Cinco minutos depois, mamãe desliga o telefone e o coloca sobre a mesa do jantar, puxa a cadeira e senta, pega o garfo e fica mexendo com a comida, sem no entanto comê-la. Eu chego a conclusão que alguma coisa não está bem. Embora eu esteja curiosa para saber sobre o que conversaram, eu não me atrevo a perguntar. Por fim, ela suspira profundamente e fala.
— Seu pai confirmou o jantar. Então manhã o meu dia será bem corrido, terei que ir ao supermercado antes de ir para o trabalho, e sair mais cedo da escola para preparar o jantar. Ela bate com os dedos na borda da mesa e completa. — Meu Deus! Isso vai ser bem difícil.
Vejo que ela está nervosa, agora as mãos estão entrelaçadas e os dedos apertados, ela morde os lábios e gesticula com a cabeça, fico preocupada em vê-la naquele estado, levanto-me da cadeira, vou até ela e seguro suas mãos trêmulas e frias. O tic tac do relógio na parede parece bater mais forte.
— Mãe, por favor, não fique assim. É só um jantar com o papai, vai dar tudo certo. Não precisamos nos desesperar, eu vou estar ao seu lado.
— Desculpa, eu sou uma boba que sempre sofro por antecedência, você sabe. Ela ri e ao mesmo tempo gesticula demonstrando ansiedade.
— É, eu sei, você é minha mãe há dezessete anos. Digo em meio a um riso forçado. Ela suspira e me fala:
— Ele quer que você faça aquela torta, aquela de morangos que ele te ensinou. Ela coloca a mão na testa e me pergunta: —Você sabe quais ingredientes eu devo comprar?
— Eu vou fazer uma lista e amanhã antes de ir para o trabalho, eu a deixo sobre mesinha de centro.
— Oh, meu Deus, eu não tenho motivos para estar assim, vai dar tudo certo! Ela desabafa.
— Mãe, desculpa eu perguntar, mas você está preocupada com o jantar ou porque vai ver o papai?
— Eu acho que são as duas coisas, ver o Paulo depois de tanto tempo, sei lá, parece estranho, e é bem louco não saber como será minha reação. Isso é terrível! Ela confessa angustiada.
— Então você ainda sente alguma coisa por ele?
— Claro que não! Como eu poderia sentir alguma coisa pelo seu pai, você sabe... seu pai... ele... ele...
— Tudo bem, Dona Vera, esquece meu pai, esquece este jantar e vamos assistir um pouco de televisão, acho que está passando aquele programa que você gosta, aquele do show de talentos.
Ela me abraça e afaga meus cabelos, sinto o calor gostoso que vem do corpo dela, me aconchego em seu pescoço e a beijo no rosto, ela está bastante vulnerável e precisando de mim.
— Eu amo você, amo muito, mãe; desculpa ter feito aquela pergunta idiota.
— Não foi uma pergunta idiota, é que eu ainda não estou pronta para falar sobre isso; você entende?
— Eu entendo. Respondo baixinho.
Juntas vamos para a sala, que o maior espaço da casa, as paredes verde-claras são decoradas por alguns quadros de flores e paisagens, oposta ao sofá, tem uma estante com livros e porta-retratos com fotos de mãe e filha. Há fotos do meu pai, somente no quarto.
Tiro minhas pantufas e deixo-as sobre o tapete branco gelo, depois, eu me deito em um dos lados do sofá, recosto minha cabeça em uma almofada e coloco meus pés sobre o encosto, é um sofá grande em formato de L, que toma um bom espaço da sala, o tecido cinza e macio é bastante aconchegante. Minha mãe pega o controle que está sobre a mesinha de centro marrom e liga a televisão, o programa já havia começado.
Minha mãe adora aquele programa, é aquele tipo de atração que traz cantores, bailarinos ou qualquer pessoa que tenha algum talento, às vezes tem apresentações muito boas. Enquanto assistimos ao programa, minha mente volta a pergunta que eu tinha feito para minha mãe, pergunta que eu não devia nem pensar em fazer, pois sei o quanto ela ainda está machucada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que meu horóscopo diz
Ficção AdolescenteSinopse: Samanta, uma adolescente de dezessete anos que mora com sua mãe, ela e Henrique são amigos de longa data. Tudo muda quando ambos percebem que o que existe entre eles é mais que amizade.