2 - Cartas

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Chegou ao andar superior com o coração martelando no peito. A franja tampando sua visão, após tamanha correria, a obrigou passar as mãos pelo cabelo e empurrá-los para longe. Seu chapéu não se encontrava mais em sua cabeça, mas não ligava para aquilo.

Andou apressada, sentindo um misto de coisas lhe balançar por dentro.

O corredor era extenso, com várias portas, e Lauren abriu uma a uma sem se importar com fechá-las de volta quando não encontrava ninguém.

Nunca abriu portas com tanta velocidade antes, isso era certo.

Um ruído na última, do lado esquerdo, a fez abandonar a próxima a qual estava prestes abrir. Não apressou seu andar, dessa vez. Correu. Rezando para que nada tivesse acontecido, que tudo não passasse de alguma loucura de sua cabeça.

Ao abrir a porta num rompante, contudo, encontro a cena que a fez grunhir e avançar.

Camila se encontrava imprensada contra uma parede, o corpo imundo de Ferreira contra o dela enquanto uma mão criava caminho para dentro de seu vestido e a outra lhe tampava a boca.

Lauren sequer deu tempo ao homem de se situar de sua presença. Puxou-o para longe da garota pelo terno maltrapilho às suas costas.

Camila escapou de suas garras assim que se viu livre. Tinha lágrimas nos olhos e terror banhando toda a face. Não conhecia Lauren, nunca a tinha visto, e nem mesmo se deu conta, pelas veste dela, de que era uma mulher ou quem poderia vir a ser. Mas foi para atrás de suas costas tão logo se libertou.

O punho de Jauregui chocando-se contra o maxilar de Ferreira foi o que o fez ter noção do que acontecia ao seu redor. O sangue que brotou imediatamente de seus lábios cortados e do dente podre que engoliu no susto o despertou para o cenário o qual tinha se inserido.

Fitou Lauren, alarmado, e mal teve tempo de se recuperar antes de ser pego pelo colarinho e imposto contra a mesma parede que antes tinha a primogênita dos Cabello's.

Alejandro e Sinhue chegaram no instante seguinte, e Camila correu para os braços do pai, assustada e chorando. Ainda não entendia o quê tinha se passado, foi tudo rápido demais para que acompanhasse. Num momento, estava fazendo nós em seus lençóis para uma fuga que seria mal sucedida por sua janela, irritada para com seus pais, no outro, tinha aquele senhor asqueroso invadindo seu quarto e a empurrando contra a parede.

- O que. infernos. Pensa. Que está fazendo? - Lauren o perguntou entredentes e pausadamente, diante de sua face fétida e imunda. Todo o seu alarde e fúria tomando seu rosto, que encontrava-se vermelho. Seus verdes cintilavam de uma ira que ninguém jamais ousou despertar em si.

Mataria aquele homem. Não tinha dúvidas de que o faria.

Assustado, Ferreira lhe segurou os braços e tentou inutilmente se livrar de seu aperto.

- Não é culpa minha - disse com dificuldade ao fitar o perigo e a ameaça naqueles olhos. Nunca viu tanta emoção na face da aberração, que só transparecia frieza e indiferença. - Só estou cobrando o que me foi prometido!

- Querida, acho melhor nos retirarmos. Você precisa de uma água. Deixe que estes senhores resolvam as coisas entre si, huh? - Sinhue falou, solícita com o pranto da filha agarrada ao pescoço de seu marido.

A realidade, no entanto, era muito mais difícil de lidar. Queria a menina longe para não ter que ouvir o que não queria que ela soubesse. Importava-se com a filha, mas nada que se comparasse aos seus interesses reais e pessoais.

Assustada, de costas a Lauren, Camila assentiu enquanto fungava e tentava enxugar as lágrimas com as costas da mão. Sinhue não deixou de perceber o monte de lençóis brancos com nós, e revirou os olhos para a ideia estapafúrdia da garota.

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