Xie Lian avistou um intruso em sua torre

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— Que horas você acha que o papai vai chegar? — Disse o garoto. Ele suspirou e se afastou da janela. — Eu já fiz tudo! Lavei o chão, li, pintei, toquei violão, fiz tricô… Tudo parece tão repetitivo. 

 Ele caminhou e passou os dedos pelas pinturas na parede. Suas obras primas. Ele sentia-se imensamente feliz sempre que retocava uma ou outra ou decidia apagar todas e refazê-las. Estranhamente, hoje ele começou a se sentir bastante entediado de fazer tudo da mesma forma. E de novo. De novo. De novo. Nada era novidade. Nada o animava.

 — Já deixei o almoço pronto. Pratiquei balé, joguei xadrez, alonguei meu corpo e reli o livro que terminei de manhã. Eu até mesmo já penteei meu cabelo duas vezes! O que mais me resta para fazer, Ruoye? — Ele olhou para a pintura mais acima, meio coberta pela cortina cor de vinho, e sentiu um êxtase inigualável em seu interior. Ali havia algo totalmente inexplorado que fazia sua barriga formigar de animação.

 O pequeno camaleão, a quem o rapaz nominou carinhosamente de Ruoye, caminhou com suas pequena patinhas.

 O garoto caminhou animadamente até a bela parede, completamente decorada com uma pintura magnífica. As mãos ágeis pegaram rapidamente as tintas e seguraram o pincel com precisão. Ele deu os últimos retoques nas pequenas bolinhas douradas e no enorme cabelo do personagem. Ruoye olhou atentamente para os movimentos do rapaz, mas sua ingênua mente de camaleão logo se interessou por outra coisa.  

 O pintor começou a sentir seu cabelo sendo puxado e, ao olhar para os 21 metros de comprimento das madeixas, viu que seu pequeno amigo camaleão estava se enroscando entre os fios dourados. Seus lábios soltaram uma pequena risada.

 — Você é sempre uma excelente companhia, Ruoye. — Ele terminou de dar as últimas pinceladas e largou o pincel no chão, apreciando a incrível obra que finalizou após tantos meses trabalhado arduamente. — Finalmente! Finalmente! — Seus pés começaram a pular descontroladamente. Seu corpo rodopiou várias vezes enquanto seus lábios cantarolavam uma melodia animada e contagiante. 

 Em meio a epifania de felicidade, ele esqueceu-se completamente do pequeno animalzinho que brincava entre seus cabelos. Ruoye foi arremessado até a parede, e sentiu-se tonto ao atingir o chão. Suas patinhas se enrolaram quando tentaram caminhar, e ele caiu aberto no piso.

 Ao ver o que fez, o garoto despertou para a realidade e correu para acudir a pequena criatura.

 — Perdão, Ruoye! — Ele deu vários beijinhos no camaleão, o que curou e animou rapidamente o pequeno colega. — Mas é que eu estou tão animado que vou explodir!

 Os olhinhos castanho o encararam como se perguntassem o que estava deixando o humano tão animado em uma data, aparentemente, normal. 

 — Não me diga que não sabe que dia é amanhã? — O rapaz fez um biquinho de chateação. — Amanhã é o meu aniversário! Não é maravilhoso? 

 Ruoye balançou a cabeça em concordância, e o homem não sabia se o amigo realmente o entendia ou se estava imaginando reações humanas em um animal.

 — E eu decidi, depois de terminar minha pintura, que eu finalmente vou falar com ele! — Disse, deixando o camaleão no chão em seguida. O rapaz afastou mais as cortinas e apreciou sua criação por vários minutos. 

 De repente, ouviu o pequeno sino preso a janela soar, indicando que alguém estava esperando. Inconscientemente, ele começou a se sentir apreensivo e rapidamente fechou as cortinas, escondendo sua criação. Ele guardou apressadamente as tintas e deu uma última piscadela na direção de Ruoye.

 — É agora ou nunca, Ruoye!

 O rapaz andou até a janela, apoiando-se na pequena extensão dela e acenando para a pessoa que encontrava-se na base da torre. Ele não conseguia distinguir todos os traços do rosto, mas isso não era nem ao menos necessário. Durante dos 17 anos de vida do jovem rapaz, ele teve contato com uma única pessoa.

Vejo Enfim a Luz Brilhar - HuaLianOnde histórias criam vida. Descubra agora