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Giovanna Antonelli

Pensando pelo lado positivo das coisas, pelo menos a minha vida não é monótona. Aliás, está muito longe disso.

A cada novo dia, uma nova experiência pra poder dizer que vivi tudo que há pra viver quando chegar o meu dia de morrer. E é por esses pensamentos que vez ou outra eu acabo me metendo em algumas enrascadas. 

— Por que tu tá assim ein? — Alessandra perguntou, enquanto enchia mais uma vez sua taça de vinho.

As segundas-feiras sempre passamos em casa, enfurnadas em nosso sofá assistindo qualquer merda que estiver passando na televisão. É o dia da semana para sermos pessoas normais, amigas que gostam de estar perto da outra.

Ou melhor, é o dia de colocar a fofoca em dia.

— Hã? — me fiz de sonsa, mas sabia muito bem onde ela queria chegar.

— Tu pode se fazer pros outros, mas a mim você não engana, Giovanna. — balançou a cabeça de um lado pro outro em negação. — É o lutador?

Alexandre é um toque sensibilíssimo pra mim, simplesmente porque eu não sei explicar o que acontece. Não sei o que é isso que nós temos, não sei o que é essa conexão explosiva que acontece entre nós dois.

Não sei de muita coisa na verdade, e é tudo culpa dele.

— Ele me mandou mensagem agora de pouco, me chamando pra ir jantar na casa dele... Parece que ele contou sobre os treinos e a mãe dele quer me conhecer direito. — falei rápido, já imaginando que minha amiga iria entender aquela fala da forma dela, do jeito que fosse mais conveniente.

— Ihhh, já tá até conhecendo a família do cara. — brincou, mas logo ficou séria de novo. — E isso tá te preocupando, por que?

A verdade é que nem eu mesma sei o que me incomoda nessa situação toda, ou sei e finjo que não. Mas pra mim é muito difícil me envolver com a família de qualquer outra pessoa, talvez pelos meus traumas pessoais.

Nem mesmo com Alessandra eu tinha esse tipo de envolvimento, tentava me manter longe de festas em família, de reuniões e aniversários. Odiava ver mãe e filho se dando bem, odiei ver a forma que Alexandre e Iracema se tratavam.

Odiei porque queria ter tido a chance de viver isso ao lado da minha mãe, da pessoa que talvez eu mais sinta falta nessa vida.

É triste demais quando a gente perde pra sempre alguém que não morreu.

— Você sabe o porquê, Ale... Não gosto de me envolver com ninguém a esse ponto, acho que é difícil demais pra mim. 

Não existe outra pessoa no mundo que consiga tirar de mim toda essa angústia, de colocar pra fora tudo que eu sinto. Só Alessandra, apenas ela.

— Você pode falar que não. — sugeriu, me olhando com aquele olhar curioso.

— Eu...

— Você não quer falar não. — concluiu, não deixando nem que eu falasse o meu ponto de vista.

— Não. — fui sincera, não dava pra fugir dela. Ela sempre consegue me ler. — Eu não sei explicar, Ale. Apesar de me incomodar com a situação em si, eu sinto que preciso ir. 

— Você tá envolvida, Gio. 

Sua fala tirou de mim um olhar arregalado e um desespero crescente que nasceu no fundo do meu peito. Me apavorava a simplesmente ideia de me apegar a alguém, de depender de alguém pra qualquer coisa, por mínimo que fosse.

NocauteOnde histórias criam vida. Descubra agora