› Delírio ‹

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Enquanto eu dirigia o carro pela longa estrada deserta, pude ouvir, não muito distante, estrondos estremecerem o chão, imagino de imediato ser algum terremoto, paro o carro e espero, então os tremores cessam. Uma neblina começa a surgir e cobrir todo meu campo de visão, apenas via a espessa névoa na minha frente, um cheiro forte entra no carro, saio de dentro dele atordoado, outro tremor, minhas pernas falham e eu caio no chão de joelhos, sinto como se uma força externa me precionasse contra a terra. Levanto tentando manter o equilíbrio, um vento forte e repentino passa por mim quase me derrubando novamente, uma grande quantidade de areia vem ao meu encontro, instintivamente fecho os olhos e levo os braços para frente dele.

Um som como de um trovão amedrontador chega aos meus ouvidos, um ruído toma conta deles, olho para todos os lados em busca de algum ponto de referência para me localizar, mas não encontro nada visível por perto. Algo começa a se aproximar, perco o equilíbrio e tento mantê-lo de novo, olho para frente e vejo, vejo oque eu jamais imaginária, um grande e medonho dedão, era um pé, inteiro e enorme, maior até mesmo que a própria estrada, desacreditado vou seguindo o comprimento e percebo que não é só um pé, tem uma perna, a névoa aos poucos vai sendo cessada, revelando ainda mais partes daquele imenso corpo. Perai, corpo?!.

Foi um impacto, aquela coisa enorme e esquisita me encarava, sua cabeça gigante e seus olhos gigantes estavam na minha direção, um sorriso de orelha a orelha, literalmente, dentes que certamente ansiavam por aperta os meus tão pequenos e frágeis ossos. Talvez estivesse hipinotizado por tamanha obra da natureza ou apenas tentando assimilar oque está acontecendo diante dos meus olhos incrédulos, nego para mim mesmo, mas não é suficiente, o ser inclina a cabeça, posso ouvir seu pescoço estalar, com o resto de conragem que me resta dentro do peito corro para o carro fecho as portas e vidros, o teto é esmagado, me abaixo tentando me encaixar entre o banco e o chão, sinto um frio percorrer minha espinha, lembro que não estou sozinho ali, olho para o banco de trás e o vejo vazio, minha filha, antes que podesse me mover para alcançar o outro lado mais um golpe é dado destruindo por completo a traseira do veículo, já sinto as lágrimas escorrerem de meus olhos e irem até minha boca, bato a cabeça contra o piso, um feixe de luz do sol entra ali, levanto para ver, e a estrada estava livre agora.

- Papai? - a voz doce e aveludada me chama a atenção.

Olho para trás e minha pequena filha está sentada no banco com seu tablet nas mãos, como se nada tivesse acontecido. Em um salto vou até ela e a abraço, só então percebo que o carro também estava como antes, inteiro e sem qualquer amassado, minha mente entra em uma confusão ao pensar em tudo que acabou de acontecer, saio do carro e não vejo qualquer sinal dos gigantes, apenas a longa e vazia estrada.

- Você estava tendo um pesadelo? Porque se escondeu debaixo do banco papai - ela ria.

- Desculpa se te assustei meu bem, acho que foi só um sonho estranho - digo olhando para o horizonte.

Tento alcançar a menina e tocar em seu cabelo, mas um alarme toca em meu celular e o pego de dentro do meu bolso.

- Você tem que tomar seus remédios papai, já tem dois dias que não faz isso.

A voz aos poucos se esvai, olho para o lado e não a vejo, chamo por seu nome mas não sou atendido, o carro está completamente vazio assim como a estrada, olho para cima e uma luz vem em minha direção ofuscando minha visão, tudo ficou escuro e silencioso, tento correr para me esconder mas não encontro nada, uma mão surge fazendo uma grande sombra ao meu redor, ela estava prestes a me esmagar, me abaixo abraçando a mim mesmo antes do fim eminente.

- Com ele está hoje? - ouço a voz calma e baixa de um homem.

- Onde estou? - uma sala branca e a única coisa que consigo assimilar.

- O senhor vai ficar bem, só precisa descansar um pouco - uma mulher mexia em alguns remédios.

Tento me soltar da roupa que me prendia, mas era em vão.

- Você logo vai dormi tranquilo senhor, não se mexa.

Vejo a agulha perfurar minha pele, o líquido gelado percorrer minhas veias, tudo fica cada vez mais escuro, meu olhos não me obedessem, e então se fecham por completo.

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