisar em falso num dos degraus e cair de cara no chão, ou pior ainda, que um dos seus saltos quebrasse. Se agarrou ao braço de Lúcia para se equilibrar que também estava nervosa, mas sobretudo feliz.
Enquanto se encontrava com o homem de sorriso franco e cabelo ralo, agia com naturalidade, mas assim que saiu do escritório era como se saísse de um transe em que se mantinha para levar o fim do negócio com estoicismo. Quando Leon Carvajal lhe disse que conhecia alguém no teatro que a poderia ajudar, ela nunca pensou que o homem que conhecia era o próprio Jed Bernstein, o presidente do Lincoln Center.
Pararam um táxi na Columbus Avenue para as levar de volta à boutique, precisava fazer a transferência bancária o mais depressa possível para pagar o valor do teatro The Stage, onde se realizava o FSWN, e agora teria o teatro só para a sua coleção. Podia convidar cerca de oitocentas pessoas, das quais não tinha nem metade.
Entraram no carro e Juliana deu o endereço ao homem, mal controlando o sorriso de felicidade que a invadia.
"Lúcia, está se sentindo bem?" - Perguntou Juliana ao ver o rosto da amiga empalidecer e a expressão de felicidade no rosto desvanecer-se para uma expressão de preocupação.
"Sim." - Disse a meio de uma respiração profunda. - "Só fiquei um pouco tonta, mas só dura uns segundos".
"Oh Lúcia, podemos ir ao médico antes de passarmos pela boutique." - Ela diz ao tocar em sua testa.
"Não é preciso Juli, eu estou bem... é normal, porque logo será a minha consulta e não vou deixar de estar grávida." - Lhe diz ao fechar os olhos com um sorriso.
"Como é que se sente?" - Perguntou baixinho e com medo.
"Estar grávida? - Respondeu à pergunta de Juliana com uma pergunta. E abriu os olhos.
"Sim, o que é que se sente quando se está grávida?" - Repetiu, olhando para os olhos de Lúcia, que mal tinham vestígios do sangue coagulado.
"Nada, é tudo normal."
"Sim, claro", solta uma gargalhada sem graça. "Acabaste de ter tonturas e vómitos vivos.
"São desconfortos suportáveis, mas dizer que sinto algo na barriga que ameaça me devotar... não, nada disso... é uma criança, não um extraterrestre." - Beliscou a bochecha de Juliana de forma brincalhona. - "Então não tem nada que temer, quando quiser podes dar uma filha à procuradora."
"Nem pensar, não quero ter filhos e muito menos agora... Não posso ter um filho de uma coisa que não tenho a certeza absoluta." - Ela diz, desviando o olhar da estrada, e ao seu lado, do lado da janela, passa um ciclista.
"Tem razão, uma criança com a personalidade das duas seria um filho da mãe dos diabos, o Bush não lhe chegaria aos pés". - Explica com um grande sorriso. - "Agora, não entendo o que é que não tem certeza".
"Sobre tudo, sobre a relação." - Ela gagueja, sem se atrever a olhar para Lúcia.
"Vejo a relação mais estável do que nunca, a procuradora tem a certeza do que sente, a única pessoa aqui que ainda não se decidiu é você. Quando é que o vai fazer?" - Ela pergunta, colocando-lhe a mão no ombro.
"Não é preciso, não tenho de complicar a minha vida com asneiras". - Juliana colocou a mão sobre a da amiga e apertou-a com carinho. - "Luci, as coisas estão bem do jeito que estão."
"Fica a seu critério. Espero que a procuradora tenha mais paciência do que o Sérgio... e que não perceba que está verdadeiramente apaixonada tarde demais. Espero que não entenda através da dor da perda, é assim que se sabe se se está apaixonado ou não, quando se perde o que se tem e muitas vezes não se consegue recuperar".
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Doce Mentiras Amargas Verdades - Livro IV
RomanceA diretora de uma prestigiada firma de advogados e bem-sucedida promotora de justiça de Manhattan Valentina Carvajal, vive sem restrições, experiente, aventureira, apaixonada e intensamente. Ela não gosta de compromissos e se verá envolvida em uma e...