5. REAL

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Sumimos bosque adentro, passando pelas roseiras esparramadas pelo chão e por arbustos floridos. A luz do sol banha as copas coloridas das árvores e escorre para o fundo da floresta em filetes levemente amarelados. O tempo todo Nim alerta que precisamos tomar cuidado com outros insetos perigosos, como os supostos besouros-fura-braço que, segundo ele, não ganharam o nome de graça. Também passamos perto de uma grande colmeia de abelhas com listras pretas e vermelhas que emitem um zum-zum-zum audível.

— O que elas fazem? — eu pergunto, certo de que ele tem uma resposta ensaiada na ponta da língua.

— Se chamam abelhas carmesim. A ferroada de uma delas pode fazer seus vasos sanguíneos estourarem em minutos.

Diferente das borboletas e dos besouros, essa não é uma coisa tão difícil de acreditar — já soube de pessoas que morreram depois de terem sido picadas por abelhas. Chego dois passos mais perto de Nim.

— Nunca ouvi falar de nenhum desses bichos — comento com ele.

— É porque eles não existem no seu mundo.

— Aham.

Torço os lábios. Não vou dar a Nim o privilégio da minha confiança de bandeja. Devo admitir que a estranheza da situação é bastante suspeita, mas preciso de provas mais concretas para acreditar nele.

Porque, convenhamos, outro mundo? Isso é impossível.

Reconheço que me precipitei demais ao seguir um desconhecido num lugar desconhecido repleto de insetos desconhecidos, mas ao menos estou armado agora, e se uma flechada desengonçada não funcionar para me defender, posso correr e me esconder nas árvores. Embora eu deteste participar da aula de Educação Física, até que sou um bom corredor, graças às minhas pernas longas; não haveria problema em fugir caso Nim se revelasse um impostor. Com isso em mente, me obrigo a memorizar o caminho que estamos trilhando para o caso de precisar evocá-lo mais tarde.

A determinada altura da caminhada, fazemos uma curva para a esquerda, saindo totalmente da suposta trilha, e nos infiltramos em uma espécie de beco natural coberto por glicínias púrpura que pendem em cascatas densas e perfumadas, as flores em longos cachos quase tocando o solo.

— Ei, você disse que sua casa ficava na outra direção — protesto.

— Tenho que pegar uma coisa antes.

Reduzo o passo, alongando a distância entre nós outra vez. Eu tenho o arco, tenho as flechas, uma lanterna morta no bolso e pernas longas e rápidas. Reviso a lista repetidas vezes até me achar mais corajoso.

As paredes do "beco" são formadas por árvores antigas de troncos grossos e raízes que se entrelaçam. Entre as glicínias, pequenas heras sobem e descem em espirais, dando uma sensação de que o lugar está vivo e em constante movimento.

Chegamos ao fim da cobertura de glicínias, onde um círculo pequeno demais para ser chamado de clareira se fecha em torno de nós. Em seu centro, com a copa volumosa ocupando quase todo o círculo, está uma macieira carregada de frutos verdes rechonchudos. Ao redor dela, no chão gramado e florido, uma enorme pilha de maçãs apodrecidas atrai uma nuvem de moscas.

— Me ajude a colher algumas maçãs — pede-me Nim.

Eu bato palmas. Ele me lança um olhar desorientado por cima do ombro.

— O que foi?

— Você falou que aqui as flores sempre florescem mas os frutos nunca nascem.

Ele para por um segundo, olha para mim e depois para a macieira, então semicerra as pálpebras e estica os lábios.

NeblinaOnde histórias criam vida. Descubra agora