Capítulo 1

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Nada parecia real depois daquele acidente. Ele ainda podia ver claramente os vidros quebrados, ainda podia sentir as gotas de chuva que acompanhavam suas lágrimas salgadas. Mesmo depois de anos o menino ainda guardava a dor de ter perdido seus pais; as imagens em sua mente ainda eram nítidas, como se tudo houvesse acontecido ontem.

Jimin não tinha razão para viver. Era isso o que ele acreditava desde os seus catorze anos. Ele tinha uma vida pacata, sem sentido, que consistia em acordar, ir para o colégio, voltar para casa, dormir e começar tudo de novo. Era um grande ciclo sem fim. Ele se sentia vazio, depois da ida de seus pais nada mais fazia sentido. Se sentia miserável, alguém sozinho no mundo. Sem ter para onde ir. Seus pais eram sua casa, seu abrigo.

Não tinha amigos, a única pessoa com quem conversava era seu tio, que nunca foi muito simpático para ser honesto.

Sinceramente, Jimin nunca foi um garoto muito social, sempre era excluído das atividades em grupo e tudo isso piorou depois da morte de seus pais. Eles sempre o incentivavam a se abrir para outras pessoas, fazer novas amizades e buscar sempre ver o melhor das coisas. Claro, eram quase anjos na terra, mas depois que eles se foram tudo isso foi em vão, já que Jimin acabou se afastando de todas as suas "amizades" por um tempo. De qualquer forma, ninguém sequer tentou perguntar como ele estava ou no mínimo fazer companhia.

E foi assim que o garoto chegou no ponto em que está agora: deitado no chão do banheiro escutando o som da água caindo da torneira, enquanto a banheira vai ficando cada vez mais cheia. Ele está decidido, vai dar um fim a tudo aquilo.
Estava completamente determinado. Havia trancado a porta para que não houvesse a intervenção de sua gata, já que ela era a única que poderia fazer o garoto desistir. Além do mais, seu tio ainda estava no trabalho e possivelmente estaria fazendo hora extra como sempre fazia às quintas-feiras.

Ele pensou em muitas formas nas quais ele poderia fazer aquilo, até havia pesquisado por aí. Não era algo simples de se encontrar como uma receita de bolo de cenoura, mas mesmo assim havia uma coisa ou outra, que no final, não ajudaram nada em sua decisão.

Estavam se passando muitas coisas pela cabeça do garoto, que, na verdade, nem ele sabia o que eram. Eram vários pensamentos soltos que até faziam a sua cabeça doer de tanta informação.
Quando olhou para frente, lá estava ela, a banheira cheia. Era agora. Ele se aproximou e foi entrando lentamente, sem retirar suas roupas - não queria ter seu corpo nu encontrado ali, seria completamente vergonhoso, e sim, ele havia pensado nisso.
Sentiu a água fria entrar em contato com seu corpo, olhou por alguns instantes o cenário ao seu redor, nada parecia real naquele momento.

Mergulhou sua cabeça na água e ficou lá o máximo que conseguia. Enquanto estava lá, começou a lembrar dos momentos que teve com seus pais. Da vez em que eles o ensinaram a jogar futebol; das manhãs em que eles cozinhavam juntos; das vezes em que eles tentavam miseravelmente o ensinar a tocar piano.
Sua cabeça começou a pesar, estava se sentindo tonto. Quando estava prestes a perder a consciência, o garoto levantou com tudo, buscando ar para seus pulmões que estavam gritando por ajuda. Ele saiu da banheira, se enrroscou em uma toalha e se jogou no chão, chorando.

- Eu não posso fazer isso. Eu não consigo...

Ele tentanva gritar, mas não tinha voz suficiente para isso. Abraçava seu próprio corpo enquanto chorava. Se sentia fraco, um tolo inútil que não conseguia nem acabar com sua própria vida.
Sua imagem estava turva devido as lágrimas e ao tempo sem respirar, mas pôde jurar ver o vulto de alguém ao lado da porta do banheiro.

Esfregou seus olhos com as costas das mãos, e quando os abriu novamente, não viu nada ali.
Decidiu que era melhor sair daquele lugar já que seu plano havia falhado, não havia mais nada que ele poderia fazer ali.

1994Onde histórias criam vida. Descubra agora