A pintura que ainda falta.

30 3 3
                                    

"Mestre, mestre, veja só" diz  a criatura de pele azul, iluminando as rugas da face manchada de sangue com a vela no topo de sua cabeça.  A criatura, encharcada de sangue, corre até o mestre e se joga aos pés do trono.

"O que você pensa que está fazendo aqui sem trazer comida da caçada?" Diz outra criatura da mesma espécie, porém três vezes maior, montando guarda aos pés do trono. 

"Cale a boca, inútil," começa o mestre, fazendo a criatura maior se encolher. "eu quero perguntar algo a este pequeno imbecil pintado de vermelho." Diz o mestre.

"S-sim mestre! O que você desejar!" choraminga a criatura.

"Da onde vem este sangue?" Pergunta o mestre secamente.

"Do céu, mestre. Eu me aproximava de uma vila humana e me distraí com algo no chão, mas logo tive que me abrigar de uma chuva de sangue!" disse a criatura.

O mestre paralisou. Seus olhos saltaram da órbita e suas palavras pareciam ter sido roubadas.

"C-chuva de s-sangue?" é tudo que o mestre consegue perguntar. "Você tem certeza disso? NÃO OUSE A ME ENGANAR, SEU MALDITO!" 

A criatura se encolhe aos gritos do mestre e balança a cabeça para cima e para baixo fervorosamente, afirmando.

O mestre espumava de raiva. Não precisaria nem tirar a máscara para ver o ódio e desespero em seu rosto.

"Me dê. O que você achou no chão." ordena o mestre. A criatura azul (aquela três vezes maior) pega o papel estendido pela mão trêmula do menor e o entrega ao mestre sentado ao trono. 

Manchado de sangue, os traços da pintura pareciam suaves, mas ameaçadores ao mesmo tempo. Um jovem belo de cabelos castanhos e túnicas brancas peroladas havia sido pintado com técnicas incríveis de um hábil artista, mas a grande mancha de sangue parecia uma muralha, um escudo de proteção que separava a arte do observador a todo custo. Ao ver aquele rosto, o mestre estacou na posição em que estava. Toda a raiva que sentia pareceu multiplicar no peito do mestre.

"Maldito seja Xie Lian." solta o mestre, deixando a voz mais odiosa possível, sem nem perceber. Ele se levanta e aponta um dedo para o pequeno feioso banhado de sangue que trouxera o papel ao covil. O mestre fala baixo, mas todos se calam para ouvi-lo: "Amarrem-no em uma estaca de madeira. Arrastem ele pelas terras até que cheguem aonde ele achou esse maldito papel. Não voltem até acharem." 

Sem seu habitual sorriso sarcástico, o mestre, sob sua máscara e túnica verdes, sentou-se imponente no trono e cruzou os braços, vendo seus subordinados agarrarem o pequeno feioso e o levarem para longe.


Xie Lian on~ 

Acordo no meu telhado com frio, vendo o sol começar a se por no horizonte. Ouço movimento no templo, mas opto por não descer e falar com os garotos ainda, pois sei que voltaram a esta hora. Olho ao meu redor: Preciso terminar esse templo até amanhã ou até o dia depois, seu eu quiser realizar minha viagem até a vila fantasma, o que significa que aquelas tábuas restantes de madeira precisam subir ao teto o quanto antes.

Me ergo e convoco Ruoye, e ela sabe exatamente o que fazer, descendo com rapidez e suavidade até as tábuas de madeira, e as trazendo todas de uma vez. Vou trazer todas direto e economizar a grande energia que Ruoye me gasta, penso ao segurar o martelo e uma caixa com os pregos.

