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Giovanna Antonelli

Os dias seguintes foram quase uma lua de mel não planejada, mas bem do nosso jeitinho de ser e de levar as coisas. Muito sexo aqui, algumas brigas por motivos bestas ali. E assim a gente ia seguindo nesse relacionamento sem rótulos.

Apesar de sermos diferentes — completos opostos eu diria,— as coisas até que vêm fluindo muito bem. Muito melhor do que eu acreditei ser possível, dada as nossas circunstâncias.

Nos somos o que dois opostos podem ser: muito bons no que nos une e muito diferentes no que nos afasta. Do mesmo jeito que o sexo e os momentos de paz são incrivelmente bons, nossas brigas também são terrivelmente trágicas.

Por aqui não existe meio termo, e eu até que gosto disso. Odeio a mansidão, a morneza, a falta de aventura.

Viver no perigo é muito mais gostoso, muito mais.

Hoje era o dia da primeira luta de Alexandre em um campeonato de verdade, no qual Rodrigo enxergou uma oportunidade para dar o pontapé inicial na sua carreira. Ainda era uma competição para iniciantes, então nossas expectativas estavam altas.

Apesar de ter iniciado a carreira agora, Nero não é iniciante no mundo das lutas. Isso nos faz acreditar que podemos sair daqui com pelo menos um pódio, e quem sabe o tão sonhado primeiro lugar.

— Meu coração tá até acelerado de ansiedade. — a voz de dona Iracema me tirou dos meus devaneios, fazendo minha atenção voltar até ela.

Conseguimos reunir nessa luta todo mundo que de alguma forma pudesse trazer um pouco mais de confiança para ele, desde seus amigos mais próximos, sua família e também quem trabalha profissionalmente com ele.

— Também tô ansiosa, parece que meu coração vai sair pela boca a qualquer momento.

Ao nosso redor haviam vários outros grupos de pessoas, que também tinham ido até ali para acompanhar algum conhecido e torcer pela sua vitória. Era um ambiente muito mais limpo e gostoso de estar do que o das lutas clandestinas, era quase que incomparável.

— Tô vendo mesmo, menina. Não tirou o sorriso do rosto desde a hora que chegou. — ela me olhava com aquele olhar de julgamento, de quem sabe muito mais do que a gente imagina. — E vocês achando que conseguem enganar alguém.

Dei risada porque realmente não tinha outra reação que eu pudesse ter, também não adiantaria de nada tentar negar algo que era óbvio. Ainda mais para uma mãe que conhece muito bem o filho, e consegue reconhecer uma mentira de longe.

Nós dois estamos a cada dia mais envolvidos, e eu temo pela hora que a gente não vai mais conseguir esconder todos esses sentimentos.

Temo porque eu não acredito ser merecedora de tudo que ele faz por mim, temo porque não consigo acreditar muito bem nessas coisas de amor. Meu histórico é traumático demais para que eu acredite que alguém possa me fazer feliz a longo prazo.

Por isso minhas relações são sempre superficiais, sempre o mesmo do mesmo. Mas Nero vinha quebrando alguns paradigmas, e eu não estava mais tendo controle de nada.

Talvez o melhor fosse deixar rolar, deixar a vida me levar.

— Ai, Iracema... — ri nervosa, ficando com as bochechas vermelhas pela vergonha. — Tu bem que podia fingir que não vê nada, né?

— Posso até fingir, mas eu vejo tudinho. — me abraçou de lado, fazendo um carinho no meu braço. — Só quero que vocês dois sejam felizes com as escolhas de vocês... Do mesmo jeito que você faz bem pra ele, espero que ele te faça bem também.

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