RAFAELLA
No momento em que vi Gizelly entrando sorrateiramente em casa, um sentimento ruim e doloroso me atingiu em cheio. Foi como voltar naquele fatídico dia em que perdi a minha mãe. Nunca me perdoei pelo o que aconteceu. Se eu não tivesse fugido para a casa dos meus pais, ela ainda estaria viva. E pensar nisso, me dói na alma.Quando José se virou e atirou, passou um filme na minha cabeça. Porém, esse filme teria um final diferente dessa vez, pois, no momento do tiro, a mulher que eu pensava ser sua cúmplice e estava ao lado de Gizelly, agiu rapidamente. Ela sacou uma arma e deu um tiro na cabeça dele. Tudo aconteceu em questão de segundos. E por um instante eu respirei aliviada, afinal, meu pesadelo havia terminado. Mas logo me lembrei de Gizelly, e assim que a vi caída, corri até ela desesperada. Eu temia por sua vida, ela não devia ter se arriscado por mim. Gizelly estava desacordada e sangrava muito. O tiro acertou seu abdômen. A mulher estava ao telefone. Parecia estar chamando a ambulância.
- Gizelly, acorda. Por favor! Por que você fez isso...por favor, não desista agora. - me agachei ao seu lado enquanto minhas lágrimas caíam.
- Já chamei a ambulância, eles estão vindo. Eu disse para ela não entrar. - a mulher falou me observando agachada perto dela. Ainda era possível sentir seu pulso, fraco, mas ainda dava para sentir.
- Era pra ser eu. Não ela. - Não vou suportar se algo acontecer com ela. Gizelly não merece morrer por minha causa.
- Calma moça! Vai dar tudo certo.
Eu já não ouvia nada do que aquela mulher me dizia, segurava as mãos de Gizelly e pedia pra Deus salvar a vida dela, assim como um dia ela também salvou a minha.
*****
A ambulância não demorou a chegar, fizeram os primeiros socorros, a colocaram com cuidado dentro do veículo e Eusébio foi acompanhando a irmã. Descobri que a suposta cúmplice de José era na verdade uma policial disfarçada, policial Andrade. Ela estava na cola do José há algum tempo, mas só agora conseguiu pegá-lo. Ela tomou o meu depoimento e me avisou que outros policiais invadiram o galpão que era de José. Fiquei feliz por saber que algumas pessoas foram resgatadas antes de serem vendidas, e outros cúmplices de José foram presos. Diferente da Gizelly, ele morreu na hora. O tiro da policial Andrade foi certeiro. Confesso que apesar do susto na hora, não senti pena nenhuma disso.
Agora estou na casa de Manu com Sofia em meus braços. Eu queria muito ter ido para o hospital, mas minha filha também precisava de mim. Ela estava bastante assustada com tudo. Se tremia e chorava de soluçar. Meu coração apertava ao vê-la assim.
- Meus pais estão indo para o hospital. Gizelly entrou para a sala de cirurgia. - a menor avisou se sentando ao meu lado. Eu nem sei com que cara vou olhar para os pais deles.
- Se vocês quiserem ir pra lá, eu fico aqui com a Sofia. - Vitória sugeriu surgindo na sala, e Manu e eu nos encaramos. Eu queria ir. Mas não sei se quero deixar minha filha aqui sozinha.
- Mamãe, eu quelo a tia Gi...cadê ela? - Sofia voltou a chorar me abraçando.
- A tia Gi tá no médico, meu amor. - me segurei para não chorar também.
- Busca ela, mamãe. Pu favô... - minha pequena disse chorosa enfiando o rosto em meu peito e eu a abracei mais forte.
*****
Sofia chorou até pegar no sono. Assim que ela dormiu, a deixei com Vitória e fui para o hospital com Manu. Gizelly ainda estava em cirurgia. Não tínhamos notícias. Dona Márcia não me dirigiu a palavra em nenhum momento, na verdade sequer olhou na minha cara, e ela tem todos os motivos do mundo pra isso. Por minha causa, sua filha estava agora numa mesa de cirurgia, correndo risco de vida. Me afastei um pouco deles e fui para um outro canto. Porém, não fiquei por muito tempo sozinha.
- Como você está? - seu Roberto perguntou me entregando um copo com água ao me ver inquieta.
- Péssima. Me perdoa por isso. Não queria que nada disso tivesse acontecido. Se eu tivesse ido embora, sua filha não estaria aqui agora.
- A culpa não é sua, Rafaella.
- É sim. Isso é tudo culpa minha. Minha mãe sempre falou para não me envolver com o José. E eu não dei ouvidos. - me lamentei e seu Roberto me abraçou carinhosamente. Não consegui segurar algumas lágrimas que caíam. Por alguma razão, me senti protegida ali. Sentia como se estivesse abraçando meus pais. E essa sensação me fez desabar ainda mais. Eu queria tanto a minha mãe e meu pai aqui agora.
- Vai ficar tudo bem. - ele me consolava, quando na verdade era eu quem devia fazer isso.
- Eu não vou me perdoar se algo acontecer com a Gizelly...
- Rafaella...
- Não. Não vou!
- Você fugia daquele homem? Não precisa responder se não quiser.
- Sim. - Respondi em um sussurro. Em seguida, lhe contei resumidamente tudo o que aconteceu comigo durante esses quatro, quase cinco anos, desde que eu o conheci.
- Meu Deus! Você já passou por tantas coisas... Você é muito forte, menina.
- Eu tento. Faço tudo pela minha filha. Hoje a Sofia é tudo o que eu tenho!
- Não. Você também tem a gente. Nós somos sua família agora, Rafaella. - ele diz e sorri.
- Por minha causa sua filha pode morrer, e mesmo assim você ainda me quer na sua família?
- Eu já disse que não é sua culpa. E você e a Sofia já são membros da nossa família. Vocês não têm mais escolha. - falou me abraçando novamente e eu retribui - Tá mais calma?
- Vou ficar quando souber notícias de Gizelly! - sorri fraco.
Voltamos para perto das outras pessoas e todos esperavam notícias com o coração na mão. O tempo passava devagar, quase arrastando. Até que avistamos Marcela no corredor vindo em nossa direção, e para piorar toda a tensão, ela estava chorando.
E eu já esperava o pior. Lágrimas caiam do meu rosto. Quando ela chegou perto da gente, eu só queria me levantar e sair correndo. Sem destino, sem direção. Eu não queria escutar que eu tinha acabado com a vida de mais uma pessoa.
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Meu Pequeno Problema
FanfictionGizelly não acredita no amor, nem do que ele é capaz de fazer, até o destino resolver colocar em seu mundo uma menininha linda de quatro anos de idade, que lhe mostra que o amor pode surgir quando menos se espera. Aviso: Gizelly G!P (se não gostam...