Capítulo 11

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Fernanda nunca teve interesse em ganhar a admiração de outras pessoas. Ela não esperava que alguém pudesse se interessar o suficiente para conhecê-la de verdade. A sensação de insuficiência foi o bastante para ela se fechar para qualquer um que tentasse se aproximar. Suas atitudes eram como muros invisíveis que afastavam as pessoas de sua vida, mas Pitel chegou como um martelo – derrubando cada um de seus muros –, e revelando a fragilidade por trás daquela casca de amargura.

O seu desejo de poder encontrar alguém que a fizesse sentir o conforto de externalizar seus sentimentos, era quase que, inteiramente, tomado pelo seu medo de se machucar. Era simples: Se ela não se entregasse por completo, ela não sairia tão machucada no fim. Ela nunca se imaginou dando certo com alguém, talvez por isso, seus poucos relacionamentos não tivessem dado certo.

Seu primeiro namoro foi um desastre. Ambos não faziam bem um para o outro, e eram imaturos demais para estarem juntos. Mesmo com tanto esforço para manter a relação de ambos, Fernanda viu que aquilo não estava sendo saudável para ela, e, muito menos, para ele. Eles eram incompatíveis como namorados.

Seu segundo namoro foi o estopim para sua vida mudar por completo. Apesar de ser muito bem resolvida com sua orientação sexual, engatar um relacionamento com sua ex-namorada foi desconcertante para Fernanda. Ela estava se descobrindo naquele período, ainda estava confusa sobre o que sentia, mas, definitivamente, não estava em sintonia com sua ex. Resultado: outro término nas costas.

Por fim, tudo mudou quando ela conheceu Daniel. Foi o único que conseguiu proporcionar para ela, tudo que ela precisava e merecia. Apesar de não ter durado muito tempo, ambos tinham um carinho imenso um pelo outro, e uma enorme consideração por todo o tempo que haviam passado juntos, tanto que Fernanda foi madrinha do casamento do mesmo, e esteve lá, o prestigiando. Eles eram bons como casal, mas eram melhores como amigos.

E agora chegou Alane, para seguir o paradigma dos relacionamentos de Fernanda: Começar bem e terminar ruim. Antes mesmo de começar, Fernanda já estava pensando em desistir – mesmo que enfrentasse todas as forças de seu ser –, não podia se impor na vida de Alane, que, por sinal, estava tudo muito bem estruturada em sua visão. Aparentemente, ela tinha um ótimo relacionamento com a mãe, não tinha problemas com sua sexualidade, fora que se estava se relacionando com alguém que era tão bonita quanto ela. Fernanda só tinha a perder.

Estava tão absorta em seus pensamentos, que não notou quando Pitel saiu da sacada com uma flor na mão. A cacheada se sentou ao seu lado e começou a fazer "bem-me-quer, mal-me-quer" com a flor, substituindo a frase por: Alane quer a Nanda, Alane não quer a Nanda. Se a carioca tivesse consciente de que aquilo estava acontecendo, ela teria mandando Pitel pra casa do caralho, mas seus pensamentos a deixavam alheia à brincadeira da melhor amiga.

— Eu sabia! — Fernanda sobressaltou na cama ao ouvir o grito de Pitel.

— Tá maluca, garota? — A carioca colocou a mão em seu coração. — Com a idade que eu tô, podia ter tido um infarto! — Mesmo brincando, Fernanda manteve um tom sério.

— A Alane te quer! — Quando notou a expressão de confusão se formar no rosto de Fernanda, Pitel decidiu-lhe explicar: — A flor disse que a bonitinha te quer. — Só então, Fernanda viu algumas pétalas agrupadas na mesinha de cabeceira.

— Ah, Pitel! Vai pra porra! — A carioca revirou os olhos ao escutar a gargalhada da outra.

— É um sinal! — Nunca foi supersticiosa, mas adorava implicar com Fernanda em qualquer oportunidade.

— Para de loucura, garota! — Fernanda não pôde não rir da palhaçada de Pitel.

— Tu que tá doidinha por ela. — Carregou as pétalas para o lado de fora, deixando-as em uma parte do canteiro de flores. — Vou bater pontcho na recepção. — Adentrou novamente no quarto.

— Já tava até demorando pra você descer pra fofocar. — Fernanda encarou a mulher parada em frente à porta, já aberta.

— Eu vou trocar informações. É diferente! — Gritou, antes de bater a porta.

— Tá bom, Giovanna Pitel. — Falou para si mesma, enquanto revirava os olhos e dava risada.

Fernanda se viu sozinha no quarto. Seus olhos se fixaram em um ponto no teto, seus músculos se relaxaram e sua respiração estava calma. Evitou pensar em sua incógnita, mas era impossível, quando o quarto estava tomado por um completo silêncio. Não tinha nada que pudesse ocupar a mente da mulher, naquele momento, então decidiu escutar alguma música – talvez, a música, pudesse fazer sua mente parar de figurar a imagem de Alane.

Ergueu seu corpo para agarrar o celular e os fones de ouvidos, que estavam na mesinha de cabeceira ao seu lado. Colocando um fone em cada lado, Fernanda deu play uma playlist aleatória e se deitou de olhos fechados. Sua tentativa de um momento pacífico foi fracassado quando ela escutou a melodia de uma das músicas de Djavan: Pétala.

— Que caralho! — Tirou os fones, e suspirou, exasperada. — Impressionante, como tudo tem alguma relação com ela. Porra! — Colocou um dos travesseiros em seu rosto.

Quando Fernanda tirou o travesseiro do rosto, seus olhos foram, de forma involuntária, na direção das roupas de Alane. Sua mente se recordou de quando Alane havia lhe emprestado as peças de roupa, também se recordou do cheiro tão excêntrico de Alane: baunilha e flores, mas não eram quaisquer flores. Alane era tão bonita quanto uma flor de lótus.

Sorriu ao fazer essa associação, já que a flor tinha tudo a ver com a paraense. O significo da flor de lótus é: "pureza espiritual", e mesmo sabendo pouco sobre essa característica em Alane, Fernanda já admirava sua devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Lembrou-se de uma vez que leu sobre literatura clássica asiática, relembrando que em algumas culturas da Ásia, essa flor pode também simbolizar a elegância, beleza, perfeição e graça. Tudo isso pode ser, facilmente, atribuído à Alane. Sem esquecer de mencionar que é uma flor aquática, e Alane adora água mais do ninguém.

Sendo assim, Alane era tão delicada quanto uma flor de lótus.

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Demorou, mas voltei com mais um capítulo.

O bloqueio criativo me atingiu em cheio, mas surgiu uma pontada de criatividade hoje, e eu não desperdicei.

Espero que tenham gostado do capítulo, achei curto, mas o próximo vai ser recompensado.

[não revisado]

Sereia - Alane e Fernanda.Onde histórias criam vida. Descubra agora