Vejo Enfim a Luz Brilhar - HuaLian

A vida de Xie Lian está prestes a começar

— Desde quando você mora dentro dessa prisão? — Perguntou San Lang, passando os dedos pelo topo da mesa. Seus olhos olharam cuidadosamente para cada pequeno detalhe, mas não encontraram nada minimamente interessante. A única coisa curiosa era o pequeno serzinho verde que seguia Xie Lian fielmente, enquanto olhava furtivamente para o desconhecido vestido de preto, como se ele fosse fazer algo contra o dono da casa.

 Xie Lian se irritou bastante com aquela pergunta.

 — Você não está sendo um pouco folgado demais para alguém que acabou de me conhecer? — O garoto continuou selecionando alguns alimentos e colocando-os dentro de uma pequena bolsa. — Além disso, aqui é a minha casa, mais respeito.

 O rapaz riu um pouco e sorriu em seguida, parando a alguns metros de Xie e observando-o atentamente. 

 — Perdão, Gege — Disse, mas suas feições não transmitiam arrependimento algum. Xie Lian parou seus movimentos e o encarou, deparando-se com os olhos escarlates já vidrados em si. Poderia ser coisa da sua cabeça, mas, desde que convenceu o homem à sua frente, Lian sentiu que ele parecia bastante familiar e completamente fissurado em observar as coisas minuciosamente. Talvez essa impressão se deva ao fato de San Lang ser a primeira pessoa que conheceu. Ainda não sabia como as pessoas geralmente agiam umas com as outras, principalmente se fossem estranhas minutos antes. — Mas, aparentemente parece que você não pode sair e não conhece muita gente. Parece mais uma prisão do que um lar para mim.

 — E o que você sabe sobre ter um lar? — Inconsequente, Xie Lian deixou escapar aquelas palavras maldosas. Sentia-se particularmente bem em não ter que medir palavras, diferente de quando conversava com o pai. Jamais havia sentido tamanha liberdade em realmente falar o que pensava. No entanto, entendia perfeitamente que existiam limites e julgou ter passado de todos eles. – Eu não quis-

 — Realmente, eu não sei muito. — O homem deu de ombros e se aproximou. — Não precisa agir como se tivesse cometido um crime ao dizer essas palavras, fui eu quem ofendeu Gege primeiro. 

 Xie Lian ignorou a aproximação do homem e terminou de organizar todas as coisas. Listou mentalmente mais uma vez todas as coisas que devia levar para a viagem de apenas um dia, e sorriu ao lembrar que iria finalmente ver as lanternas fora da torre. Sua mente tentou lembrá-lo do que aconteceria caso o pai descobrisse que saiu sem autorização, ainda mais na companhia de um completo desconhecido. Inconscientemente, a imagem da coroa veio à mente de Lian e ele começou a desconfiar da bela face do rapaz ao seu lado. Por que ele estaria fugindo de guardas com um objeto, aparentemente, tão valioso? Os olhos castanhos do rapaz olharam discretamente para San Lang, encontrando os mesmos olhos escarlate mais uma vez já conectados aos seus. Dessa vez, ele não desviou. 

 — Desde quando você é um ladrão? — Xie Lian sabia que era necessário conhecer minimamente o outro antes de depositar sua completa confiança. Podia não ter experiência com outras pessoas, mas não era completamente ingênuo. Os livros haviam ensinado muito sobre traição e quebra de contrato. 

 Surpreendentemente, a pergunta deixou o rapaz de quase dois metros de altura um pouco envergonhado e com um tom rosado na ponta das orelhas. Xie Lian achou a atitude estranhamente fofa e não fazia ideia que as pessoas realmente ficavam coradas na vida real. Observando melhor, toda a composição física de San Lang parecia mais magnífica do que a de qualquer pessoa que Xie Lian imaginou existir. O rapaz era alto, possuía uma pele bronzeada bonita e vestia roupas únicas e atrativas. Seus cabelos estavam amarrados em uma trança, o que complementava o visual jovial. Xie Lian, entretanto, tinha o cabelo longo solto e talvez até um pouco desarrumado. Suas roupas eram roupões roxo que o pai tinha comprado semanas antes. Nunca havia achado ruim, até ver com os próprios olhos o que realmente eram roupas requintadas. Sentiu-se constrangido de parecer tão simples e ingênuo na frente de San Lang, mesmo o pai já tendo alertado que ele era frágil e complementarmente inconsciente do mundo.