capítulo dez Sn

105 14 14
                                    

Os dias, semanas e meses se passaram, e eu me arrastei para viver. Cada manhã era uma batalha para sair da cama, cada noite era um tormento para tentar dormir. Já não morava mais com meus pais; agora morava sozinha, tentando lidar com a dor da perda. Um ano se passou sem o Sakusa e eu estava à beira de um precipício de tristeza.

Apesar de manter contato com a mãe dele, nada preenchia o vazio que ele deixou. Sentia-me só, terrivelmente só, sem ele ao meu lado. A cada dia que passava, a ausência dele pesava mais, e a saudade tornava-se insuportável.

Foi no meio de tanta tristeza, quando eu já não conseguia mais fingir que estava bem, que fui diagnosticada com depressão. As visitas ao médico, as sessões de terapia, os remédios... tudo parecia um lembrete constante de que ele não estava mais aqui. A vida sem Sakusa era um campo de batalha, e eu estava perdendo a luta.

Os momentos de alegria que tínhamos compartilhado pareciam agora pertencer a outra vida, uma que eu mal conseguia lembrar. Eu me agarrava às lembranças, às cartas que ele tinha deixado, às palavras que ele me escreveu. Mas, por mais que tentasse, a dor nunca ia embora. Ela estava sempre ali, uma sombra constante sobre minha vida.

A solidão era esmagadora. Sentia falta do toque dele, da voz dele, do jeito que ele me fazia rir. Nada mais parecia fazer sentido sem ele. As noites eram as piores, quando o silêncio se tornava ensurdecedor e a escuridão trazia de volta todas as memórias.

E assim, os dias continuavam a passar, cada um mais difícil que o anterior. Eu vivia em um ciclo interminável de dor e tristeza, esperando que um dia, de alguma forma, encontrasse um pouco de paz.

Em um dia quente, eu havia feito tudo que tinha na agenda. A rotina me dava uma falsa sensação de controle, mas quando a noite caiu, a verdade se impôs de maneira implacável. Estava decidida a não continuar aqui sem ele. Sabia que não era o certo, mas se fosse para viver desse jeito, eu não queria.

Caminhei até o banheiro, meus passos ecoando pela casa silenciosa. Abri o armário e peguei todos os frascos de remédios mais fortes que eu tinha. Cada um deles parecia me encarar, um convite silencioso para o alívio que eu desesperadamente buscava. Meu coração estava pesado e minha mente, tomada por uma única certeza: eu não aguentava mais.

Sentei-me no chão frio do box do banheiro, os frascos dispostos ao meu redor como um mórbido círculo de escape. Com as mãos trêmulas, comecei a abrir os frascos, um a um, despejando os comprimidos em minha palma. Por mais que eu estivesse com medo, a dor de continuar vivendo sem ele era maior.

Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Peguei um copo d'água, levando os comprimidos à boca. Um gole após o outro, engoli todos eles. O sabor amargo se misturava às minhas lágrimas, que escorriam livremente pelo meu rosto.

Apertei meus joelhos contra o peito, fechando os olhos enquanto esperava o efeito. Por mais que estivesse apavorada, uma parte de mim sentia um estranho alívio. Finalmente, a luta estava chegando ao fim.

A escuridão começou a se instalar, lenta e implacável, enquanto eu me entregava ao desconhecido. Meu último pensamento foi uma prece silenciosa para que, de alguma forma, eu encontrasse Sakusa do outro lado. E então, a escuridão me envolveu completamente, e eu deixei de sentir.

Ficou um silêncio confortável. Não sabia onde estava e, por um segundo, pude até escutar a voz dele. Achei que estava alucinando após morrer, mas não estava.

"S/N..." a voz dele parecia tão próxima, tão real.

Abri os olhos lentamente, sendo recebida por um clarão. Meu coração, ou o que restava dele, saltou em meu peito. "Sakusa?" chamei, sentindo uma mistura de medo e esperança.

- Amor, estou aqui - ele respondeu, sua voz se aproximando cada vez mais. Olhei ao redor, tentando localizá-lo na luz intensa que me envolvia.

- Sakusa, onde você está? - Eu andei, meus passos incertos, procurando desesperadamente por ele.

Ele surgiu diante de mim, seu rosto familiar e amado, um sorriso suave nos lábios.

- Estou aqui, S/N. Estou bem aqui.

Corri até ele, sentindo uma alegria inexplicável, mas ele levantou uma mão para me parar, seu olhar se tornando sério.

- Por que você fez isso? - ele perguntou, sua voz carregada de preocupação e tristeza. - Por que você veio atrás de mim assim?

Eu não sabia o que dizer. As palavras se enredaram em minha garganta, mas finalmente consegui murmurar.

- Eu... eu não conseguia viver sem você. A dor era insuportável.

Ele suspirou, sua expressão se suavizando enquanto me puxava para um abraço.

- Amor, eu não queria que você sofresse assim. Nunca quis isso para você.

Ficamos em silêncio por um momento, simplesmente sentindo a presença um do outro. Então, ele começou a rir suavemente.

- Você sempre teve essa cabeça dura, não é? - ele disse, apertando-me contra ele.

Eu olhei para cima, encontrando seu olhar e sorri.

- Sim, e você sabia disso.

Ele balançou a cabeça, ainda rindo. Senti Ele me abraçando forte, seu corpo sentindo-se sólido e real contra o meu. Mas ele continuou brigando, sua voz grave e preocupada.

- Você não tinha que fazer isso, S/N. Você devia continuar viva, vivendo sua vida e usando aqueles tênis ridículos que você ama tanto.

Eu comecei a bater nele com as mãos, minha voz subindo em frustração.

- Se você estava me vendo daqui de cima todos os dias, por que não me mandou um sinal, uma mensagem, qualquer coisa?

Ele segurou meus pulsos, rindo, mas havia uma tristeza em seus olhos.

- S/N, eu não sou Deus. Não posso mandar sinais ou controlar o que acontece lá embaixo.

Antes que eu pudesse responder, ele me puxou para um beijo. Um beijo que era urgente e cheio de amor, que silenciou todas as minhas palavras. Fiquei paralisada por um momento, então cedi, beijando-o de volta com toda a saudade e dor que senti durante o tempo que ficamos separados.

Quando ele finalmente se afastou, nossos olhos se encontraram e eu vi o reflexo da minha própria dor e amor nos olhos dele.

- Eu só queria que você soubesse o quanto eu te amo - ele murmurou, acariciando meu rosto.

- Eu também te amo - respondi, minha voz quebrando. "Mas viver sem você era insuportável."

- Eu sei - ele disse suavemente - Mas agora estamos juntos, e nada pode nos separar novamente.

Eu me aninhei em seus braços, sentindo uma paz profunda e duradoura. E pela primeira vez desde que ele se foi, senti que finalmente estava em casa.

Mr.Loverman {Sakusa x Leitora}Onde histórias criam vida. Descubra agora