Xie Lian conhece o mundo

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A queda de Xie Lian foi fugaz. Quanto mais ele se aproximava do chão, mais seu coração acelerava. Ele parou os movimentos a poucos centímetros de alcançar a grama verdinha que cobria a superfície.

— Isso é real? — Disse, verbalizando seus pensamentos alto demais. Ruoye, que ainda estava amarrado nas madeixas de Lian, balançou a cabeça em animação.

O pé de Xie Lian tocou o chão e uma onda de sensações explodiu no coração do rapaz. Nunca havia tocado na grama que passou tantos anos admirando. A textura se assemelhava a das nuvens presentes no céu. Era fofa e aconchegante. Ele se deitou na grama e respirou.

Xie Lian respirou como se fosse a primeira vez que estivesse tendo contato com o oxigênio.

— É do jeitinho que eu sonhei — disse, choroso. Os olhos se encheram de lágrimas e ele acariciou a cabeça de Ruoye com um sorriso nos lábios. O pequeno camaleão retribuiu o carinho se aninhando ainda mais nos dedos de Xie Lian. — A terra, a grama, o vento… É tão perfeito, Ruoye.

Ele se levantou e, no processo, tocou nas pétalas de uma pequena flor branca. Os olhos de Lian encararam a frente e viram uma pequena abertura entre as pedra.

— E por ali, não é? Eu sempre vejo meu pai indo por ali… — Ele apontou, com certo receio, e olhou para San Lang.

O rapaz estava a poucos metros de Xie Lian e confirmou com a cabeça.

— Gege está certo. É por ali a saída. 

Xie Lian sempre achou estranho a forma como o desconhecido o chamava, no entanto, escolheu se preocupar com isso outra hora. Afinal, naquele momento, após finalmente sair da torre e ter contato com o mundo pela primeira vez, Xie Lian estava tão vulnerável que poderia chorar a qualquer momento. Ainda trêmulo, ele começou a caminhar até a abertura. Aos poucos foi acelerando os passos, até estar correndo em direção a saída.

San Lang acompanhou todos os passos dele com um pequeno sorriso nos lábios. Xie Lian não reclamou do pinicar da grama em seus pés descalços, muito menos falou algo quando um pequeno mosquito apareceu em seu rosto e ele balançou as mãos de forma desengonçada para tirá-lo. Pelo contrário, Xie Lian parecia tão grato por finalmente estar realizando seus sonhos, que o coração de San Lang se apertou em desespero. Seus olhos escarlate encararam a torre atrás de si e imprimiram uma condenação silenciosa em sua mente.

Xie Lian passou por um pequeno túnel escuro e, ao chegar no final, se deparou com uma luz que ofuscou sua visão.

— Minha vida finalmente vai começar! — Gritou para ninguém em específico. Sentia-se tão feliz que sua emoção era quase palpável. Ruoye se encontrava no chão, parecendo um pouco tonto após a corrida de poucos metros apoiado no ombro de Lian. San Lang surgiu logo atrás, carregando a bolsa que Xie Lian nem percebeu ter abandonado segundos antes.

Ao ver o homem de olhos vermelhos colocando sua mochila no próprio corpo, Xie Lian tentou pedí-la de volta. No entanto, sua fala saiu desajeitada e desconexa, fazendo o homem apenas negar com a cabeça.

— Gege parece estar um pouco avoado, deixe San Lang carregar.

— Certo… Obrigado. — Estranhamente, ele não se sentiu nem um pouco constrangimento com aquilo. Sentia-se particularmente bem, decidido a confiar em San Lang, já que o rapaz também precisava dele para reaver a coroa.

San Lang tomou a frente da caminhada e Xie Lian seguiu atrás, ainda um pouco feliz demais. Ele segurou Ruoye nas mãos, para ajudar o pequenino a acompanhar seu ritmo, e cochichou com o animalzinho:

— Eu não acredito no que eu fiz! — Disse, feliz e ansioso.

Ruoye concordou com um bonito sorriso de camaleão.

Vejo Enfim a Luz Brilhar - HuaLianOnde histórias criam vida. Descubra agora