Lembrando as senhoras de comentarem porquê dá trabalho, viu?•

Quando o mundo ficava pesado demais pra mim, eu tendia a querer sufoca-lo, fingir que não existia. Assim como eu fazia com o meu pai, vê-lo na minha frente era irritante, ainda mais me dando sermão.

Os remédios me ajudavam a sufocar o barulho exterior sem me irritar.

"Ouviu o que eu disse, Cecília?" Ele dispara no seu tom ríspido.

"Tem como não ouvir?" Puxo minhas pernas para a cadeira e apoio meu queixo em meu joelho.

"Cecília, eu já fiz minha parte. Você tem o segurança e-"

"Um deles quase me matou. Eu odeio sua família" As palavras escorregam da minha boca com um gosto amargo. Raiva, eu sentia raiva "Seu irmão quase tirou tudo que a gente tinha. Você sabe o que é se sentir vigiada sempre? E o cara dentro da minha casa quase me matou!"

"E Vinnie se mostrou muito eficiente em neutraliza-lo, señorita. Tudo está indo de acordo. Só não quero você faltando na faculdade"

"Foi só hoje! Qual parte do não estou bem, você não entendeu? Aliás, está fazendo o que aqui? A Elena não quer te ver"

Ele bufa demonstrando irritação "Claro, com você e sua mãe fazendo a cabeça dela"

"Se a realidade já não fosse uma merda, talvez eu tivesse motivos pra fazer isso" Disparo.

"É difícil de entender que quero seu bem? Em que ponto nos tornamos inimigos? Sua mãe mentiu tanto pra você a ponto de você me odiar" Viro minha cabeça o encarando, ele estava realmente falando isso? Ele que simplesmente nos abandonou e agora está falando que a minha mãe fez minha cabeça pra isso? Deve ser piada.

"Eu não sou burra, mas acredite no que quiser" Seu suspiro indica que mais uma vez ele desistiu, ele não iria mais falar nada e fazer o que faz de melhor, fugir. Julius Corbero talvez seja a maior farsa que já conheci na minha vida.

Só então Vinnie reaparece e eu agradeço pelo seu silêncio, quando eu brigava com meu pai era comum alguém me dizer 'Não faça isso, é seu pai' e o mesmo sermão de sempre continua. Ele era a única pessoa que sabia continuar em silêncio após isso acontecer.

Em meio ao silêncio meu celular começa a tocar, achei que de relance havia visto o familiar carro verde do outro lado da rua mas por hora ignorei, deixando Vinnie sozinho na varanda.

"Alma?" Atendo a ligação estranhando o contato.

"Oi, estranha. O que acha de sair hoje? Fazer uma loucura, perder esse BV."

"Alma, você tá louca?" Resmungo.

"Não, só quero sair e queria sair com você" Seu tom firme indicava que ela não desistiria tão cedo. Respiro fundo batalhando comigo mesma, eu odiava sair. Imagina sair com a Alma? Ela não era confiável, mas pra isso eu tinha o Vinnie.

"É, pode ser" Cedi e ouço sua comemoração nada discreta.

"Use um dos seus vestidos, aqueles abertos na perna" E assim ela desliga.

(...)

Luzes de neon brilhantes aparecem através dos meus olhos, o vento gelado atinge minha pele e instantaneamente me arrependo de não ter trazido um casaco.

Ajeito meu vestido enquanto esperávamos na pequena fila de entrada, Alma me encara pela décima vez essa noite "Esse delineador combina demais com você" comenta pela décima vez analisando meu rosto.

"Você já falou isso"

"Não importa, eu quero repetir" Passa a mão sob meus cabelos parecendo minha mãe. Vinnie não passava batido pelos olhares de algumas mulheres que estavam na fila, ainda me pergunto como deve ser o cabelo dele sem estar todo pra trás e com gel, provavelmente muito melhor. Ergo a sobrancelha vitoriosa quando uma garota a nossa frente desvia o olhar ao ver ele se aproximando ainda mais de mim e me guiar com suas mãos em minhas costas.

O Efeito Cisne NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora