Capítulo 03: A viagem.

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Embarquei sem nenhum problema assim que abandonei a carruagem e a minha aparência real. Meus cabelos tinham ganhado um tom escarlate e meus olhos estavam roxos.

Eu estava na torre de proa do navio que me levaria até a fortaleza nebulosa, com os braços apoiados na borda-falsa, observando o mar enquanto aguardava o navio zarpar. Tudo meu estava no anel que me fora dado por aquele velho depravado, e isso facilitava muito a minha movimentação pelo navio, já que eu não precisava ficar dividindo a minha atenção.

“Além do mais, eu prefiro mulheres carnudas que carregam uma boa bagagem a frente e atrás.”

Aquela fala do velho veio a minha mente quando notei que eu não devia ter confiado por completo quando ele me disse que o meu disfarce seria construído por ele. Como eu fui deixar um pervertido que nem ele construir o meu disfarce? 

— Um dia eu ainda mato ele. — pensei em voz alta quando descobri que o meu disfarce podia ser perfeitamente definido por aquelas palavras dele. Uma ruiva rabuda e peituda.

— Espero que não seja nenhum dos meus marujos.

— O quê? — indaguei quando me virei para o homem negro que tinha me tirado dos meus devaneios.

— O “Ele” que você um dia vai matar… — ele fez uma pausa esperando que eu conectasse a sua fala com a declaração anterior, mas eu não tinha escutado. — Espero que não seja nenhum dos meus marujos. — concluiu. O homem tinha cabelos negros, que deviam ir até aos ombros, amarrados como um rabo de cavalo, com algumas mechas soltas. Seus olhos eram tão azuis quanto os meus e, para além de ter um corpo forte, ele conseguia ser mais alto que o imperador, o que significava que ele era bem mais alto que eu.

— Não precisa se preocupar, seus marujos estão seguros… — adicionei uma pausa dramática a minha fala enquanto voltava a focar o meu olhar no mar. — … Por enquanto.

— Fico feliz que seja assim, ainda preciso de todos eles para a navegação. — sorrimos em conjunto após a fala dele, até que ele se virou para mim e estendeu a sua não. — Astron Glanis, capitão do “Devastadora”.

— Vanel Branus… — me virei para o homem e apertei a sua mão. — Instrutora de esgrima.

O aperto de mão não durou muito tempo e logo ambos voltamos a apoiar os nossos braços no parapeito de madeira e nos voltamos para o mar mais uma vez.

— Uma adoradora do mar? 

— Nem tanto… — respondi com um sorriso no rosto. — Digamos que o mar exerce um poder calmante em mim.

— Essa é a natureza dele, é como uma mãe dócil e gentil, mas também pode te devorar como uma besta selvagem. — ele respondeu tão calmo quanto eu estava, suspirando logo em seguida.

— Será que eu devia temer essa contraparte? — olhei para ele de relance e vi seus lábios se separarem, formando um largo sorriso.

— Enquanto você estiver no “Devastadora” não precisa temer nada nem ninguém. — ele respondeu irradiando um intenso brilho de orgulho, ao mesmo tempo que dava alguns tapas na madeira do navio. — Não é a toa que me chamam “Senhor dos mares”.

— Bom saber disso. Agora poderei viajar bem mais tranquila.

— TUDO PRONTO, CAPITÃO! — a nossa atenção foi direcionada ao homem que gritava do convés, aguardando resposta do Astron. — TODAS AS CARGAS JA FORAM EMBARCADAS, OS TRIPULANTES JÁ FORAM DEVIDAMENTE DISTRIBUIDOS NOS DORMITÓRIOS E TODOS OS SUPRIMENTOS NECESSÁRIOS PARA UM MÊS JÁ ESTÃO NO PORÃO.

A Cavaleira de Preto - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora