POV OLIVER
Julho, 2023Por mais que eu adore ficar em casa, viajar com a fórmula 2 ainda parecia irreal. Era um passo enorme em direção ao meu maior sonho: ser piloto de fórmula 1. E tinham suas desvantagens, claro, a principal sendo a reclusão que acabava acontecendo, você tem 16-20 anos e é separado de todo o seu ciclo familiar e social pra viver viajando o mundo, não acho que há alguém realmente preparado pra viver sozinho pelo mundo nessa idade. Mas as vantagens eram tantas que essas questões viraram toleráveis.
Para nós, valia a pena sacrificar parte de sua juventude em prol de um futuro na maior categoria do automobilismo.
Mas em dias como esse, onde eu sentia falta de casa, eu me questiona se realmente valia a pena. A resposta óbvia é que sim, vale toda a ave. Mas as vezes, eu só queria o colo da minha mãe, ou uma noite dirigindo por Londres com Valerie, ou uma noite de filmes da disney com Amaelie, ou até mesmo uma tarde de videogames com Thomas. Viajar o mundo era um sonho, correr era um sonho. Mas, às vezes, nosso sonho se tornava ter uma tarde tranquila em casa com nossa família.
Eu costumo guardar coisas de meus familiares na minha mala pra diminuir a sensação de reclusão e a profunda saudade que sentia de casa. Pelúcias da Amaelie, Camisas do meu pai, fotos com minha mãe e carrinhos colecionáveis do Thomas. Dessa vez, havia algo novo. O casaco de Valerie em minha mala foi uma coincidência, mas eu fiquei muito grato por tê-lo comigo.
O cheiro de Valerie estava bem fraco visto que a última pessoa a vestir a peça foi minha irmã, mas ele ainda estava lá no fundo, como um lembrete de quem sua dona verdadeiramente é.
O casaco ter vindo comigo foi um acaso. Antes de ir para o aeroporto eu havia traçado um plano de buscar Valerie em sua escola e passarmos o caminho de três minutos entre a instituição de ensino e sua casa conversando. Antes de ela descer eu ganharia um "boa sorte" e ela teria seu casaco devolvido, mas acabei me atrasando e tive que ir direto da minha casa para o aeroporto. Trouxe o casaco comigo, e quando recebi uma mensagem de Valerie me perguntando se eu havia visto, respondi que não. Sem razão nenhuma, apenas quis negar.
Não sei como dizer que trouxe seu casaco comigo por um acaso mas que estou o usando porque sinto saudades, não quando nos conhecemos há apenas dois meses.
Acontece que eu não fui inteligente o suficiente pra pensar nas consequências de usar seu casaco. Porque Valerie assistia todas as minhas entrevistas, e eu, que havia me esquecido que haveria uma pela tarde, fui até o paddock vestindo seu agasalho. Isso nos traz até o momento, onde Valerie estava gritando aos quatro ventos acusações de roubo contra mim em uma ligação.
── Seu ladrãozinho de quinta categoria! Quando eu te perguntei sobre o casaco eu aposto que você estava vestindo ele, e mentiu na minha cara!
── Tecnicamen─
── Cala a boca! Você mentiu pra mim, traiu minha confiança, me furtou e espera que eu esteja calma?
A esse ponto, preciso confessar que estou rindo. Como poderia não rir? Eu estava sendo acusado de furto abertamente por Valerie, que nesse momento estava a um mar de distância, por pelo menos sete minutos, até agora. Era cômico. Mas Valerie não achava o mesmo.
── Você está rindo? ─ a garota gritou. Podia ouvir seu irmão rindo no fundo, sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo, apenas rindo de Valerie irritada.
── Valerie, você precisa se acalmar. Precisa se lembrar que enquanto você me acusa de furto aos berros, seus pais e vizinhos estão pensando que eu furtei um carro, quando na verdade apenas trouxe seu casaco comigo.
── Apenas isso, certo? Deixe-me lhe avisar que furto é um crime! Independente de qual seja o tamanho do objeto que fora furtado, continua sendo crime!
── Valerie. ─ a chamo.
── Oliver. ─ ela responde. ─ Eu não estou brincando com você, a primeira coisa que eu vou fazer quando te ver será te enforcar com minhas próprias mãos.
── Rose. ─ sabia que era golpe baixo, mas usei o nome do meio.
── Ollie. ─ ela responde, respirando fundo.
── Ótimo, está calma. Agora, me deixa explicar.
E segui a ligação contando o meu plano arruinado. Valerie acabou ficando triste por saber que perdeu a chance de me ver, mas a prometi que logo estaria de volta e poderíamos nos ver.
── Quando? ─ ela sussurra, indagando. Seu tom agora era melancólico, não parecia nada com a garota que estava berrando comigo há apenas alguns instantes atrás.
── Quando o quê? ─ respondo, confuso.
── Quando você volta?
── Oh, eu ainda não tenho certeza, Rose. Mas você será a segunda pessoa que vou contar quando souber! ─ tento a animar.
── Por que a segunda e não a primeira?
── Porque ainda preciso avisar aos meus pais que estou voltando pro teto deles.
── Faz sentido.
── Eu sempre faço sentido.
── Disse o menino que furtou meu casaco e quando questionado respondeu que não o viu! ─ ela acusa.
── Valerie, supera!
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GO THE DISTANCE ─ Oliver Bearman
FanfictionValerie Walker não acredita em acasos. Não, ela acredita em destino, como poderia não acreditar? Principalmente quando ela precisou passar por aquele corredor, naquele dia, naquele horário, pela primeira vez na vida e o encontrou. Em seu último ano...