Skulls

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Olho em volta totalmente perdida, ainda me sinto deslocada nesse meio mesmo depois de cinco anos e meio. Vejo parentes, familiares, amigos dos outros formandos, orgulhosos, por um instante os invejo.

Para conseguir entrar em uma faculdade foi um perrengue, sou a mais nova de seis irmãos, nenhum fez faculdade, três estão presos, dois são vadios mesmo assim são os orgulhos da família disfuncional, classe c.

Ralei pra cacete enquanto era a zuada do bairro, da escola, era apenas a preta favelada cheia de ilusão.
Quando contei que passei no vestibular, consegui bolsa de 100% riram de mim, disseram que eu era ridícula, para a minha família favelado só tem esses caminhos o tráfico, prostituição, quando se é preto e favelado além das duas opções tem a cadeia ou lamber os pés dos favorecidos, fui ridicularizada por buscar um futuro melhor, complicado, saía as cinco da manhã pro trabalho em uma fábrica de produtos de papel o expediente terminava as cinco da tarde, de uniforme mesmo corria pegar o busão pra chegar as seis e meia na faculdade, muitos torciam o nariz por eu ainda está de uniforme, as vezes manchado de cola, tinta, com semblante cansado, parecia um alienígena no meio de jovens revigorados, que claramente tinham uma boa vida, uma boa noite de sono, boa alimentação, alguns nunca precisaram trabalhar a maioria é bancados pelos pais.

Muitas vezes me perguntava "o que estou fazendo aqui?" A vida difícil me ensinou a ser persistente, mesmo com todos perrengues fui a melhor aluna da faculdade, só não fui oradora porque não ia pegar bem para os filhinhos de papai uma Zé ninguém discursar, ouvi da boca de uma paty que seria um absurdo uma favelada ser oradora, uma humilhação, nem rebati estava esgotada só queria me formar logo. Tiro a beca e devolvo na diretoria da faculdade, pago o aluguel e dou um tchau tímido, não vou a festa primeiro porque não tenho o absurdo da quantia em dinheiro que estavam pedindo, segundo porque não sou bem vinda não faz sentido ir comemorar com um bando de gente falsa, em fim estou livre posso continuar atrás dos meus sonhos.

Sorrio com o diploma nas mãos, o ônibus chega mostro ao motorista alegre que consegui me parabeniza, nessa jornada fiquei amiga dos motoristas e varios passageiros, olhando a paisagem fico perdida em pensamentos preciso encontrar uma maneira de colocar todo esse conhecimento em prática, não quero um diploma de enfeite, quero usar tudo que aprendi, estou empolgada.

Me despeço do seu Pedro motorista, encaro a ladeira que vou ter de enfrentar respiro fundo e começo a subir, chego em casa me dá um aperto no coração minhas coisas estão pro lado de fora espalhadas sinal que foram jogadas, meu padrasto sorri e me joga u pacote de sacos de lixo, meus pais são separados, mamãe arrumou um marido que não me suporta já me agrediu várias vezes e minha digníssima mãe nunca me defendeu, enfim estou sendo expulsa de casa:
- Já que a rolha de poço conseguiu o tal diploma, tá toda metida a besta se achando superior vaza, se manca é só uma favelada inútil, não vai ser ninguém, uma parasita de merda, rala pé aqui tú não mora mais.
O nojento cospe as palavras na minha cara, mamãe desdenha com o olho roxo, apanha da desgraça e mesmo assim não o larga e aí de quem dá em cima dessa coisa horrorosa, dona Estela faz barraco, sorri e faz gesto de adeus o alecrim dourado dela a puxa beija e aperta o traseiro de maneira vulgar, toda trabalhada no deboche dá um gemido forçado, só suspiro pego os sacos e enfio meus pertences dentro e saio, vou até o cortiço da vila apesar de ser bem tarde a proprietária me atende, consigo um quarto com banheiro, aluguel baratinho, por enquanto vou continuar na fábrica até consegui abrir meu próprio negócio essa é a minha meta.

Me formei em administração tenho sonho de ter um negócio próprio, agora que não tenho despesas em casa posso poupar um dinheirinho, não importa quanto demore vou conseguir realizar meus sonhos.