Capítulo VI: Detalhes únicos.

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        Duas coisas passaram na cabeça de Martin enquanto esperava ser chamado pra entrevista de emprego naquela manhã do dia dezenove.

        A primeira era ''Por que está tão frio?!'' ao se encolher sob o blazer em cor pastel que havia escolhido, e a segunda era que a mulher alta de cara fechada que estava sentada ao seu lado era deslumbrante e que poderia ser passado para trás por ela facilmente.

         A mulher tinha longos cabelos loiros e ondulados que caiam com charme sobre seus ombros e costas, usava maquiagem, tinha um corpo voluptuoso, usava uma roupa elegante e, por ser tão bonita, chegava a ser ameaçadora tal como um réptil com uma coloração muito forte. Mantinha os olhos baixos, a cara fechada, e distraía-se no celular como quem indica não querer ser incomodada.

        Martin tentava ser discreto. Existia de sua parte um ímpeto natural de se admirar com a beleza dela, só que levava mais em consideração o desconforto que ela poderia sentir. Sua admiração era genuína e respeitosa, pois embora a introspecção dela fosse, de certo modo, um indicativo de sua arrogância, nada lhe tirava a beleza da face.

         Louisa Pollack apareceu na sala silenciosa e tanto Martin quanto a loira levantaram os olhos na direção dela, ambos cheios de expectativas. Educada, Louisa sorriu para os dois, porém manteve-se em silêncio e saiu da sala na direção oposta.

         A perna de Martin começou a tremer, inquieto. Já estava considerando desistir.

         Aquela loira quieta, esbanjadora de confiança, fez sua autoconfiança vacilar. Tinha consciencia que era mais comum as empresas optarem por contratar mulheres com aquele padrão de beleza para serem secretárias porque passava uma boa imagem sobre a compania. Mentira seria dizer que aquele tipo de coisa não era levado em consideração.

         Trabalhava com aquele tipo de dinâmica por anos, portanto, sabia bem o que poderia esperar.

         Trinta minutos se passaram e a porta do escritório onde acontecia a entrevista de uma candidata foi aberta e uma mulher baixa, de cabelos curtos e olhos azuis saiu de dentro da sala. Olhava para o chão, com um sorrisinho discreto no rosto, parecendo muito otimista.

— Pâmela Albuquerque.

        O nome chamado foi o da loira, que elegantemente levantou-se, sem trocar olhares com ninguém, colocou uma mecha do longo cabelo atrás da orelha que descia em castaca encantadoramente pelo ombro enquanto arrumava a bolsa, e então caminhou calma e graciosamente em direção a sala.

         Louisa e Martin trocaram olhares fortes, o silêncio instalado no cômodo enquanto a loira andava. Ambos se admiravam pelo mesmo motivo.

        Louisa segurou a porta até que a mulher entrasse e a fechou assim que estava lá dentro, deixando-a sozinha com LB e voltou-se a Martin.

— Você conhece ? – ela perguntou.

        Martin recusou com a cabeça.

— Nunca vi.

— Que mulher linda. Parece uma pintura.

— Não é? – ergueu as sobrancelhas em ênfase, tão admirado quanto preocupado.

— Algumas pessoas nascem com a bunda virada para a lua. Imagina nascer bonita daquele jeito. Quer café?

— Eu aceito.

— Está nervoso?

— Estou.

       Ao entregar-lhe o café, Louisa sentou-se ao lado dele, em uma das cadeiras e ,com a mão sobre seu antebraço, o confortou.

Sempre seu, Martin. [BRAARG]Onde histórias criam vida. Descubra agora