Juntas, saímos da cozinha, seguindo pelo corredor onde fica os quartos e um banheiro social, minha alegria contrasta com o visível desânimo de minha mãe. Eu posso até imaginar o caos emocional que ela está vivendo neste momento, a parte boa do seu cérebro deve estar dizendo que ela precisa perdoá-lo, enquanto seu lado vingativo insiste que ele deve queimar no inferno.
"Tomara que o bem vença o mal e meu pai seja perdoado". Penso enquanto a acompanho.
Após um banho, eu demoro um pouco para me arrumar, quero estar bem bonita para o meu pai, afinal, faz cinco anos que não o vejo, ele merece uma bela recepção. Escolho uma minissaia jeans curta e uma blusinha branca com bolinhas pretas, faço uma maquiagem leve, passo um batom cor de boca, calço uma sandália baixa, penteio meus cabelos e saio do quarto. Ao adentrar a cozinha, fico bem decepcionada, minha mãe está usando um vestido florido horrível, acho que é o mais feio que ela tem no guarda-roupas, é aquele tipo de roupa que você não sabe porque comprou, já que nunca vai usar. Além do mais, ela não fez questão nem de pentear o cabelo e passar um batom, acho que nem tomou banho. Coço a cabeça e dou um sorriso amarelo, ela realmente sabe como dizer: "você não merece que eu perca meu tempo me arrumando".
Eu a ajudo a colocar os pratos e os talheres sobre a mesa, estou arrumando as taças próximas aos pratos, quando ouvimos o som da buzina, meu coração dá um salto. Ver meu pai depois de tanto tempo é um acontecimento. Eu lembro muito bem dele, sempre atlético, a barba bem feita, os cabelos escuros e meio desalinhados, um pai moderno que gosta de se vestir bem e beber bons vinhos. Um verdadeiro cavalheiro.
Nesse momento, um turbilhão de emoções emergem dentro de mim, ao mesmo tempo em que estou muito feliz, estou assustada também, eu só quero que tudo dê certo, principalmente entre ele e minha mãe, é claro que também quero abraçá-lo muito e matar as saudades.
— Deve ser o seu pai! Fala minha mãe colocando o arroz sobre a mesa.
— É, com certeza é ele, mãe! Exclamo em um sorriso. Em seguida corro em direção a porta.
— Calma, Samanta, não precisa correria! Diz minha mãe ao ver-me saindo apressada.
Quando abro a porta e o vejo, começo a chorar, ele me abraça longamente e acaricia minhas costas. Não dá para descrever com palavras a emoção que sinto, não sei se choro ou se sorrio, na verdade, eu só quero continuar abraçada a ele e o chamando de pai.
— Eu também senti muitas saudades minha princesa. Ele diz me afastando um pouco. Vejo que ele está com os olhos cheios de lágrimas.
Alguns minutos depois, já recomposta, eu olho para o homem em minha frente, meu pai continua lindo e cheiroso, e como sempre, está vestido com roupas bem despojadas, só está meio grisalho, mas continua um gato.
— Você está perfeito com esta roupa, pai, e essa jaqueta, é de couro?
— Sim, é couro legítimo, comprei em uma promoção.
— Que chique! Falo o abraçando mais uma vez.
— Agora, deixe-me olhar para você! Diz ele me analisando. — Meu Deus! Você já é uma mulher! Eu voltei no momento certo. Ele diz num sorriso.
— Para, pai! Vamos entrar a mamãe está esperando.
— E ela, como está? Ele pergunta baixinho.
— Eu acho que é melhor você mesmo ver. Falo num riso falso.
— Hunff! Ele resmunga levantando a sobrancelha.
Entramos, minha mãe está nos aguardando na cozinha, ela já terminou de colocar a mesa e se aproxima de nós, num gesto corriqueiro, estende a mão em direção ao meu pai e com voz calma fala:
— Boa noite, Paulo, seja bem-vindo a minha casa. Sinta-se à vontade.
— Boa noite, Vera. Ele a cumprimenta. — Mas... por que tanta formalidade? Creio que não precisamos disso.
— Eu prefiro assim. Ela responde com voz firme.
— Claro, desculpa, você está na SUA casa. Ele retruca sarcástico.
— É, eu estou. Agora vamos jantar antes que a comida esfrie. Ela rebate sem alterar a voz, mas dá para ver a raiva contida nas palavras.
Sentamos junto a mesa, apesar de a comida estar deliciosa, o clima durante o jantar é frio e esquisito, ouve-se somente os talheres, batendo nos pratos e o tic-tac do relógio, pouquíssimas palavras são ditas, inclusive eu que sou sempre falante, fico silente, pois tenho medo de falar alguma coisa que penda para um dos lados e não é hora de cometer gafes.
— Eu trouxe um presente para você, Sam. Está lá no carro. Diz meu pai cortando o silêncio.
— Posso ir pegar? Pergunto fazendo menção em me levantar da cadeira.
— Não! Exclama minha mãe. — Primeiro termine seu jantar.
— Deixa, mãe. Reclamo chorosa.
— Eu já falei que não! Ela reafirma.
— Sua mãe tem razão, filha, vamos terminar o jantar, depois, pegamos o presente.
— Agora você quer opinar, Paulo? Acho que já é tarde para isso. Diz minha mãe o encarando.
— Eu não estou opinando, só estou concordando com você. Justifica meu pai.
— Eu não preciso que você concorde com nada! Ela exclama batendo o guardanapo sobre a mesa.
A discussão entre os dois fica tensa, começa uma enxurrada de acusações, acontecimentos de dez mil anos atrás vêm à tona, enquanto eles se acusam mutualmente, eu coloco a mão debaixo do meu queixo e observo. Eles parecem duas crianças brigando por um inútil brinquedo que não tem nenhum valor. Diante do caos instalado, tomo uma decisão, levanto-me da mesa e saio correndo em direção a sala. Quando minha minha mãe vê minha atitude, ela grita:
— Sam, onde você vai? Volta para a mesa agora!
Eu paro, viro-me e com voz embargada falo.
— O que está acontecendo com vocês dois? Parecem duas crianças. Eu só queria um jantar tranquilo com meus pais. Será que vocês podem ser civilizados e se comportarem como adultos? Que saco!
— Olha só, você deixou ela triste. Acusa meu pai.
— Ah, agora a culpa é minha! Você quem começou. Minha mãe reclama.
Vendo que eles não pretendem parar de brigar, maneio a cabeça e sigo em direção ao corredor, minha respiração está ofegante e tenho um nó preso na garganta. Então eu ouço os passos da minha mãe atrás de mim e seus gritos pedindo para eu parar. Eu não a obedeço e sigo para o meu quarto, antes que eu abra a porta, ela me segura pelo braço, seu olhar é de quase desespero.
— Filha, por favor, desculpa. Eu não sei o que aconteceu comigo, acho que perdi o controle. Vamos terminar o jantar. Eu prometo que não farei mais nada para estragar a noite.
Meio a contragosto, eu a acompanho, ela me abraça e afaga meus cabelos e mais uma vez pede desculpa.
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O que meu horóscopo diz
JugendliteraturSinopse: Samanta, uma adolescente de dezessete anos que mora com sua mãe, ela e Henrique são amigos de longa data. Tudo muda quando ambos percebem que o que existe entre eles é mais que amizade.