Meu coração bate tão forte que meu peito dói, mordo meu lábio inferior e minha cabeça grita pra eu parar mas minhas pernas não obedecem e com muito esforço, me aproximo da garota que sentava um pouco a frente de mim. Eu costumava escolher minhas amizades de forma que, elas fossem tão sozinhas quanto eu, se a pessoa andava em grupo de amigos eu já a via como inalcançável.

Mas tinha essa garota, que parecia tão sozinha quanto eu na sala, era o mais confortável pra mim. Vinnie me fita de longe enquanto guarda a chave do carro no bolso, provavelmente já me chamando de louca em sua cabeça.

"Oi" Crio coragem de dizer. Eu precisava de pelo menos uma historinha pra contar pra terapeuta. A garota para de escrever e levanta sua cabeça, me mede de cima a baixo e depois fala.

"Oi" Seu tom era meio hostil, acho que ela não gostou. Na hora desisto da ideia, talvez ela seja sozinha por algum motivo. Aperto meus cadernos contra meu peito e vou pro meu lugar. Vinnie fica parado na porta e por alguns segundos não consigo visualizar ele.

De repente, a garota se vira.

"Sabe de uma coisa? Por quê falou comigo? Não vê que ninguém te quer aqui?" Suas palavras continuam demonstrando raiva em cada uma delas me fazendo prender o ar "Não pense que eu não sei quem é o seu pai" diz com desdém e se vira pra frente novamente.

Como se eu não soubesse quem é meu pai. Nos mudamos de Cuba para Forks por conta do trabalho do meu pai, ele veio para ser xerife e bom, meu pai não trabalhava conforme a lei. Eu não o considerava um policial corrupto mas imagino que deixou muitos inimigos por aqui, mas agora eu entendia. Talvez ninguém queira se aproximar de mim por causa do meu pai e eu nem sei porquê, não sou meu pai, era injusto me julgarem assim. Cidade pequena é uma merda.

O gosto amargo das palavras dela sobem com tudo em minha garganta, a vontade de chorar aumenta quando um menino não muito alto chega e se senta a frente dela.

"Acredita?" Ela ri e depois ambos estavam olhando pra mim.

"Não se toca mesmo né, nada mais desprezível que filha de militar" O garoto me olha da cabeça aos pés com desdém, algumas pessoas que passam por nós pra achar seus lugares me olham.

Minhas mãos se fecham com raiva, mordo meu lábio inferior fincando o dente sob a pele, não aguento e pego meus materiais saindo como um vulto da sala. Podia ouvir a risada de ambos

Nada mais desprezível que filha de militar

"Cecília!" Ouço a voz de Vinnie atrás de mim mas minhas pernas não param nunca, as lágrimas começam a cair, meu coração aperta. Não era justo. "Cecília, o que-" sua voz insistente me alcança e ele puxa meu braço me fazendo virar rapidamente pra ele. "O que tá acontecendo?"

"Eu nunca mais volto aqui. Nunca. Eu prefiro não ter essa droga de diploma" Exclamo sentindo toda a frustração tomar conta do meu corpo. Meu coração pulsava com raiva.

"Do que você tá falando? O que aconteceu?" Pergunta do jeito sério dele de sempre.

"Você não sabe como é ser eu, ok? Você não sabe. Eu tinha no fundo da minha mente, bem lá no fundo que as pessoas me odiavam por isso e é verdade, me odeiam, me odeiam porquê meu pai é o meu pai. Simples e isso é injusto porquê meu pai nunca foi um pai pra mim e eu ainda sinto raiva de quem não gosta dele!" Grito sentindo cada palavra sair como um bolo da minha garganta, não havia mais ninguém no pátio mas minha voz fazia eco. Vinnie passa a mão na testa, provavelmente sem saber o que fazer mas então ele segura meu pulso e me olha

"Quem foi?"

"Não pode ir lá e-" Ele me chacoalha me deixando sem reação

"Quem foi?" Repete, dessa vez com mais firmeza.

O Efeito Cisne NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora