5 dias

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Saíram da delegacia um pouco depois da hora do almoço... Se os tempos fossem um tanto mais antigos. Pierre com certeza seria internado no manicômio mais próximo, em algumas possibilidades, provavelmente teria uma lobotomia afundada em seu cérebro. Não desconfiaram da gata, nem sequer sabiam das brigas que se passavam na casa.

O menino foi parar na casa da tia, irmã de sua mãe, que com certeza fora o único parente decente para cuidar do menino mesmo que temporariamente. Não se soube do paradeiro de Adam, o que realmente não é relevante, mas as autoridades estavam numa busca incessante após verem ele como principal suspeito. A casa provavelmente seria herdada para o menino depois que novamente liberada.

A casa da tia era um lugar relativamente bom, nostálgico... Bonneville lembrava das poucas vezes que visitaram na infância. Lembrou principalmente de quando era paparicado por Amélie, que não tinha capacidade de ter um filho gerado por seu próprio ventre de formas convencionais. Diferente da arrependida, Amélie era uma mulher grata apesar de tudo, e se tornava mais grata ainda ao saber que não teria o mesmo destino da irmã.

A casa era um tanto menos ampla, porém, o quintal era uma compensação e facilmente caberia algumas dezenas de coelhos com espaço para todos não se sentirem espremidos nos outros. Lotte iria amar aquele lugar todo para correr, apesar de quase nunca ter saído da casa onde morava para quaisquer aventura.

A tia era quase idêntica à Adélia, exceto pelo cabelo tingido de vermelho num corte curto tão liso que escorria de qualquer tentativa de amarra e a falta de algumas rugas em seu rosto. Pele branca tão branca quanto porcelana. Apenas dois anos mais velha, apesar de possuir uma aparência um tanto mais jovem.

Ela já esperava o menino do lado de fora. Numa expressão indiferente que só foi quebrada após ver o menino. Ela sorriu com as mãos pousadas em cima do tecido em seu lindo vestido florido. Lotte estava numa caixinha de transporte, inquieta e miando, talvez com medo da mudança repentina e obrigatória. Ela não entendia o que estava acontecendo, mas sempre ficava quieta quando estava no colo de Bonneville.

A varanda estava limpa, com sinais claros de a limpeza ter sido feita a pouco tempo, sequer havia um mínimo resquício de poeira. O quintal sem nenhuma grama desnecessária. Adentro, a sala, com um pequeno sofá rosa com capacidade para no máximo 3 pessoas magras, não tinha necessidade de mais, a mulher morava sozinha. Não tinha televisão, apenas uma estante cheia de decorações e uma peculiar cabeça de cervo empalhada numa moldura na parede. Ao lado, Pierre notara o rabisco de tinta clareado pelo tempo que fizera em sua penúltima visita aos 9 anos de idade. Ele encarou por um tempo, pensando em como um rabisco tão feio não havia sido apagado propositalmente.

Possuía três quartos, sendo dois adequados para uso, um de Amélie e um para o acúmulo de tralhas, lembranças e outras coisas que Amélie nunca iria lembrar ou precisar. Poderia ser considerada uma acumuladora, mas não compulsiva.

Diferente da outra, a casa não fedia. Seu interior era na verdade nítido a ausência de qualquer cheiro além de um incenso acesso na mesa de canto ao lado do sofá antes citado. E acima mais ao lado, um quadro dela e da irmã muito mais jovens junto da mãe e pai falecidos.

Após três passos o menino soltou das costas a mochila que carregada com mínimos pertences dele e de Lotte, que também foi posta ao chão.

Amélie mascarava os sentimentos como podia. O acontecido fora realmente um baque enorme para todos que restavam em sua família, sendo apenas ela.

