› Um lugar melhor ‹

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Contém temas sensíveis

Um constante e irritante gotejar tomava conta dos meus ouvidos, tudo parecia ter perdido o som comparado as gotas do líquido que pingava na pia. Decido acabar com esse tormento, me levanto com certa dificuldade pelo tempo que fiquei sentada no chão.

Ao chegar no banheiro vejo a mão sangrenta que dispejava aos poucos o vermelho no ralo, a pego e seguro como se estivéssemos fechando um acordo, sinto como se a mão tivesse apertado a minha, começo a lembrar de seu antigo dono, era um homem de boa aparência, mas muito arrogante, se achava o dono do mundo, e de mim. Me olho no espelho e vejo que o corte no meu rosto era mais profundo do que imaginava. Ele tinha feito isso, mas logo teve o que merecia, olho para de baixo da pia e vejo o machado coberto de sangue. Ouço algo bater na parede do quarto, então vou ver oque poderia ser.

Meu anjinho acordou. Lucy estava amarrada nos pés e nas mãos, com um pano enrolado em sua boca impedindo que emitisse sons. Batia a cabeça na parede achando que alguém iria ouvir. Me aproximo dela com cuidado para não assustá-la, seu rosto está molhado, tirei cuidadosamente o pano de sua boca, sua expressão não era nada agradável, ela cospe no meu rosto.

- Sua vadia! Você vai pagar caro por isso! - ela começa a se debater, enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos - qual o seu problema?! - vejo suas veias quase saltarem para fora pela força que fazia tentado se soltar.

Limpo o rosto e passo a mão no cabelo desgrenhado de Lucy, sinto o calor emanar de seu corpo, ela tenta se desvencilhar do meu toque, seguro seu queixo para que olhasse para mim. Tinha olhos lindos não podia negar, azuis como o céu limpo em uma manhã, devia ter sido um dos motivos dele ter se apaixonado por ela. Tinha que livrá-la do fardo que iria carregar, só queria ajudar, porque ela me tratava assim?.

- Se você não se comportar não vou te soltar, ouviu? - digo rouca.

- Por favor... me tira daqui - sua voz sai fraca.

- E pra onde você quer ir?.

- Pra casa - mais lágrimas descem pelo seu rosto.

- Desculpa mas você não vai pra casa, seu marido era o único que tinha as chaves e as perdeu.

- Hugo?! Onde ele tá? O que você fez com ele? Fala!.

- Meu maninho já tá longe daqui - um riso me escapa.

- Hugo! - tapo a boca dela com a mão.

- Você não precisa dele, ele não merece seu amor Lucy.

Sinto a forte pressão dos dentes dela na minha pele. O som alto da palma da minha mão no rosto liso e delicado ecoou pelo quarto, já consigo ver o vermelho surgi no formato dos meus dedos.

- Desculpa, mas você não devia ter feito isso - olho seria para ela - por você não ter sido uma boa menina... vou te colocar perto do que sobrou dele.

- O que?! Me solta!.

Arrasto ela por toda a casa até chegarmos no banheiro, ela ainda se debatia, precisaria de mais se quisesse se livrar das amarras. A empurro para mais dentro do banheiro a deixando perto dos pedaços cortados e espalhados de seu querido e amado marido, aquele desgraçado. Posso sentir seu horror daqui, era como um desenho animado onde os olhos pulam para fora e o indivíduo fica branco como papel, foi engraçado até ela começar a vomitar, aquilo foi nojento.

- Tá bom chega! - a puxo para fora.

Suava frio, tento mantê-la acordada mas logo ela apaga. A deito na cama do quarto onde meus pais dormiam antes de morrerem.

Hugo não demorou para usá-lo como seu motel particular, era sempre uma mulher diferente. Me lembro de quando ele me apresentou Lucy à alguns meses atrás, era a primeira vez que apresentava alguém para a "familia". Ficaria feliz pelo casal se não soubesse quem meu irmão era de verdade. Quando o ouvir gritar em agonia ao separar sua mão de seu corpo, me lembrava de quando eu também gritava e chorava para que ele parasse, mas ele nunca me ouvia.

A parte oculta de mim - contosOnde histórias criam vida. Descubra agora