O trajeto é longo, mas a vontade de chegar é maior.

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Xie Lian on~


Coloco na cabeça meu chapéu de palha, apanho uma cesta e saio do templo. Observo-o de fora; o telhado inacabado é como um lembrete constante do que passei ontem, então desvio o olhar e sigo caminho para a as áreas comerciais da Vila Puqi. Para sair daqui e ir até a cidade fantasma, terei de passar pelas montanhas Tailung. Se eu as atravessar pelo meio, será mais fácil, porém mais demorado, portanto eu vou contorna-las. 

O caminho com certeza é mais perigoso. E com certeza é mais rápido.

Para este tipo de viagem eu imagino que precisarei de alimento, bebida, e algumas coisas para me ajudar passar as noites. O pouco dinheiro que possuo servirá para cobrir o último. É certo que vou encontrar braços do rio que passa pelas montanhas, então não vou gastar com bebida; comida eu posso levar apenas um pouco, pois sei que aguento alguns dias sem me alimentar. Será suficiente.

O sol está bem forte a esta hora do dia, mas com meu chapéu e meus anos de vivência, já não me afeta tanto. Passo alguns minutos andando e cantarolando algumas antigas cantigas de Xianle, umas que minha mãe cantava para mim antes que eu adormecesse, há centenas de anos atrás. O tempo passa rápido e as vendinhas entram no meu campo de vista. Caminho um pouco por entre elas, observando tudo o que me pode ser útil. Eu gostaria de encontrar algumas amarras, para montar travesseiros de palha, assim posso passar a noite um pouco melhor.  Fósforos também seriam interessantes.

Passo por um senhor idoso vendendo sorvetes e me sinto tentado a comprar um, mas a leveza da minha bolsa de dinheiro me lembra que, infelizmente, estou quebrado. Até Deuses podem ser pobres; viro a direita e sigo até uma barraca que anuncia vender todos os tipos de cordas e cabos e converso com a comerciante. Ela se vira para procurar o que preciso e me encosto no balcão, observando o movimento a minha volta.

É então que visualizo dois jovens rapazes, um de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, o outro mais alto e de cabelos negros, presos da mesma forma. Sentados em um banco um ao lado do outro, degustando sorvetes e rindo juntos. Ver que Nan Feng conseguiu trazer a tranquilidade de Fu Yao de volta é aliviador. Observo-os, até que Nan Feng levanta fazendo um sinal para que o outro aguarde e sai andando. Fu Yao coloca a franja atrás da orelha assim que ele sai de vista, e decido que é melhor tentar falar com ele, agora que está de bom humor.

Me aproximo do banco por trás e Fu Yao me percebe. Me sento onde antes estava Feng e o olho nos olhos.

"Olha, eu..." começo, mas ele logo levanta a mão pedindo silencio.

"Desculpe. Eu me descontrolei hoje Lian." Ele diz, e sou pego de surpresa.

"Imagina. Você tem razão até certo ponto. Agradeço pela preocupação" Digo, e ele assente com a cabeça. Tomo coragem, respiro fundo e conto a ele:

"É o seguinte: As chances de um fantasma daquele nível se aproximar de um Deus como eu são muito pequenas sem que tenha um bom motivo. Eu estou suspeitando que talvez ele tenha se aproximado de mim acreditando que eu iria reportar para a corte celestial, ou seja: Ele estava tentando me usar como forma de provocação para os Deuses nos Céus. Enquanto atual Deus do Infortúnio, eu já causei muitos problemas aos céus, e por isso decidi fazer uma viagem até a Cidade Fantasma para tentar negociar com o rei alguma maneira de ele não perturbar os céus."

Pronto, falei penso comigo mesmo. Fu Yao parece levemente preocupado, mas apenas desvia o olhar e diz:

"Certo. Vou conversar sobre isso com o Nan Feng. Nos avise quando quiser partir" 

O jeito como ele respondeu me incomoda. A chateação dele em relação a mim não acabou, e me tratar com tal formalidade me faz sentir que estou perdendo um dos meus únicos amigos...Mesmo assim levanto em silêncio e volto as minhas compras. Não quero estragar mais ainda a tarde de Fu Yao.

Volto ao balcão onde eu estava e a vendedora me apresenta exatamente o que preciso. Pago-a sem muita convicção e sigo caminho para longe, tentando não pensar em ninguém em específico.


