Estou junto ao meu grupo andando na noite gélida, nosso supervisor Seok está nos guiando por lugares onde podemos encontrar alimentos e remédios que precisamos.
Estou cansada, meu estômago ronca alto. O peso que antes me incomodava pelo excesso hoje me falta.
Meu rosto está sujo e minhas roupas estão largas e amassadas. Meu cabelo está preso na tentativa de manter um pouco a boa aparência, não que isso importasse, mas ver meu cabelo arrumado me faz lembrar do passado, quando meu único problema era se meu cabelo estava liso o suficiente. Hoje só de tê- lo em minha cabeça é uma vitória.
As pessoas que restaram no mundo são poucas mas as pessoas que ainda resta sanidade são quase impossíveis, canibalismo se tornou algo frequente, se achávamos a violência de antes absurda é porque não imaginavamos como estaria agora. Todos lutam literalmente com unhas e dentes para sobreviver.
Eu já pensei em desistir, seria fácil demais pegar um pedaço de vidro e cortar minha garganta ou simplesmente deixar que me devorem por completo mas tenho medo.
Medo de para onde vou depois daqui. Ainda me resta um pouco de esperança que algum dia em algum lugar poderei reencontrar os que amo e que já partiram.
Sinto saudade de cada um deles, meu coração acelera, meus olhos enchem de lágrimas e minhas pernas cedem.
Caio no chão batendo meu cóccix com força no asfalto, o cheiro da fumaça arde minha garganta e tento controlar minha respiração mas minha ansiedade ainda está aqui presente.
Olho para frente e meu grupo continua andando sem mim como zumbis sem vida, como pessoas com as almas sugadas onde só resta a carcaça.
Percebo que Seok está mais à frente parado me olhando. Não consigo decifrar seu olhar por causa da pouca luz mas também porque Seok era um cara misterioso, ninguém sabia nada sobre ele. Que por sua personalidade forte fora designado para ser nosso supervisor. Mas designado por quem ??
Pelo G8, um grupo de líderes que dizem tentar manter um pouco de ordem no país mas na realidade só sabem se aproveitar de nossos achados para alimentar suas bocas imundas. Enquanto morremos de fome eles se empanturram com nosso sofrimento.
Ainda no chão percebo Seok virar as costas e voltar a andar, porque por algum motivo eu achei que ele fosse se importar ?
Meu peito dói, fecho os olhos e tento controlar a respiração, me concentro nas batidas do meu coração, ele ecoa nos meus ouvidos ao fundo escuto o estalar do fogo, sinto o cheiro pesado do ar, sinto o gelado do chão na minha mão e por fim escuto o choro de um bebê.
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O brilho de seus pequenos olhos
General FictionSeria possível encontrar o amor em um mundo distópico e sombrio ? Esse pequeno conto baseado em um sonho mostra que podemos achar o amor nas pequenas coisas e lutar pela felicidade.