5º Capítulo: O que meu horóscopo diz

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Naquela quinta-feira, eu peço a Sofia para sair mais cedo do trabalho, conto a ela que tenho que fazer a torta preferida do meu pai.

— Uma torta? Ela pergunta duvidando.

— Na verdade não é bem uma torta. Falo arregalando um pouco os olhos. — É um escondidinho de morangos. Eu aprendi esta receita quando eu tinha dez ou onze anos, foi o meu pai quem me ensinou, e posso garantir que é deliciosa! Explico animada.

— Ok, florzinha, você pode sair mais cedo, e se sobrar da tal "torta" traz um pedacinho para mim. Ela pede.

 — Você está duvidando de mim, né? Está duvidando dos meus talentos culinários. Falo em tom de brincadeira.

— Eu? Imagina! Ela diz colocando a mão sobre o peito.

— Há há, há! Já sei porque está falando isso, a mamãe me contou sobre o pudim que você tentou fazer.

— Que pudim? Ai meu Deus, a Vera te contou isso? Ela diz balançando a cabeça.

 — Contou, e contou também sobre a vez que você tentou preparar um camarão na moranga, ela disse que foi hilário, como é mesmo que ela falou? Faço uma pausa tentando lembrar às palavras usadas por minha mãe. A Sofia revira os olhos e torce os lábios, ela não deixa eu completar minha fala, e, praticamente me expulsa da sala onde fica o atendimento aos clientes.

— Ok, Florzinha, a conversa está ótima, mas já que você terá que sair mais cedo, é melhor voltar ao trabalho, tem muita coisa para você fazer. Vai, vai, o serviço te aguarda. Ela diz em tom de brincadeira.

Trabalho mais algumas horas e, finalmente, tiro o jaleco para ir para casa. O trajeto parece mais longo e cansativo, gotículas de suor caem da minha testa e minha respiração está um pouco ofegante. Meus passos são rápidos, as árvores e os postes passam por mim como se fossem sombras.

Ao chegar em casa, vejo que o portão está aberto e o carro da minha mãe já está na garagem, deduzo que ela já está em casa fazendo o jantar. Caminho pela curta calçada até a porta de entrada, viro o trinco e abro a porta e entro casa a dentro; arranco minha bolsa e a jogo sobre o sofá, em segundos estou na cozinha; minha mãe está com a roupa do trabalho e enfiada em um avental florido.

— Ai, graças a Deus você chegou, eu já estava desesperada! Diz minha mãe levantando as mãos para o alto.

— Eu vim o mais rápido que pude, ainda bem que a Sofia deixou que eu saísse mais cedo. Falo pegando outro avental na gaveta do armário e amarrando-o em mim. — Eu vou fazer a sobremesa, depois, eu te ajudo com o jantar. Isso aqui vai ser rápido, é só bater o creme no liquidificador e cortar os morangos.

— Seu pai deve chegar lá pelas oito da noite, espero que tudo esteja pronto a tempo. Ela comenta enquanto tempera alguns filés de frango.

—Eu preciso bater o creme de leite com o leite condensado, onde está o liquidificador, mãe? Ele devia estar em cima da geladeira! Reclamo.

 — Eu o guardei no armário da pia, este liquidificador está horrível, fica enfeando minha geladeira, eu vou comprar um liquidificador novo!

Abro a primeira porta e não acho o liquidificador, suspiro, minha mãe e sua mania de mudar tudo de lugar!

— Está na outra porta! Diz ela apontando com o dedo.

— Nesta? Falo abrindo a quinta porta do armário.

Finalmente, eu encontro o liquidificador escondido atrás de algumas caixas de aveia, tenho o trabalho de tirar as caixas para pegar o objeto.

— E a travessa redonda? Pergunto após tirar o velho liquidificador de dentro do armário.

 — A travessa redonda está na parte superior do armário, antes de colocar o creme passe uma água nela, pode estar com cheiro de baratas. Diz minha mãe colocando alguns temperos na carne.

Após bater o creme, começo a cortar os morangos, estão com uma aparência ótima. Experimento um para ver se estão, de fato, gostosos.

— Hummmm! Que delícia! Onde você comprou os morangos, mãe?

— Desse jeito não vai sobrar morangos para o recheio. Diz ela ao me ver comer mais dois morangos.

— Desculpa, mas eu não resisti. Ela maneia a cabeça e faz cara feia. — Ok, Dona Vera, ok. Pondero.

É claro que ao preparar o creme, eu faço uma pequena bagunça na cozinha, mas a sobremesa fica tão linda, que me dá um certo prazer. Ao ver a delícia em minha frente, sorrio animada, minha mente volta ao passado, tempo em que eu tinha apenas dez ou onze anos de idade, quando eu ainda era uma criança e meu pai me ensinou a fazer aquele doce.

— O segredo está no tempo de bater o creme e em como cortar os morangos. Ele dizia enquanto eu o ajudava.

Escondo os últimos pedaços de morango no creme, depois abro a geladeira e afasto algumas garrafas d'água para ter espaço suficiente para colocar a tigela com o creme. Agora estou livre para ajudar minha mãe, que parece meio atrapalhada cortando os legumes e refogando o arroz. Não demora muito o cheiro de frango grelhado espalha pela cozinha, após grelhar os pedaços, ela coloca alguns legumes na manteiga para enfeitar o prato, em seguida desliga a panela do arroz.

— Pronto, terminamos, a salada já está na geladeira e o molho também. Ela diz aliviada. — Eu vou tomar um banho, e, você devia fazer o mesmo.

— Com certeza, estou cheirando a frango e a alho.



O que meu horóscopo dizOnde histórias criam vida. Descubra agora