Capítulo 9

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 O homem não pode se refazer sem sofrimento, pois ele é ao mesmo tempo o mármore e o escultor.

Dr. Alexis Carrel

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A última vez que Draco viu Blaise Zabini foi no meio de um campo de batalha.

Uma névoa amarelada e doentia obstruía o ar, cegando, suprimindo, sufocando. Draco ouviu alguém tropeçar em seu caminho e gritou um Estupefaça (por que ele não tinha certeza, não tinha certeza se não era um colega e não achava que suportaria ver Fred ou Granger mortos a seus pés). Ele seguiu em frente, em direção ao ponto onde achava que deveria aparatar, embora, é claro, pudesse estar indo na direção completamente errada.

Ele meio que tropeçou em um corpo e, ao olhar para cima, avistou Blaise, apenas visível, a pele escura tingida de sépia na névoa das maldições. Blaise não o viu. Ele estava muito ocupado rindo do soldado se contorcendo no chão diante dele, o corpo arqueado pela dor do Cruciatus. Seu rosto estava contorcido em sua própria diversão doentia, olhos mais escuros do que Draco se lembrava. E de repente ele era um estranho, apenas mais um Comensal da Morte vestido de preto.

O brilho de uma máscara prateada na fraca luz do sol conseguiu penetrar na fumaça, e as atenções de Draco estavam em outro lugar mais uma vez.

Quando ele olhou para trás, Blaise havia sumido. Mais tarde, Draco se forçaria a pensar no passado. Pensar no antes de todo o ódio. Até quando Blaise era um menino tão inseguro a ponto de pesquisar a quantidade média de pelos no peito que os bruxos adolescentes deveriam ter. Até aquela época em que Marcus Flint desafiou Draco para um duelo, e Blaise foi o segundo. Mas, se fosse honesto consigo mesmo, seria sempre esse Blaise que ficaria por trás de tudo, com seus olhos maníacos e seu sorriso sanguinário. Porque não existia antes do ódio. Havia apenas seus pais, e tudo o que eles conheciam, e o fato de serem mais inteligentes, mais puros, melhores. Só que não eram, e ser sangue-puro não impedia Blaise de morrer.


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Ela não sabia que maldição a atingira, só que certamente devia haver fogo correndo em suas veias, porque nada, nada jamais havia a machucado tanto antes. Facas brancas e quentes esculpiam padrões em seu estômago, atiçadores escaldantes perfuravam seu pescoço. Ela tentou abrir os olhos e a luz era cegante, e doía se mover, mas ela não conseguia parar as convulsões do corpo, não conseguia parar o desejo natural de arranhar a própria pele, como se pudesse arrancá-la e acabar com isso. Dedos firmes envolveram seus pulsos, prendendo seus braços ao lado do corpo. Ela pensou brevemente em lutar contra essa pessoa, porque a última coisa que ela lembrava era de estar em um campo de batalha, mas então surgiu a possibilidade de que se essa pessoa a matasse, a dor teria que parar, e ela caiu mole em seus braços.

— Granger. Pare de se debater ou eu vou estilhaçar você!

Ela conhecia aquela voz. Conhecia os braços que a levantavam. Mas tudo o que sua mente conseguia pensar era na palavra 'estilhaçar' e como não teria importância se ele a estralasse uma centena de vezes, ela nunca poderia se machucar mais do que já estava. Talvez ela tenha dito isso a ele, porque ele soltou uma risada e o ar a apertou por todos os lados, jogando-a em um quarto branco ofuscante com um estalo alto. Vozes a inundaram. O calor de seu corpo desapareceu, uma mudança que ela mal notou através da nova onda de agonia que a atingiu, arqueando sua coluna para fora da cama.

— Preciso impedi-la de se mover.

Ela reconheceu a voz desconhecida e lutou contra a pressão repentina de alguém que se inclinava sobre ela, até que ele rosnou de frustração e forçou suas mãos espalmadas em cada lado da cabeça.

Of Crimson Joy | Tradução - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora