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Alexandre Nero

Depois de casados, passei a acompanhar minha mulher em todos os seus compromissos de dondoca. Fossem eles profissionais, fosse apenas uma passadinha no shopping pra gastar todo o seu dinheiro.

Ainda bem que a minha profissão me permite ter essa flexibilidade de horários, pra estar sempre com ela, porque é algo que eu não quero ter que abrir mão.

— Vou ficar ali no bar até você terminar, tá bom? — avisei, dando apenas um aceno de cabeça.

Mais uma noite em que eu a acompanho nos seus jogos de Poker, ficando só de olho se nenhum marmanjo vai crescer pra cima dela e abusar da minha boa vontade. Não tinha mais coragem de deixá-la ir sozinha nesses jogos, depois de ver de perto como as coisas funcionam por aqui.

Sou protetor demais pra isso, então, ela sempre dá um jeito de não deixar seus jogos coincidirem com meus campeonatos. Dessa forma, nós dois conseguimos estar com o outro sem grandes problemas.

— Ta certo. — respondeu fria, como era o nosso combinado.

Nada de demonstrações de afeto nos salões, era melhor que ninguém soubesse que somos casados. Até a aliança ela faz questão de tirar antes de vir para cá, já é padrão.

Até porque, ela se utiliza do artifício de estar sozinha para conseguir algumas coisas. Então, nada mais justo do que eu seguir o seu teatro.

— Boa noite. — uma mulher morena de cabelos cacheados parou do meu lado no bar, direcionando o olhar e a fala diretamente pra mim.

— Tá falando comigo? — me fiz de sonso, que é melhor do que dar bolo.

Só eu sei o quanto a minha mulher é brava e em como é difícil lidar com os momentos de ciúme que ela tem, o melhor é sempre me manter na linha. 

— Tem mais alguém aqui? — sorriu pra mim, mas eu só voltei a beber meu drink, ignorando-a. — Hum... Ele é difícil, então...

Ô mulherzinha insistente, viu?

— Sou casado. — mostrei a aliança no meu dedo, fazendo questão que ela visse bem o dourado brilhante.

— Não sou ciumenta. — a mulher teve a cara de pau de soltar essa, dando um sorrisinho na minha direção.

Fala sério?

Dei uma risadinha incrédula, balançando a cabeça em negativa.

— Com licença. — virei o restante da bebida do meu corpo, me levantando e saindo dali em direção a única mulher que me interessava.

Me posicionei atrás do corpo de Giovanna, notando que o jogo já estava pra mais da metade naquele momento. E obviamente, ela era uma das que estava melhor colocada na mesa.

Foi o tempo de eu sentir uma de suas mãos indo até a minha perna, deixando um beliscão tão forte quanto ela conseguia naquela posição, sem que ninguém nos visse.

— Ai, porra! — murmurei baixo, apertando minha mão no seu ombro. — Que isso? Tá doida?

Me abaixei pra conseguir passar a mão pelo lugar que ela apertou e que estava totalmente dolorido pela sua mão pesada, querendo esganá-la.

— Pra você aprender a não sair dando trela pra qualquer mulherzinha que chega perto de você. — falou sussurrando também, sem deixar de prestar atenção no jogo.

Como ela conseguiu ver o que acabou de acontecer no bar? Enquanto continuava a jogar como se nada tivesse acontecido.

Coisa de mulher mesmo, fazer duas coisas ao mesmo tempo.

— Mulher brava da porra. — resmunguei, ainda passando a mão pelo local que ela tinha me beliscado.

Totalmente doida, como pode, né? 

Fiquei parado atrás dela até o final do jogo, assistindo enquanto ela dobrava cada um dos seus oponentes com sua conversa afiada e jogadas extraordinárias. Ela é ordinária demais, por isso que se dá tão bem em um esporte como esse.

Depois de levar toda a grana deles, levantou na maior graciosidade se despedindo de todos que estavam ali. Ainda boquiabertos pela sua performance, que foi uma das melhores que eu já vi.

De tanto acompanhá-la, já tinha aprendido um pouco sobre as regas do Poker, ao ponto de entender bem as jogadas que ela faz.

— Vamos embora? — me chamou, sem olhar na minha direção, continuando o teatro enquanto estávamos na frente deles.

Acompanhei-a até a saída do salão, me despedindo de alguns seguranças que eu já tinha feito amizade de tanto aparecer por lá.

Saímos lado a lado na rua, indo em direção ao nosso carro que estava estacionado mais ao final. 

— Tá brava comigo? — perguntei, notando o silêncio dela.

— Eu? Brava com você? — fez um muxoxo com a boca, como quem nega. — Só não vou mais levar você comigo nesses jogos, não. Tu anda muito saidinho pro meu gosto.

Viu só como as coisas nunca são fáceis pra mim como deveriam ser? Eu sempre acabo me lascando de um jeito ou de outro. No fim, ela sempre é a certa da história.

— Ei, ou! Nem pensar! — respondi bravo, odiando aquela ceninha toda. — Se for assim você também não vai mais comigo pros campeonatos, direitos iguais. 

Nós dois falávamos mais alto, porque não havia mais ninguém ali além de nós. O ideal era que fôssemos para casa e terminássemos a discussão por lá, mas dois bicudos, quando não se bicam... Sabe como é.

— Ah, mas eu vou. Lógico que eu vou, Alexandre. — toda bravinha, ainda mais linda do que já é. — Se debaixo dos meus olhos já tem um monte de mulher te rondando, imagine se eu não for junto? 

— Penso igual. — cruzei os braços, não querendo dar espaço pra ela continuar com aquele papo. — Eu não estava dando bola pra aquela mulher, eu já dispensei ela logo que ela chegou perto de mim. Você viu! — apontei o dedo na sua cara, querendo provar o meu ponto.

— Não vi nada, não. — ela encostou o corpo na lataria do carro, com os braços cruzados no peito. 

— Viu sim, você só tá querendo arrumar um motivo pra brigar comigo. — me aproximei dela, mesmo vendo o bico enorme emburrado que ela mantinha na boca.  — Mas eu não vou deixar.

Sabendo muito bem como amolecer a fera, enfiei meu rosto em seu pescoço, distribuindo alguns beijos e chupadas por toda a região. 

— Vai conseguir ficar brava com teu homem? — murmurei, mordendo o lóbulo da sua orelha em seguida. — Vai, amor? 

Senti o momento exato em que Giovanna amoleceu nos meus braços, se deixando levar pelos carinhos que eu lhe dava. Manhosa que só ela, sempre é fácil demais acabar com a discussão.

Afinal, não existe melhor maneira de acabar com uma briga do que ir mudando de assunto.

— Vamos pra casa. — ela pediu com a voz fraca, apertando meus braços com suas unhas vermelhas.

— Vamos, meu bem. Tudo que você quiser.

Nossos olhares se encontrarão cheio de muitos sentimentos. Da luxúria, que sempre foi muito bem-vinda nas nossas vidas. Do entendimento, que passou a fazer parte da nossa relação como casal. E claro, do amor.

Amor nunca foi o problema pra nós dois, nunca mesmo. Sempre nos amamos com intensidade, a ponto de não saber o que fazer com tanto sentimento.

Os problemas a gente vai resolvendo como dá, com jeitinho, com afeto e com atenção. Eles sempre vão existir, ainda mais se levarmos em conta que somos dois cabeças duras. 

Mas a gente se resolve, a gente sempre dá um jeito.

O amor nem sempre é fácil e muito menos óbvio, mas é nítido a diferença quando ambos os lados fazem de tudo para que dê certo.

E foi o que aconteceu com nós dois. Depois de todos os erros, acertamos.


fim.

NocauteOnde histórias criam vida. Descubra agora