Voltei a biblioteca, a curiosidade me perturbava o sono como sempre acontecia quando algo fora do normal acontecia e coisas fugiam do meu controle, embora devesse estar acostumado com acontecimentos do tipo.
O tapete, antes liso e empoeirado pelo desuso, hoje estava remexido e podia ver as trilhas que as duas leitoras aventureiras deixavam ao explorar o lugar, as velas estavam chegando ao fim e anotei mentalmente que deveria pedir a alguém que as trocasse.
Contornei as estantes escuras e altas, me guiando pela memória da última vez que encontrei a que tanto procurava. Após errar uma curva, encontrei-a banhada pela luz da lua, o frio da biblioteca me fez tremer e logo acendi o candelabro mais próximo, desejando que o pouco calor aliviasse os arrepios.
A estante permanecia do mesmo jeito que a deixei da última vez que a encontrei, passei os dedos pelas lombadas dos livros tentando escolher um dos títulos. Sentei-me no chão, desejando que não apareça alguém para me importunar, e peguei um colorido mais embaixo.
"O dragão e a Princesa"
Parecia aquelas histórias infantis que nunca pudemos comprar quando eu era menor, folheei as páginas recheadas de desenhos e de linguagem simples. Para quem seria aquela estante? Lembro-me de um rumor de casamento do antigo duque, ele era considerado um libertino na juventude e isso acarretou em problemas para algumas damas, inclusive para minha mãe.
Recostei-me no assento da poltrona posta na janela e abri no primeiro capítulo. Novamente desejando que ninguém aparecesse na biblioteca, abri no primeiro capítulo e comecei a ler a história infantil, me permitindo fazer algo que nunca imaginei fazer em toda minha vida.
"Era uma vez, um reino feliz e próspero aguardava ansiosamente a chegada da princesa. A Rainha Magda finalmente conseguiu ter uma filha e o reino estava em festa, felizes pela conquista dos monarcas."
Abaixo estava um desenho do reino que tomava todo o resto da folha, dava para ver a rainha com uma bebê em seus braços em uma das torres do castelo e os súditos em posições de dança no pátio, não contive um pequeno sorriso, meu coração se apertou.
"A menina crescia e todos gostavam dela. Um dia, o rei saiu com seus soldados atrás de uma misteriosa criatura que cuspia fogo, destruía plantações e roubava animais dos camponeses do sul. A princesa e sua mãe ficaram preocupadas com seu pai e aqueles que o acompanharam, mas logo voltaram vitoriosos e o reino comemorou a conquista do corajoso rei."
O desenho no pé da folha mostrava a tropa do rei, com bandeiras coloridas e confetes festivos ao redor deles.
"Mas o monstro não fora derrotado e caçou o Rei, destruindo reinos em seu caminho. Durante anos o reino viveu em paz mas ouviam rumores de uma criatura cruel e destruidora de cidades, todo o reino se preparou para a chegada do monstro. Quando o dragão chegou, o rei não conseguiu conter a fúria dele e tentou barganhar para não perder seus súditos e sua família que tanto amava, sabendo dessa fraqueza do soberano a criatura pediu sua filha em troca do reino, saiu prometendo voltar ao pôr-do-sol para buscá-la."
A mistura de sombras e a luz da vela dava um ar sombrio ao desenho do enorme dragão "falando" com o rei, atrás deles estavam a princesa e a rainha abraçadas chorando. Virei a página.
"O rei estava decidido a não deixar sua filha nas mãos do monstro mas ela não queria que seu povo e seu pai estivessem em perigo, por isso, fugiu assim que o sol desceu no horizonte e encontrou o dragão próximo a entrada da cidade. O enorme animal a olhou presunçoso, e se aproximou da jovem decidida a sua frente.
ㅡ Você não teme por sua vida? ㅡ Perguntou ele.
ㅡ Aqueles que amo são maiores que minha vida. ㅡ Ela cerrou os pulsos, despertando a curiosidade do dragão.
ㅡ Qual seu nome, minha jovem?
ㅡ Lucy de Craeys! E o seu?
ㅡ Meu nome não lhe importa. ㅡ A garota se indignou mas obedeceu a ordem silenciosa do dragão de subir em suas mãos. Ele alcançou voo e a última coisa que viu antes de se afastarem foi o exército do rei na entrada do reino, seu pai atiçou o cavalo na direção deles mas estavam muito longe."
O desenho mostrava a princesa nas garras do monstro que voava sobre a floresta, o rei estava na clareira e seu exército atrás com tochas e as armas em punho. Os desenhos não eram simples, podia-se enxergar nas linhas que formavam o rosto do soberano a preocupação com sua filha, o medo, como se não suportasse perder sua tão amada princesa.
Observei seu rosto, será que meu pai já olhou assim para alguém? Massageei os olhos. O que estou fazendo aqui a essa hora? Devo estar ficando louco... vou tirar o dia de amanhã de descanso... Estava me levantando quando um barulho de algo caindo me assustou, corri até o corredor, só conseguindo ver alguns livros no chão antes das portas rangerem indicando que alguém tinha saído. Senti meu coração parar de bater por um momento, alguém me viu...
O que vou fazer? E se a notícia de que o duque estava lendo livros infantis de madrugada se espalhasse? Mas, não tem como saber o que estava lendo... ou tem? Devo evitar vir aqui por um tempo...
Sai imediatamente da biblioteca, olhando a todo momento para trás, tremendo que alguém estivesse alí. Meu coração estava acelerado quando deitei na cama e demorei a me acalmar, não sei quando dormi mas sei que princesas corajosas, dragões cuspidores de fogo e boas famílias preencheram meus sonhos essa noite.
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Oie
Um bem curtinho hoje porque estou muito tempo sem publicar, senti saudade de vocês kkk
E aí, gostaram da história que criei?
Teorias?
Obrigada a todos que vieram até aqui, são muito especiais para mim!
Beijoss
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Labirinto das Almas
Любовные романыA morte do duque de Trichetkyev não deveria ser um problema para Victor, até que ele é declarado seu pai e o jovem precisa assumir um título que não sabia que herdaria. Agora, ele precisa mudar totalmente de vida e sair de sua casa em Chonalle pa...