Fu Yao on~


Sério, eu não to acreditando nisso, não.  Eu sei que pode até ser verdade o que Xie Lian disse; sinceramente, tem bastante embasamento o que ele disse. Sem querer ofender, mas desde que caiu pela segunda vez, nem os registros mortais mais antigos se recordam dele, sendo quase que um 'zé ninguém'. O Chuva Carmesim que Atinge a Flor é o Rei Fantasma e a mais forte das Quatro Calamidades, com certeza a presença mais sortuda e poderosa, que bota medo até nos céus; porque raios ligaria para Xie Lian? Teria que ser um laço muito forte criado entre os dois na época da primeira acensão de Xie Lian, mas o príncipe está convicto que o conheceu agora.

Nan Feng volta com um pacote de algas salgadas para dividirmos. Ele senta ao meu lado e me oferece um sorriso, e então conto para ele os planos de Xie Lian de ir para a Cidade Fantasma negociar com o Rei.

"Como é que é?!" Pergunta Feng incrédulo "Ele pretende negociar o quê? Não tem um centavo no bolso, zero poder celestial e deve estar até devendo méritos nos Céus. Tudo o que ele pode oferecer são as performances de rua dele, o que o Rei provavelmente achará inútil.

"O máximo que ele vai conseguir com essa experiencia dele" começo, ironizando a palavra 'experiência', "Vai ser entrar pro comitê de dançarinas do cara e ficar rebolando pra ele a noite inteira" comento áspero. Nan Feng ri abertamente me dando um tapa atrás da cabeça.

"Brincadeiras a parte, vamos tentar respeita-lo um pouco" Diz Feng com vestígios de riso no rosto ainda.

"Olha quem fala" Digo rindo, mas concordando com ele. Nos encaramos por um momento e lemos os olhos um do outro.

"A gente não vai deixar ele ir sozinho" Digo o que estamos pensando.

"Nunca fizemos isso antes. Não vamos fazer agora" ele responde, e nós dois ficamos com cara de derrotados.

"Apesar de tudo, sou leal a Lian como um cachorro" comento, olhando para qualquer lugar.

"Olha aí algo que temos em comum" responde ele, olhando para um ponto aleatório.

Rio comigo mesmo e suspiro. Apoio a cabeça no ombro dele e ficamos em silêncio assim, por um tempo.

Hiro (autora) on~

Voltei pessoal! Esse foi pra vc meu/minha amigo/a/ue, que gosta do personagem secundário mais que do protagonista. Todo mundo já tinha ganhado um cap contando seu POV menos o Fu Yao, então decidi tirar o coitado da exclusão hehehe.

Brincadeiras a parte, quis trazer esse pov do Fu Yao pra vcs pq as vezes, a gente só entende o porquê de brigarmos com outra pessoa se vermos a situação pelo ângulo dela. O príncipe havia brigado com Fu Yao, e tinha certeza que o mesmo estava bravo. Mas era, na realidade, preocupação que o oficial tinha pelo mais velho. Isso se aplica ao nosso cotidianos também! Sempre que acontecer um desentendimento, procure olhar a situação de ângulos diferentes e ver se realmente faz sentido o que aconteceu e o porquê de ter acontecido, e assim talvez as coisas fiquem mais calmas.

Por hoje é só! Obrigada por continuarem lendo, vejo vcs no próximo cap! Bjos<3

Para quem quiser se localizar no mapa:

Enfim; agora querendo localizar quem ainda não entendeu o mapa: O templo de Xie Lian está sendo construído na Vila Puqi, que não faz parte de nenhum dos reinos celestiais, mas faz fronteira com os territórios de Yong'An, Xianle, e o Deserto de Gobi. As montanhas Tailung ficam no território de Yong'An, e a Cidade Fantasma se localiza ao fim das montanhas (deslocada para o canto das montanhas) enquanto a Vila Puqi está antes da outra extremidade, sendo nescesária uma travessia para sair da Vila e ir  a cidade fantasma.

Eu sei que ficou confuso, mas tentem visualizar um mapa qualquer vazio, e perto do canto direito,  a Vila Puqi. Perto do canto esquerdo, a Cidade Fantasma. Entre elas, duas fileiras de montanhas horizontalizadas, próximas uma da outra e cortadas por um rio. Não é necessário entender o mapa todo (na verdade, nem precisa entender o mapa, só estou explicando para quem quiser), apenas este detalhe das montanhas Tailung separando o templo e a Cidade.

Eu já conhecia o meu amor há muito tempo(tgcf au)Onde histórias criam vida. Descubra agora