Capítulo 13.1

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 O Passado repousa sobre o Presente como o cadáver de um gigante.

Nathaniel Hawthorne

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— Isso é verdade, Malfoy?

A verdade — Malfoy repetiu, e então seu sorriso foi desaparecendo, desintegrando-se em uma expressão tão exausta que Hermione de repente se sentiu pesada, como se o material leve da Capa da Invisibilidade tivesse se transformado em chumbo, algum metal pesado pairando sobre a cabeça.

Seus olhos se moveram, passaram por Harry, pelo espaço onde ela estava, até o teto. Quando eles se recomporam novamente, havia uma determinação um tanto dura ali. Era o mesmo olhar que Harry fazia sempre que eles estavam prestes a procurar uma Horcrux. Aquele olhar de 'Você não vai gostar disso, mas eu não dou a mínima', quando ele sabia que ela iria discutir.

— A verdade é que é isso que ele quer que você pense.

— Voldemort? — Harry perguntou, e se Malfoy quis se encolher ao ouvir o nome, ele escondeu bem.

— Sim.

— Você está me dizendo que é ele quem te mandou para cá?

— Sim. Ele parece pensar, por razões desconhecidas para mim, que eu teria sucesso em me infiltrar na Ordem a ponto de meu retrocesso ter efeitos devastadores. — Algo de seu escárnio anterior conseguiu retornar fugazmente ao seu rosto. — Não pretendo entender o funcionamento interno da mente do Lorde das Trevas. No entanto, tenho certeza de que há pura genialidade neste plano aparentemente lunático.

E a maneira como ele disse isso quase soou como sarcasmo.

— Ou ele está apenas mandando você para a morte. Ele parece gostar de fazer isso.

O sorriso malicioso de Malfoy desapareceu, mas ele não revidou, e Hermione não achou que ele parecesse zangado. O silêncio caiu entre eles e se manteve, denso, pesado, fazendo com que a própria respiração de Hermione fosse ofegos nervosos, ampliando o som até que ela colocou a própria mão sobre a boca para acalmá-la.

— Suponho que você espera que sejamos tolerantes com você por ser honesto. — O queixo de Harry ergueu-se alguns centímetros no ar. — Se sim, você está errado.

Desta vez, o escárnio era quase um sorriso.

— Vejo que você finalmente cresceu, Potter. Pronto e disposto a fazer o que for necessário.

— Para um bem maior. — E embora Malfoy não pudesse saber o significado daquelas palavras, ele ficou sério. Seus olhos se fecharam e Hermione pensou que ele poderia estar com dor. O rosto de Harry permaneceu severo e inexpressivo, exatamente como Snape lhe ensinara. Mas havia uma tensão em sua mandíbula, uma contração em sua mão esquerda. Todos os sinais de uma hesitação. — Por que você ainda está aqui, Malfoy? Você não deveria estar tentando escapar agora? Fugir é o que você faz de melhor, afinal.

— Fraco, Potter. — Um olho se abriu, quase preguiçosamente, depois os dois, seu sorriso desaparecendo. — Me mate.

— O que?

— É a única maneira. — Ele encolheu os ombros. — Nós dois sabemos disso. Você não pode me deixar ir agora. Eu apenas voltarei para ele. E não posso ficar aqui. Quem sabe o quanto eu posso ver ou ouvir? Sou um risco para vocês. O perigoso número um. Se você me matar, estará fazendo um favor a todos.

Ele era um lunático. Porque só um homem louco poderia falar sobre sua própria execução em um tom tão irreverente e factual. Não havia nenhum brilho ardendo em seus olhos, sugerindo a loucura induzida pela dor que ela tinha visto tantas vezes antes. Nenhuma onda de medo ou antecipação. Não havia nada. Seus olhos eram dois espelhos, apenas refletindo. Duas esferas de um nada vítreo.

Of Crimson Joy | Tradução - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora