Capítulo 1

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 O maior obstáculo para construir relacionamentos verdadeiramente bons é um sentimento de egocentrismo justificado, um egoísmo que, no fundo de nossas almas, parece inteiramente razoável.

Larry Crabb

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A primeira vez que Draco foi enviado em missão com Granger, eles quase acabaram se matando. Foi tudo bastante estúpido, claro.

Ele já havia participado de inúmeras missões antes e nunca deixou que seus próprios sentimentos ou os de qualquer outra pessoa atrapalhassem. Um ano depois, a maioria dos membros da Ordem o aceitou – ou pelo menos, não se importava com sua presença e, portanto, conseguiam tolerá-lo na maior parte do tempo. E ele era um bom soldado – um dos melhores. Não era incomum para a geração mais jovem de Comensais da Morte trocar de lado depois de perceber que não havia glória em ver pessoas que você conheceu durante toda a sua vida sendo torturadas e estupradas diante de seus olhos só porque tinham o sangue errado.

Na verdade, Draco ficou surpreso com o grande número de Comensais da Morte que o seguiram até a Ordem. Era como se a sua vez tivesse sido um estopim para os outros, e ele se perguntou se essa não seria metade da razão pela qual a Ordem o queria em primeiro lugar. Vincent e Gregory vieram primeiro, depois Theodore Nott – a maior surpresa para Draco, que sempre viu o rapaz misterioso como uma espécie de sádico enrustido. Quando Pansy chegou das masmorras da Mansão Malfoy – torturada, sangrando e grávida de três semanas – os números aumentaram.

Com todos os Sonserinos escondidos ou lutando sob a Ordem, Draco se perguntou de onde a Cobra conseguiria seus jovens seguidores no futuro. Mas sempre haviam outros, dispostos a preencher os espaços perdidos. Os chamados 'sangues-puros' cuja ascendência era, na melhor das hipóteses, duvidosa, mestiços apenas em busca de poder e os raros nascidos-trouxas, estúpidos o suficiente para acreditar que servir era proteção.

Os soldados mais velhos estavam ocupados demais travando a guerra real para verem a tendência sob seus pés. Os alunos que Draco, Vincent e Gregory passaram anos atormentando e intimidando não eram tão fáceis em perdoar ou esquecer. Mas São Potter fez campanha em nome deles e eventualmente o forte ódio se reduziu a um leve desgosto. Haviam até aqueles que ficavam muito felizes em fazer amizade em uma guerra que roubava qualquer companheirismo num piscar de olhos.

Mas Granger... Granger era diferente.

Ela ainda era a mesma Grifinória doentiamente gentil, simpática e boazinha que sempre foi. Ela interrompia as discussões e repreendia qualquer um que obviamente estivesse atormentando qualquer recém-chegado. Ela chegou ao ponto de se sentar com eles em determinados momentos do dia, com flagrante desrespeito à tão necessária linha traçada entre eles e todos os outros. Ou o fato de que ela era muito indesejada. E, eventualmente – com relutância – começou a funcionar. Outros começaram a fazer o mesmo. Estabeleceram-se amizades e, se não amizade, pelo menos uma certa aceitação.

Granger era a Deusa do Perdão. Para todos os outros Sonserinos que cruzaram seu caminho.

Para Draco, ela era um demônio.

Ela gritava com ele pela menor das coisas. Ela desconsiderava todas as suas opiniões, ignorando-as na melhor das hipóteses e opondo-se ferozmente na pior das hipóteses. Parecia que quanto mais ele tentava ser civilizado, mais irritada ela ficava. Houveram incidentes em que eles tiveram que ser separados – não em quartos diferentes, mas para locais diferentes.

Então Draco culpou qualquer Auror cego e ignorante encarregado da missão por emparelhá-los em primeiro lugar. Ele não tinha certeza de como tudo começou. As coisas estavam indo bem. E então eles se perderam (Draco sabia que não era culpa dela que o mapa fosse impreciso, e a paisagem havia mudado ao longo dos anos, e a fumaça do campo de batalha logo atrás deles tornava impossível ver um metro à frente deles de qualquer maneira). Mas era tudo culpa de Granger.

Of Crimson Joy | Tradução - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora