A Cavaleira de Preto - Vol. 1

Capítulo 09: A Biblioteca.

— Estou ocupada! — declarei de imediato, segurando o espelho comunicador que me fora dado pelo imperador anteriormente, quando o mesmo simplesmente foi invocado na minha mão pelo anel. — Vou começar a investigação nesse exato momento, não posso perder tempo falando com você.

> Sério isso? Então, pra você, falar com o imperador é perca de tempo?

— Achei que tínhamos combinado que eu é que ligaria quando tivesse informações. — eu estava no meu próprio corpo naquele momento, e, pelo espelho, a face do imperador apresentava uma grande tensão e nervosismo.

> Eu sei… Eu sei. Mas eu queria saber se você está se saindo bem, ou se precisa de alguma coisa.

— Não… Não estou precisando de nada até o momento. Mas acho que não posso dizer o mesmo de você. — mesmo vendo pelo espelho, ainda era nítida a preocupação nos olhos dele, mesmo ele tentando disfarçar com um sorriso. — Problemas com o emprego?

> Se fosse só isso, eu já teria resolvido tudo. Mas os meus problemas atuais são bem piores.

— Os filhos?

> É…

— Eu não devia fazer isso… — voltei a me sentar na cama ainda com o espelho voltado para o meu rosto. Eu não gostava da ideia de ter que adiar um pouco os meus planos, mas não podia deixar o homem que cuidou de mim daquele jeito. — Mas… Me diga, o que foi desta vez?

> Digamos que eles não aceitaram bem a ideia de que a mais nova é quem se casará primeiro. Tivemos uma breve discussão depois que eu dei a notícia. A Meriel acabou aceitando, já que ela era apaixonada pelo marechal desde cedo, mas os outros dois não aceitaram isso muito bem.

— Isso já era de se esperar. Mas, quando esse tal casamento vai ser realizado? — perguntei quando ele finalizou a fala esfregando os dedos contra a sua testa, como se sentisse uma dor imensa naquela região.

> Sei lá… Ainda estou querendo conhecer melhor aquele que poderá ser o meu genro. A propósito, o que você acha do marechal, já que você esteve com ele no campo de batalha.

— Você tem certeza de que quer mesmo saber o que eu penso dele? — indaguei, me deitando por definitivo na cama, aguardando apenas a confirmação dele.

> claro. Eu não teria perguntado se não quisesse.

— Sendo assim, de tudo o que eu vi dele até agora… Hummm… — minha consciência por um momento divagou pelas minhas memórias, procurando tudo sobre o dito prodígio do império, ao mesmo tempo em que eu buscava as palavras certas que pudessem descrevê-lo. — Ele me pareceu ser uma pessoa incrível. Ele é responsável, bondoso, altruísta, corajoso, um excelente líder, sensível, carinhoso e mais uma caralhada de adjetivos.

> Nossa… Se você diz, então acho que fiz uma boa escol…

— É aí que está o problema. — pousei o espelho na cama e voltei a me levantar, lembrando da perfeição que era o jovem marechal. 

> Como assim?

— Ele é completamente desequilibrado.

> Hummm… Estou entendendo.

— Ele parece ser alguém perfeito… Perfeito até demais. Uma pessoa nunca é unicamente boa, assim como nunca é unicamente má, sempre há um equilíbrio entre as emoções. Um ser bondoso necessita sempre de alguma maldade, mesmo que seja apenas para se defender. E um ser maldoso sempre terá algum pingo de bondade, nem que seja uma mera faísca que o faça continuar seguindo em frente. — vários pensamentos passeavam pela minha mente depois que comecei a pensar naquilo. Eu nunca confiei verdadeiramente no marechal, mas nunca pensei muito nisso. — Com aquele garoto isso não acontece. Eu até vi ele orando pelas bestas demoníacas após matá-las, mesmo depois de vê-las matando inúmeras pessoas. Ele era sempre bondoso com todos, e nunca deixava de ajudar ninguém. Bem, eu não estou dizendo que isso é ruim, mas é difícil que um humano atinja aquele nível de bondade, ao ponto de nunca se abalar nem uma única vez… — minhas pernas não paravam quietas  nem por um segundo, me fazendo andar de um lado para o outro, enquanto explicava o meu ponto para o velho. — Quando eu penso nisso… Eu só consigo chegar numa conclusão, já que parece que aquilo é…