capítulo oito Sakusa

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Os três meses seguintes passaram incrivelmente bem ao lado de S/N. Nesse tempo, completei 19 anos e ela fez 20. Comemoramos nossos aniversários juntos, um ao lado do outro, num restaurante próximo ao hospital. A simplicidade daquela noite fez com que ela se tornasse especial, marcada por momentos de felicidade que há muito tempo eu não sentia, mas graças a ela eu estava sendo feliz novamente.

Mas hoje, tudo isso parecia distante. Eu estava indo buscar os resultados dos exames que fiz na semana passada, e não conseguia afastar a sensação de que algo estava errado. Entrei no consultório do Dr., e sua expressão séria confirmou os meus temores antes mesmo de ele falar. A infecção na espinha estava avançando, e os primeiros sinais de perda de movimentos já eram visíveis.

Ao chegar ao consultório, o Dr. me recebeu com uma expressão séria. Sentei-me na cadeira em frente à sua mesa, tentando manter a calma, mas meu coração estava disparado.

- Sakusa, temos os resultados dos seus exames - começou ele, folheando o prontuário.

Eu engoli em seco, esperando pelo pior.

- E o que eles dizem? - perguntei, tentando soar despreocupado.

- A infecção na sua espinha mostrou sinais de progressão - disse ele, olhando diretamente para mim. - Isso já começou a afetar seus movimentos, especialmente nas pernas.

Senti o chão desaparecer sob meus pés. Era como se todo o ar tivesse sido sugado do quarto.

- E o que isso significa, exatamente? - consegui perguntar, minha voz soando distante, até para mim mesmo.

- Significa que precisamos estar preparados para uma possível perda total dos movimentos - explicou Dr., com uma suavidade que só tornava a notícia mais devastadora. - Vamos tentar controlar a infecção com medicamentos mais fortes, mas é essencial que você esteja ciente da situação e do que pode acontecer.

Eu assenti, tentando processar tudo aquilo. As palavras do médico ecoavam na minha mente, mas não pareciam reais.

- E o que eu faço agora? - perguntei, sem saber ao certo a quem ou ao quê estava me dirigindo.

- Vamos continuar com o tratamento e monitorar de perto seu progresso - respondeu ele. - Mas também precisamos conversar sobre decisões futuras, caso a infecção continue a progredir.

Eu sabia do que ele estava falando: o testamento vital. A ideia de perder completamente meus movimentos e a possibilidade de escolher a morte ao invés de uma vida em completa paralisia.

- Entendo - murmurei, olhando para minhas mãos trêmulas. - Obrigado, doutor.

Quando saí do consultório, a minha mente ainda estava nublada. Caminhei lentamente de volta ao quarto, tentando me preparar para enfrentar S/N. Sabia que não poderia contar a verdade para ela.

Ao abrir a porta, vi que ela estava lá, esperando por mim, o rosto iluminado por um sorriso lindo, o sorriso dela me acalma.

- O que aconteceu? - perguntou ela, com os olhos cheios de preocupação.

Parei por um momento, tentando compor um semblante calmo.

- Está tudo bem - menti, forçando um sorriso. - Nada para se preocupar, meu amor.

Ela suspirou aliviada, e eu a abracei, sentindo uma culpa esmagadora por esconder a verdade.

- Que bom - disse ela, me apertando mais forte. - Estava tão preocupada... Ainda mais vendo você morrendo de dor esses dias para andar.

E enquanto a abraçava, prometi a mim mesmo que faria de tudo para que nossos últimos momentos juntos fossem felizes, sem a sombra da minha condição. Eu queria protegê-la da dor, mesmo que isso significasse carregar o peso sozinho. Não posso ser um fardo para ela.

Mr.Loverman {Sakusa x Leitora}Onde histórias criam vida. Descubra agora