A gata foi liberta novamente quando o quarto de estadia de Pierre foi apresentado. Um pouco menor que o anterior dele. Paredes completamente brancas e sem desenho. Um guarda-roupa rústico de três postas e duas gavetas que se abriam com dificuldade. Felizmente não estava empoeirado. A cama não era muito extensa e estava coberta com um lençol azul de mesma tonalidade daqueles de hospital com dois travesseiros finos e macios.

Naquela noite, fora a primeira vez em muito tempo em que o pálido experimentou uma refeição com gosto tão diferente. O tempero estava em ótima quantidade e as opções também eram variadas; Macarrão com molho de tomate separado, salada com não apenas alface, bolinhos de carne e suco de laranja de gosto agradável.

Lotte estranhas o ambiente em cada passo e rosnava para a mulher. Pierre teve que mantê-la nos braços o tempo todo para evitar mais estresse dela. Ele odiava a ideia de que ela fosse ficar presa num lugar tão pequeno por mais tempo. Ela também fora alimentada.

21:49

As luzes da sala permaneciam acessas durante a noite para deixar a casa mais confortável. Amélie dormia cedo, ao contrário do sobrinho, que ainda estava acordado com a gata ao lado já bastante calma

Pierre só saiu do quarto quando sentiu fome o suficiente. Dobrou usando relativa força as pernas da mãe e conseguiu fechar a porta do banheiro. As moscas ainda não rodeavam a mulher, mas logo viriam. A casa estava com o mais puro cheiro de carne fresca e podridão do gordo Adam. Lotte ainda não queria sair do quarto. Já o menino foi direto para a cozinha, mas especificadamente para abrir a geladeira e procurar algum resto da comida dos dias anteriores. Achou apenas as cervejas do padrasto, água, tomates velhos e um tanto de amendoim. O armário estava mais cheio do que isso. Ele pegou duas latas de atum de lá. Comeu uma inteira e serviu a outra para a gata.

Bonneville ficou um total de sete dias com o corpo da mãe se decompondo no banheiro e com a sujeira na casa. Provavelmente emagreceu pouco nesse tempo por se preocupar mais com a alimentação da gata do que com a dele, porém, sua alimentação quando a casa tinha três pessoas vivas também não era tão abundante.

A ligação foi feita pela vizinha após sentir e desconfiar do prolongado cheiro podre. A janela do banheiro da casa de Adélia era posicionada na direção do quintal dessa mulher. Também notaram a ausência da mulher na igreja. Dois polícias chegaram no local da ligação; Um moreno alto que parecia ter cerca de um metro e setenta de altura. De aparência que aparentava ter talvez seus quarenta e sete anos de idade. Esse possuía uma cicatriz pequena no canto da boca e um outro mais escuro e mais alto.

A porta da frente da casa estava devidamente trancada, mas a dos fundos, que Adam usou para sair estava desprotegida. O mais alto foi o que abriu a porta. Abriu devagar e pouco, apenas o suficiente para conseguir ver dentro por uma pequena abertura e fez uma cara feia quando sentiu uma pequena parte do cheiro. Encontraram Pierre vendo o primeiro canal da televisão desde quando a ligou. Era um programa esquisito daqueles onde o apresentador contava piadas. Risos altos podiam ser escutados. Um prato de amendoim estava na pequena mesa proxima ao sofá onde o menino estava. O cheiro da casa era delirante. Estava infestada de moscas, mosquitos e larvas nos dejetos já endurecidos de Adam. Lotte amava aquelas larvas. Amava o gosto delas e brincava quando elas se movimentavam muito.

Mãos foram postas acima do nariz quando os homens entraram completamente na casa. As necessidades da gata podiam ser vistas em todo canto. Já Pierre preferiu fazê-las na gaveta de seu guarda-roupas. Um sinal de mãos do mais baixo foi dado para o outro, que se afastou e foi revistar outros cômodos. O menino ficou na mesma posição em que estava assistindo aquele programa na televisão enquanto comia amendoins velhos.

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⏰ Última atualização: Feb 20 ⏰

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