Graças aos deuses, o clima de Arnhil esquentou durante a tarde. A temperatura subiu, o meu corpo agradeceu fielmente por isso. Eu e o Jeon almoçamos na sala de banquetes, treinamos, eu tive minhas aulas e finalmente, no fim do dia, nós nos sentamos no jardim pra ter aquela conversa longe de qualquer guarda do castelo.
—Então, o que tem pra me falar? — pergunto.
Estou sentado em um dos bancos de madeira perto do muro do castelo, com as costas apoiadas no tronco de uma árvore. O Jeon está sentado ao meu lado.
—O que quer saber especificamente?
—Tudo.
—Não posso te contar tudo que sei — sorri de lado. — Escolha um assunto e eu digo o que acho necessário você saber.
—Esse não foi o nosso combinado.
Odeio quando ele faz isso, quando se finge de desentendido. Ele é tudo, menos desentendido, e isso vale pra tudo.
—Nós não tivemos um combinado, Kim — desvia o olhar pro céu e fecha os olhos quando uma brisa suave bagunça o seu cabelo. — Você apenas citou ordens como o seu pai sempre faz.
—Está mesmo me comparando com o meu pai? — sinto a indignação.
—Se quiser ter um amigo sincero, essa é a minha condição: vou falar apenas o necessário — me encara novamente. — Mas se quer apenas informações de um guarda que vai obedecer qualquer ordem que você ditar, eu conto tudo que sei.
Chantagem.
Ele sabe que eu me sinto confortável com ele, que o trato como um amigo — mesmo não confiando cem por cento em tudo que diz —, mas, mesmo assim, está fazendo essa chantagem ridícula. Eu sou mesmo um trouxa.
—Diga o que acha necessário sobre os Ravoks — resmungo.
Ele sorri de lado, satisfeito. Ridículo.
—Bom, sei tanto quanto você sabe agora — dá de ombros. — São criaturas estranhas, com sede de sangue, que extrapolam qualquer limite se estiverem com fome — desvia o olhar novamente. — E sei que sentem cheiro de Landors à quilômetros de distância e que ficam loucos quando acontece.
—Se o motivo for esse, por que eles só invadiram agora? E o ataque foi em Osyra e Valandor, está me dizendo que todos eles sentiram o cheiro? — franzo o cenho.
—Ravoks são seres transitórios, Kim. Eles andam em bando, passam temporadas em lugares e então se mandam. Eles têm uma espécie de comunicação ou algo do tipo, é como um uivo silencioso que apenas eles escutam — fica em silêncio por alguns segundos. — Acho que li isso em algum livro, posso conseguir ele pra você.
—Vai ser ótimo — me empolgo com a ideia.
—Sua sede de informações vai acabar te sabotando — olha de soslaio para mim. — Muita sabedoria é burrice.
—Como perdeu toda a formalidade comigo? Ainda sou o seu Príncipe — arqueio uma sobrancelha e ele sorri de lado.
Vira de frente para mim e se aproxima como se fosse me contar algum segredo. Me aproximo um pouco mais e ele sussurra:
—Você é o meu Príncipe, mas sei que não vai ser um idiota como o seu pai.
Sinto um nó se formar no meu estômago. Me afasto depressa e reviro os olhos. Ele sorri vitorioso.
—Fale sobre a Floresta Sangrenta agora — minha voz sai mais baixa do que eu gostaria. Droga.
—O que quer saber, Príncipe?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lumina
RomanceNão me lembro ao certo a última vez que tive uma vida tranquila. Desde que minha mãe morreu, algo em mim apagou pra sempre e eu passei a empurrar os dias pra frente como se isso não me destruísse cada vez mais. O meu pai ficou ainda pior quando ela...