Trabalhando arduamente durante a noite, fecho o telhado com tábuas e revisto com camadas de palha amarradas e entrelaçadas, de modo que o templo fique completamente protegido de chuvas e tempestades. Aproveito para limpar a parte externa das paredes, removendo com muita dificuldade o mofo e a sujeira. Mas até que elas ficam limpas, no fim das contas. Mais algumas horas de trabalho e finalmente consigo instalar as janelas que há uma semana eu havia montado, fazendo um acabamento limpo e higienizando os vidros. Quando olho para dentro do templo através da janela, vejo Fu Yao e Nan Feng dividindo uma esteira média, meio apertados um contra o outro. Mas pelas suas expressões e posturas, não me parecem desconfortáveis. Ainda bem penso, ao menos a noite eu posso proporcionar um pouco de conforto e paz para eles. Ao menos isso eu sei fazer direito. 

Para terminar a parte pesada do trabalho, levanto a porta que eu havia cortado a um certo tempo também. Para isso preciso da ajuda de Ruoye, então ela levanta a porta e eu prendo-a nas dobraduras, fazendo de tudo para ser silencioso e não acordar os dois. Quando termino essa parte, deixo escapar um suspiro um pouco alto e Nan Feng começa a se mexer. Estaco onde estou e do jeito em que estou, prendendo a respiração e rezando para ele não acordar.

No fim das contas ele apenas virou de frente para as costas de Fu Yao e largou uma das mãos sobre a perna do moreno. Já imagino a cena de Fu Yao dando uma bronca em Feng logo pela manhã quando acordar e ver isso.

Olho pare dentro do templo e faço uma nota mental: Amanhã, tudo que precisarei fazer é limpar o chão, a mobília, e preparar o altar. Então tudo o que faltará será a pintura ou estátua do Deus. Quando finalmente solto o ar que havia segurado por causa de Feng, sinto uma vontade de desabar onde estou; minhas pernas ameaçam a dobrar sem meu consentimento, meus músculos parecem que não sabem mais se contrair e minha visão me parece levemente duplicada. Cambaleio até a minha esteira, chuto os calçados para o canto e quase que me jogo lá. 

Solto um gemido de alívio; depois de três meses trabalhando neste bendito templo eu finalmente posso dizer que estou perto de acabar, e quando finalmente acontecer eu não poderei estar aqui para cuidar dele. Quando eu voltar da Cidade Fantasma, se eu voltar, trarei comigo a pintura do Deus para o altar. Acharei um bom pintor naquela infeliz cidade comercial que faça uma bela arte dos meus templos de glória, e assim poderei começar uma crença em mim novamente. Vendo deste jeito, chega até parecer mais diversão do que necessidade essa ideia de montar um templo em meu nome. Abro um sorriso no escuro e deixo o sono me levar para o outro lado.


Hiro (autora) on~

Oiee! Me perdoem, dessa vez eu sei que eu demorei. tentei fazer um cap um pouco maior para compensar, mas eu sei que ainda não é suficiente. Relaxem, vou tentar produzir pelo menos mais um que seja este mês. Enfim, eu estava com saudades já ^^. Eu quis trazer nesse cap um foco nos planos e metas pessoais do Lian, tipo o templo, uma nova crença dos mortais em si próprio,  uma viagem a cidade e afins, mostrando a dedicação e determinação dele. "Mas Hiro, o que foi aquela história sem 'pov'  no começo?" Calma galera. Essa parte era apenas uma continuação do que eu comecei a contar no capítulo 'O que sobrou dele'. Eu avisei que seria importante e vcs esqueceram, né, safados??

Pode ser que a maioria já tenha entendido sobre quem estamos tratando nesses trechinhos com criaturas azuis e asquerosas, mas caso alguém ainda não saiba, vou deixar no ar para que possam descobrir nos próximos capítulos. Essas histórias vão se entrelaçar no futuro, por isso não as pulem!

Eu realmente agradeço por vocês terem voltado mais uma vez e acompanhado essa história comigo, eu amo de paixão poder entregar esse conteúdo pra vcs! Vejo vocês em breve, e mais uma vez, me perdoem, por favor, pela demora excessiva ):

Valeu por lerem, vejo vcs no próximo cap, bjoss!! <3

Eu já conhecia o meu amor há muito tempo(tgcf au)Onde histórias criam vida. Descubra agora