LUTO

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Se procurarmos no dicionário a definição da palavra luto encontraremos: o conjunto de reações, sentimentos e experiências de quem perde algo ou alguém.

Viver o luto é como se o mundo perdesse todas as cores e brilhos e de uma hora para outra você se deparasse com o fundo do poço e precisasse aprender a sobreviver nele.

Dizem que para passar pelo luto precisamos enfrentar 5 etapas: A primeira é a negação: é o choque inicial, é o sentimento de autodefesa, é você negar que perdeu alguém que tanto ama. Depois, vem a raiva, a segunda etapa, no qual começa a surgir o sentimento de revolta e ressentimento por aquilo está acontecendo. Depois vem a barganha, que consiste no ato de reverter aquele acontecimento, implorando a Deus ou em outras crenças para tentar fazer aquela pessoa voltar ou que tudo não passe de um pesadelo. Em seguida, vem a depressão, no qual a pessoa guarda consigo sentimentos profundos de tristeza. E, por fim, vem a aceitação, que é o momento em que aprendemos a conviver com a dor e a saudade.

Mas e se nós não nos permitimos passar por todas essas etapas? E se simplesmente escolhemos trancar nossas dores no mais fundo do nosso coração?

O capítulo de hoje é sobre dores e renúncias.

Meados de 2022, segundo dia de vida da pequena Sara.

Adriana dormia pesadamente no quarto da maternidade. Faziam 2 dias que ela tinha dado a luz a sua filha, em casa e no meio da sala, mas em seguida foram levadas ao hospital para passar por alguns exames e auxílio médico e, por mais que mãe e filha passassem bem, os médicos acharam melhor deixá-las alguns dias de observação no hospital.

Seu sono pesado é interrompido por uma voz que cantarolava ao fundo e aos poucos ia despertando a ruiva...

“Se essa rua, se essa rua fosse minha... Eu mandava, eu mandava ladrilhar... Com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes, para o meu, para o meu amor passar...”

Adriana foi abrindo os olhos vagarosamente, ainda sendo embalada por aquela voz que cantava suavemente. Quando deu por si estava vendo Ariadne com a pequena Sara nos braços, sentada em um sofá que havia no quarto da maternidade.

Adriana: O que você está fazendo aqui? Me dá a minha filha agora! (Tenta se levantar rapidamente da cama mas sente dores nos pontos que levou após o nascimento da filha)

Ariadne: Ei, calminha aí, você acabou de parir, precisa ir com calma! (Continua sentada e segurando a bebê)

Adriana: Calma? Como vou ter calma se você invadiu meu quarto sem autorização e ainda está com minha filha nos braços? (Tenta se apoiar na cama)

Ariadne: Você fala como se eu estivesse fazendo uma coisa terrível. Mas não. Eu apenas vim lhe parabenizar pelo  nascimento da menina, e quando cheguei aqui encontrei ela acordando, apenas quis ninar ela.

Adriana: Eu não lhe dei esse direito. Me dê a minha filha! (Consegue se levantar e pegar a menina do colo da mulher) O que você está fazendo aqui?

Ariadne: Eu decidi ver com meus próprios olhos a família que deveria ter sido minha. Você sabia que eu deveria ter sido a mãe do filho dele?

Adriana: Você fala como se eu tivesse culpa, como se eu tivesse me colocado entre você dois.

Ariadne: E você não se colocou entre nós? Eu voltei para o Brasil com o intuito de me reencontrar com o Zé e construirmos a família que NÓS DOIS HAVÍAMOS SONHADO!

Adriana: Se passaram mais de 20 ANOS da sua ida para Nova Iorque, você achava o que? Que ele estaria sentadinho esperando você voltar?

Ariadne: ELE ME AMAVA.

Adriana: NÃO AMA MAIS! (A pequena Sara, que está no colo da mãe, começa a chorar)

Ariadne: Me dá ela, deixa eu acalmar a pobrezinha. (Tenta se aproximar mas a ruiva se afasta)

Adriana: Não ouse tocar na minha filha!

Ariadne: Essa filha deveria ser minha! Eu que deveria ter dado um filho para ele, o filho que ele tanto sonhou. (Sentou no sofá e se perdeu em pensamentos) Sabia que nós dois quase tivemos um filho?

