13 - Cartas Na Mesa

1K 133 143
                                    

Fria e desalmada, cercava ao corpo nu do homem sobre o chão coberto por resquícios de fenos. Encolhido de frio, tremia, com seu queixo fazendo os dentes rangerem em um som irritante.

Seus homens fizeram todo o trabalho de retirá-lo do pendure da corda, permitindo que seu peso quase morto colidisse contra a superfície imunda. Lauren não o havia tocado ainda, mas queria vê-lo aos seus pés, rastejando, implorando por sua misericórdia como se tivesse a opção de se livrar de seu destino.

- Sss-se-senhora... senhora... Ja-jauregui... - Bem como ansiava, o tinha ali, deslizando entre a sujeira, as mãos ainda mais encardidas buscando por algum suporte por seu corpo ao se arrastar até os seus pés. Dedos imundos com unhas pretas lhe agarraram a barra da calça branca manchada de sangue, e Lauren o fitou de cima com uma diversão sombria.

- Está onde deveria estar, Ferreira - murmurou, abaixando-se apenas para encará-lo de perto. Os lábios do lorde estavam roxos e cortados pelo frio, a barba por fazer falhada. Estava em sua decadência, era certo, contudo não muito longe ou diferente de seu estado normal.

Como se adivinhasse - ou somente conhecesse bem a patroa, César lhe entregou um par de luvas de montaria. Elas eram grossas e de couro num tom marrom, a parte da palma em tecido antiderrapante para impedir atritos em cordas.

Lauren as vestiu lentamente enquanto assistia o lorde tentar aproximar seu rosto de sua calça, em uma vã tentativa de limpá-lo no tecido.

Com uma expressão de repúdio na face, lhe agarrou o maxilar, fazendo com que seus lábios rachados se escancarassem e revelassem dentes podres entre três faltando. Ela virou seu rosto de um lado a outro, fazendo caras e bocas de nojo ao ver a baba escorrendo no canto de seus lábios direto para o couro de sua luva.

Avaliou com falsa seriedade as condições de seus dentes repletos de cáries e suspirou, por fim empurrando-o para longe e se colocando de pé.

- Seus dentes estão em péssimas condições, meu lorde - olhando por cima de seu ombro, fez um gesto mínimo com a cabeça para seus capangas, que logo avançaram para obedecerem a sua ordem. - Mas daremos um jeito nisso - disse ao assistir Allan e Elliot o pegando pelos braços até o erguerem.

Ela recuou alguns passos, e foi até uma pequena mesa feita de tronco, que seus homens deixaram ali, enquanto os outros dois faziam Ferreira se sentar numa cadeira a força.

- O que... o-oo que... o que va-vai fass-zer? - Perguntou, tendo suas mãos atadas atrás do móvel e sua cabeça sendo forçada a se inclinar ao teto.

Em plena paz, Lauren procurava sem pressa entre todos os instrumentos o alicate. Quando o encontrou, ela caminhou de volta até a frente do homem nu, e ainda de pé se encaixou entre suas pernas unidas inclinando-se até lhe agarrar o queixo com ainda mais força, fazendo-o olhar para a arma escolhida em sua mão esquerda.

- Vamos brincar de dentista - sugere, e ri com humor negro ao notar o pavor nos olhos arregalados, sentindo os ombros do homem se sacudirem como tivesse a opção de fugir de alguma forma. - Para ficar mais interessante... faremos um jogo. Eu lhe farei perguntas, e se eu não gostar das respostas... é ponto para a fadinha do dente. Sim, ela é sua adversária. E com pontos, lorde Ferreira, eu quero dizer um dente. Seus dentes.

- Sse-senhora Ja-ja-jauregui-gui eu possssoo...

- Uma nova regra - o corta, deslizando a ponta da ferramenta sobre os lábios trêmulos. - Sua gagueira está me irritando - diz seriamente, sem falsa doçura ou simpatia. - Se persistir nisso... serei obrigada a arrancar sua boca fora. Então aja como a porra do homem que tentou violar a virtude da minha esposa, e fale direito.

Uma História de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora