Moonvale - A Promessa

Capítulo 1: 00:03 (Moonvale - EP 1)

"We'll be a fine line
We'll be a fine line
We'll be a fine line
We'll be alright..."

Fine Line - Harry Styles.

「---」

Haviam se passado duas semanas desde que tudo acontece.

Ainda havia sol pela manhã, os pássaros continuavam cantando, pessoas passavam todos os dias pela calçada do prédio onde vivo, seguindo suas vidas normalmente.

"Eu ainda estou aqui. Ainda continuo aqui", era o que eu dizia ao acordar agitada após mais uma tortura chamada pesadelo. É sempre a mesma coisa. Aparentemente, o que aconteceu na minha vida foi completamente insignificante. Eu passo pelas pessoas e observo que elas não sabem de nada do que aconteceu comigo, do que eu vivi, do que senti semanas atrás, do que eu fui obrigada a ver.

A ferida é mais profunda do que parece, apenas um curativo não dá conta, eu continuo sangrando, sangrando e sangrando. Ninguém vai ligar para um pouco de sangue, não é mesmo?

Me obriguei a abrir um sorriso quando vi Axel vindo na minha direção. Ele exibiu um dos seus sorrisos que encantaria qualquer garota que o visse.

— Olá, querida — ele beijou o topo da minha cabeça antes de puxar a cadeira da minha frente e se sentar, colocando as mãos em cima da mesa. — Como você está?

Encarei os seus olhos verdes que carregavam um brilho intenso. Um brilho que deixava transbordar a sua sede pela vida, pela necessidade absurda de se deixar sentir tudo.

— Indo, e você? — Tomei um gole do café que havia pedido quando cheguei no estabelecimento.

— Você sabe a resposta — ele deu de ombros.

"Vivendo", essa é a sua resposta quando é interrogado sobre como ele está. É uma resposta simples, direta e sem mentiras. Axel já me aconselhou a usá-la, mas eu prefiro mentir. Talvez um dia eu acabe acreditando na minha própria mentira e as coisas finalmente fiquem bem.

Axel pediu uma pequena xícara de expresso — ele adora mesmo as bebidas alcoólicas. Conversamos sobre coisas do dia a dia, coisas aleatórias, como Axel preferia chamar. Ele nunca permanecia em um mesmo assunto por muito tempo. Eu suspeito que ele talvez possa ter TDAH.

Todas as manhãs nós combinamos de nos encontrar nesse pequeno estabelecimento de Elk Grove, uma pequena cidade cercada de florestas onde, na primavera, são repletas de alces. É meio irônico porque a cada maldita esquina que eu dobro é possível avistar a vasta floresta, um lembrete constante, uma garantia de que eu nunca conseguirei apagar Duskwood da minha cabeça.

— S/n? — Ouvi Axel me chamar. Pisquei e o encarei, percebendo que havia acontecido de novo, eu estou presa debaixo de todos esses escombros. Quando vejo uma luz, uma chance de escapar, as lembranças me puxam de volta para mais fundo, é algo que não consigo evitar. — Podemos ir agora, meu bem?

Olhei em volta, Axel já havia pagado a conta e deixou uma gorjeta ao lado do menu para que algum funcionário pudesse pegar depois.

— Axel, eu poderia ter pago o meu. — Protestei ao sair da cadeira.

Ele revirou os olhos e segurou a minha mão, me puxando para fora do estabelecimento.

— Vamos, você tá precisando se divertir um pouco.

A ideia de diversão do Axel é igual a minha: arriscar nossas vidas em algo banal, mas que nos beneficia prazer de nos sentir vivos novamente. Só que ultimamente não tem sido bem assim... Não para mim, pelo menos.