Adriana: Eu sinto muito pela sua perda. (Sentou na cama e começou a ninar a filha)

Ariadne: Eu nunca tinha pensado em me casar e muito menos em ter filhos. Achava que casamento e filhos iria me prender, me moldar, mas daí eu conheci o Zé... Tudo o que mais quis era construir uma família com ele, ter a nossa casa, os nossos filhos. Mas tudo foi destruído... Você sabe como é a dor de perder um filho? (Olha para Adriana com os olhos marejados)

Adriana: Sei... senti essa mesma dor cinco vezes. (Olhou para o nada como se estivesse lembrando das vezes que perdeu os bebês)

Ariadne: Eu sinto muito, eu não sabia.

Um silêncio ensurdecedor surgiu naquele quarto da maternidade. Ambas as mulheres ficaram presas em seus próprios pensamentos e lembranças, enquanto a pequena Sara dormia no colo da mãe.

Adriana: O Zé se culpa por isso. (Finalmente falou)

Ariadne: Mas não foi culpa dele. Na verdade não foi culpa de ninguém. Os três primeiros meses de gestação são os mais...

Adriana: Delicados.

Ariadne: Perigosos. (Falaram ao mesmo tempo) Ele apenas não atendeu o telefone.

Adriana: Teria mudado alguma coisa caso tivesse atendido?

Ariadne: Não. Acho que não. Talvez não desse tempo de qualquer forma.

Adriana: Ou talvez desse.

Ariadne: Nunca saberemos. (Mais uma vez o silêncio se instaurou sobre elas) Eu já tinha comprado algumas roupinhas para o meu bebê. Mas todas neutras porque não sabíamos se seria Daniel ou Luísa... No fundo acho que seria Daniel, e dizem que intuição de mãe não se engana, não é? (Sorri fraco)

Adriana: De verdade, Ariadne, eu sinto muito pela sua perda. Eu sei o quanto perder um filho dói, mas quero que entenda que eu não tomei o seu lugar, vocês já não tinham mais nada quando eu cheguei.

Ariadne: Eu sei que não, agora eu sei... (Fica em silêncio por alguns minutos) Depois que perdi o bebê, uma tristeza enorme preencheu meu coração, eu achava que minha vida não tinha mais sentido, que eu precisava fugir desses sentimentos. Como eu poderia ficar aqui se todas as vezes que eu olhava para o Zé eu via a tristeza e a culpa consumindo ele? Como eu poderia ficar aqui se todas as vezes que eu ficava naquele apartamento eu pensava no nosso filho correndo pelos cômodos? Eu precisava ir embora, eu tinha que ir para o mais longe que eu podia. Eu precisava fugir daquela dor.

Adriana: Mas você se esquece que o Zé estava na mesma situação que você, ele também tinha perdido um filho, ele também sentia essa dor... Era o filho de vocês, a dor de vocês, o luto de vocês.

Ariadne: Só o meu sofrimento importava.

Adriana: E por que você voltou depois de tantos anos?

Ariadne: Depois de tudo o que aconteceu eu tive vergonha de voltar e encarar o Zé, até que recebi uma proposta de trabalho e decidi que era hora de voltar para casa e me reencontrar com o meu passado. Mas dei de cara com você na vida dele.

Adriana: E me culpa por ele não querer mais nada com você?

Ariadne: Eu não culpo ninguém, apenas me arrependo de ter aberto mão da família que poderíamos construir juntos. (Seca as lágrimas) Mas tudo bem, passou agora. (Se levanta do sofá e se aproxima de Adriana) Qual é o nome dela?

Adriana: Sara.

Ariadne: Deixa eu segurar a Sarinha, deixa. Deixa eu pensar que ela é a minha filha, a filha que eu não dei para ele. Só por alguns instantes, deixa. (Vai na direção de Adriana e tenta pegar a bebê do colo da mãe)

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Notas da autora: Oi, pessoal! Esse capítulo é muito importante para o desenvolver da história e principalmente, para vocês conhecerem Ariadne de verdade. Espero que gostem!

Ah, tentarei atualizar a fanfic toda segunda-feira. Então temos um encontro marcado, tá?

Fiquem bem, se cuidem e até logo❤

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⏰ Última atualização: May 28 ⏰

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